A bomba

Geraldo Magela Teixeira, Reitor do Centro Universitário UNA
Entrou na pauta de algumas discussões pós-eleitorais em Belo Horizonte o problema da bomba nas escolas. Volta-se à reprovação ou se mantém um tipo de aprovação automática, que acaba ocorrendo também por meio de mecanismos de disfarce, como a segunda época e a recuperação. O que muitos querem é o retorno da velha bomba, que retinha o aluno numa série, num ciclo ou mesmo o deixava na “dependência” em alguma disciplina. Nas faculdades, sentimos o drama de alunos suplicando aos professores, pontos a mais, o suficiente para salvá-los da repetição. Como se aqueles pontos tivessem o poder mágico de agregar-lhes os conhecimentos que não absorveram ao longo do ano, ao longo do semestre.

Da discussão da bomba é fácil entrar na discussão da escola plural, de tantas escolas surgidas ao longo dos tempos na eterna procura de uma forma de ensinar que seja mais fácil, que torne menos penoso o aprendizado, quem sabe até prazerosa a atividade de aprender. Eu não gosto dessa discussão, que em Belo Horizonte acaba recaindo sobre as virtudes ou vícios da chamada escola plural, para muitos, responsável pela degradação de nosso ensino básico. Eu gosto de simplificar as coisas. Para mim, existem apenas duas escolas: a escola que ensina e a escola que não ensina. Eu já disse muitas vezes aqui que hoje todos passam, inclusive os chamados analfabetos funcionais, que costumam chegar às universidades e aos diplomas. Aí vem a pergunta crucial: por insuficiência no aprendizado o aluno deve ou não deve ser retido na escola, na série, na disciplina? Começamos pelo início de tudo: a alfabetização/letramento. Penso que as crianças mineiras têm sido mal avaliadas nos testes nacionais, internacionais porque nossas crianças em grande parte não têm sido alfabetizadas. Não vale culpar o método, vale constatar, como fez a pesquisadora Eunice Durham, que os nossos cursos de pedagogia não ensinam a ensinar. Daí termos um número tão pequeno de verdadeiras e eficientes alfabetizadoras. Perguntei a uma professora, das melhores alfabetizadoras da cidade, onde aprendeu o seu ofício. Ela confessou com tranqüilidade que aprendeu sozinha, trabalhando sempre em zona de risco com crianças sem famílias estruturadas, tendo que fazer a sua parte e a parte dos pais. São jornadas de 10, 12 horas preparando aulas, material didático, recortando jornais e revistas, abrindo interlocuções direta com cada aluno, atenta às diferenças, impondo limites e premiando com afeto e ternura. Assim, ninguém é retido porque todos são alfabetizados no tempo adequado.

O que mais falta na escola fundamental são alfabetizadores competentes, bem pagos, sobretudo os que trabalham em área de risco. Quanto aos outros níveis de ensino, precisamos também de bons professores, pois, além da pedagogia, as licenciaturas não ensinam a dar aulas. Seria interessante proceder-se a uma prova de nivelamento no primeiro ciclo de cada grau de ensino para detectar os alunos menos preparados. Estes devem ser acompanhados, se possível, por um segundo professor na sala para que eles acertem o passo para parelhar com os colegas. O Trabalho Dirigido Interdisciplinar (TDI) poderia ajudar em permanentes nivelamentos. Cada aluno deve ser promovido pelo conjunto dos seus saberes e avaliado por todos os professores do ciclo. Isso evitaria a retenção por alguma deficiência em uma disciplina às vezes não tão importante para a sua continuidade. O aluno retido detesta repetir a matéria, costuma sair-se pior numa segunda vez, isso se não abandona a escola. Vai se arrastando no aprendizado, vai se arrastando na vida.

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