PICHADORES

Castigo para quem suja
Ministério Público identifica vândalos que poluem a cidade e começa a aplicar punições aos integrantes das gangues que atuam principalmente na Região Centro-Sul da capital
Bernardino Furtado
Sidney Lopes/EM/D.A Press - 13/11/08
Muro do Colégio Estadual Central, no Santo Antônio, alvo dos grupos formados por adolescentes

A investigação sobre gangues de menores de idade de Belo Horizonte que usam a internet para fazer apologia da pichação, do uso de armas de fogo e de drogas começou a colher os primeiros resultados. Nos últimos dias, a Coordenadoria de Combate aos Crimes Cibernéticos do Ministério Público Estadual (MP) encaminhou ao Juizado da Infância e da Juventude quatro adolescentes, todos de classe média alta, identificados graças ao monitoramento de imagens no site de relacionamento Orkut. Três deles confessaram a autoria de pichações nos bairros Buritis e São Bento. O quarto negou ser pichador, mas admitiu que é o rapaz que aparece numa fotografia no Orkut com uma tarja nos olhos e um revólver na mão diante de um espelho rabiscado.

Segundo a promotora Vanessa Fusco, que coordena a investigação, mais oito adolescentes serão ouvidos nas próximas semanas. Ela explicou que, apesar da negativa, há provas de que o garoto da arma participou de pichação nos muros dos colégios Santo Tomás de Aquino, no São Bento, e Coração de Jesus, no Funcionários. O menor, que assina as pichações com a alcunha de ‘Shot’, e um comparsa, também ouvido pelo MP, moram em apartamentos de alto padrão no próprio Bairro São Bento, um dos mais nobres da Região Centro-Sul de Belo Horizonte.

A situação de Shot, por sinal, é a mais grave. Além de recuperar a pintura dos prédios pichados, tende a ser penalizado com multa e a obrigação de prestar serviços à comunidade por um determinado período, segundo a promotora. Isso porque ele tem uma passagem recente pela polícia. Em outubro, foi apreendido por porte ilegal de arma e passou uma noite nas dependências da Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad). O menor estava em um restaurante do São Bento com o revólver ostensivamente colocado à sua frente, sobre a mesa. Apavorados, clientes das mesas vizinhas chamaram a polícia.

Um dos rapazes ouvidos, morador do Buritis, na Região Oeste, já acertou as contas com a lei. Antes mesmo de ser levado à presença de um juiz, seus pais comprovaram ter custeado a recuperação de paredes e de muros que o garoto havia pichado nas redondezas de casa. Um colega, residente no Bairro Floresta, mas que pichava no Buritis, aguarda a audiência na Justiça para saber que medidas punitivas terá de cumprir. Segundo Vanessa Fusco, no caso das pichações no Santo Tomás de Aquino e no Coração de Jesus, o MP solicitou à direção dos colégios um orçamento da recuperação da pintura dos muros externos para estimar a extensão do dano a ser pago pelos pichadores.

Criada em junho deste ano, a Coordenadoria de Combate aos Crimes Cibernéticos armazenou cerca 300 mensagens postadas no Orkut por integrantes de grupos de pichadores. Além de textos, alguns assinados com apelidos, contêm imagens dos próprios pichadores em ação, exibição de armas de fogo, de munição, de dinheiro e de substâncias apresentadas como cocaína e maconha. A equipe da coordenadoria concluiu que há cerca de 10 gangues desse tipo em ação na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.




EDUCAÇÃO
O uso da internet pelas gangues está associado à compulsão dos jovens pichadores de dar visibilidade à própria ousadia, seja para impressionar colegas ou, principalmente, integrantes de grupos rivais. A investigação do MP descobriu que, além da pichação, a garotada resolveu exibir na rede internacional de computadores o namoro com crimes mais graves, como o assalto à mão armada.

O trabalho dos promotores de Belo Horizonte chamou a atenção da filial brasileira da Microsof, que desenvolve um trabalho de educação de jovens para o uso seguro da internet. A empresa firmou uma parceria com o MP no início deste mês para a realização de um programa de palestras sobre o tema em escolas de Belo Horizonte.

Já às vésperas do fim do ano letivo, houve tempo suficiente para um colégio particular, o Santo Tomás de Aquino, e um público, a Escola Estadual Paschoal Comanducci, no Bairro Jaqueline, na Região Norte. No Colégio do São Bento, as apresentações do diretor de assuntos jurídicos e corporativos da Microsof Brasil, Rinaldo Cesar Zangirolami, e da promotora Vanessa Fusco atraíram, além dos alunos, cerca de 50 pais.
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