Objetivos da ação do FSM 2009

As diversas atividades autogestionadas do FSM serão realizadas em torno de um entre os 10 objetivos a seguir, definidos, após a realização de uma ampla consulta pública às diversas organizações e entidades participantes do processo FSM:

1-Pela construção de um mundo de paz, justiça, ética e respeito pelas espiritualidades diversas, livre de armas, especialmente as nucleares;

2-Pela libertação do mundo do domínio do capital, das multinacionais, da dominação imperialista patriarcal, colonial e neo-colonial e de sistemas desiguais de comércio, com cancelamento da dívida dos países empobrecidos;

3-Pelo acesso universal e sustentável aos bens comuns da humanidade e da natureza, pela preservação de nosso planeta e seus recursos, especialmente da água, das florestas e fontes renováveis de energia;

4-Pela democratização e descolonização do conhecimento, da cultura e da comunicação, pela criação de um sistema compartilhado de conhecimento e saberes, com o desmantelamento dos Direitos de Propriedade Intelectual;

5-Pela dignidade, diversidade, garantia da igualdade de gênero, raça, etnia, geração, orientação sexual e eliminação de todas as formas de discriminação e castas (discriminação baseada na descendência);

6-Pela garantia (ao longo da vida de todas as pessoas) dos direitos econômicos, sociais, humanos, culturais e ambientais, especialmente os direitos à alimentação (com garantia de segurança e soberania alimentar), saúde, educação, habitação, emprego, trabalho digno e comunicação;

7-Pela construção de uma ordem mundial baseada na soberania, na autodeterminação e nos direitos dos povos, inclusive das minorias e dos migrantes;

8-Pela construção de uma economia democratizada, emancipatória, sustentável e solidária, com comércio ético e justo, centrada em todos os povos;

9-Pela construção e ampliação de estruturas e instituições políticas e econômicas (locais, nacionais e globais) realmente democráticas, com a participação da população nas decisões e controle dos assuntos e recursos públicos.

10-Pela defesa da natureza (Amazônia e outros ecossistemas) como fonte de vida para o Planeta Terra e aos povos originários do mundo (indígenas, afro-descendentes, tribais, ribeirinhos) que exigem seus territórios, línguas, culturas, identidades, justiça ambiental, espiritualidade e bom viver.

Para o FSM 2009, também será possível inscrever atividades de troca de experiências, balanço dos movimentos altermundialistas e do processo Fórum Social Mundial e sobre as perspectivas futuras de ambos, que não se vinculem necessariamente a um desses 10 objetivos específicos.

A elite, como sempre, quer ''corte de gastos''


Os empresários seguem a risca o ditado de ''quem não chora não mama''. Diante da grave crise da economia capitalista, eles querem jogar seu ônus sobre as costas da sociedade, em especial dos trabalhadores. Durante o ciclo de bonança, abocanharam os lucros sozinhos. Agora, em tempos ruins, querem dividir os prejuízos ou, se puderem, aumentarem ainda mais seus lucros.

A caradura dos capitalistas, maiores responsáveis pela atual crise - com seus dogmas neoliberais do ''estado mínimo'' e da total desregulamentação financeira - é impressionante. Eles afundaram a economia e querem que os trabalhadores paguem o pato.

Nas últimas semanas, a mídia hegemônica alardeia a proposta do ''corte dos gastos públicos''. Os empresários são beneficiados com novas linhas de crédito e redução do compulsório que os bancos são obrigados a depositar no Banco Central, medidas que já injetaram bilhões nas empresas. Mas a burguesia exige mais: quer arrochar os servidores públicos, abortar a valorização do salário do mínimo, penalizar a Previdência e reduzir os ''gastos sociais'' do governo. Segundo Jorge Gerdau, o barão da siderurgia, este gastos ''são inúteis'', que deviam ser cortados para ''garantir mais crédito aos investimentos e às empresas''.

A proposta do ''corte dos gastos'' evidencia a ganância destrutiva dos capitalistas. Os adoradores do ''deus-mercado'', partidários da ''mão invisível (e cruel) do mercado'', não enxergam que a redução dos investimentos públicos - seja na Previdência, no salário mínimo ou no programa Bolsa Família - restringirá ainda mais o consumo da sociedade, com impacto negativo na produção e, de quebra, no emprego e renda. Um círculo vicioso, satânico, que dificultaria ainda mais a saída da atual crise econômica. Serviria apenas aos especuladores, os culpados pela crise.

A cegueira dos empresários, difundida pela mídia burguesa, é tamanha que eles não ouvem sequer os conselhos de renomados economistas e nem observam os movimentos inversos realizados até por outras nações capitalistas. Até nos EUA, pátria da desregulamentação, o governo apresentou pacote estimulando o consumo da sociedade e elevando os gastos públicos. Para o jornalista Paul Krugman, ganhador do Premio Nobel de Economia, ''no momento, aumentar os gastos públicos é a decisão acertada a ser tomada pelo governo dos EUA. Do contrário, a recessão será mais cruel e longa''.


Guarde este nome


O guitarrista Matheus Barbosa, que completa 18 anos amanhã, é considerado por músicos experientes uma das melhores promessas da música instrumental mineira
Eduardo Tristão Girão
Beto Magalhães/EM/D.A Press
Matheus Barbosa reconhece influências do jazz norte-americano e da música do Clube da Esquina
Quem acompanha a cena instrumental belo-horizontina já se acostumou a ouvir certos nomes. A lista é longa e inclui músicos como Toninho Horta, Juarez Moreira, Chico Amaral, Weber Lopes, Neném, Enéias Xavier, Beto Lopes, Limão, Ivan Corrêa, Cléber Alves, Magno Alexandre e Mauro Rodrigues. De uns tempos para cá, outro nome começou a chamar a atenção, tanto pela novidade quanto pela unanimidade: o do guitarrista Matheus Barbosa. Prestes a completar 18 anos (seu aniversário é amanhã), esse verdadeiro garoto-prodígio foi emancipado pelos pais para sair de Ipatinga, sua cidade natal, e lutar pela carreira na capital mineira, onde chegou no fim de 2006.

“Dois anos parece ser muito tempo, mas não é. Não trabalho tanto quanto os veteranos que estão aqui a vida inteira, mas o pessoal já começa a me chamar para shows instrumentais”, comemora o jovem artista. Vencedor do prêmio BDMG Jovem Instrumentista no ano passado, atualmente ele integra os grupos do baixista Enéias Xavier e do baterista Márcio Bahia, além de tocar ocasionalmente como convidado em apresentações de gente como o saxofonista Chico Amaral e o guitarrista Beto Lopes. Batista, ele também faz parte do grupo que acompanhará a cantora gospel Mariana Valadão em seu novo trabalho, ainda inédito. Ele ainda dá aulas particulares e na escola Pro-Music.

Matheus teve a sorte de nascer numa família musical. “Meu avô e minha mãe cantam, meu pai já foi assíduo instrumentista da igreja, minhas tias todas cantam ou tocam e minha única irmã, de 12 anos, está estudando bateria”, conta o jovem artista. Com muitos violões, baixo e teclado à disposição em casa, logo começou a ganhar intimidade com as notas musicais. Seu primeiro instrumento foi uma guitarra Samick, dada pelo pai. Foi uma escola de palco muito boa “Aprendi muito em casa, basicamente como autodidata. Fui ter aulas depois de já saber tocar. Aos 11 anos, tive aula com um dos músicos mais conhecidos de Ipatinga, o guitarrista Fábio Monteiro. Admiro demais este cara”, elogia.

Progredindo rápido, aos 7 anos começou a tocar na igreja e, com 13, montou trio instrumental com músicos que tinham mais que o dobro de sua idade. “Hoje não é muito diferente. Semana passada, toquei com Beto Lopes, que é bem mais velho que eu. O mais próximo de mim é o Fred, filho do Affonsinho, de 22 anos, com quem toco de vez em quando. Fora isso, todo mundo tem 30, 40, 50 anos. Aprendo muita coisa com esses caras. Tenho um décimo da experiência deles”, reconhece. Dois anos depois, participou de festival de jazz em Ipatinga dividindo o palco com Paulinho Trumpete, e gravou seu primeiro disco, Naturalmente, incluindo composições próprias. “Quando cheguei no estúdio, o técnico perguntou se eu era o roadie”, recorda.

EMANCIPADO


O caminho para Belo Horizonte só apareceu em sua vida depois de conhecer Enéias Xavier, durante workshop que o baixista ministrou em Governador Valadares. Por pouco isso não aconteceu: “Tinha uns 12 anos, estudava em casa e não sabia nada do que estava ocorrendo em Belo Horizonte. Um amigo me chamou às 7h para ir nesse workshop, que era às 9h”. Matheus gostou tanto da experiência que passou a visitar a capital constantemente para ter aula com o músico. “Desde o início, ele me deu a maior força. Falava que eu tinha que vir para cá mesmo e de vez em quando eu participava de canjas com ele”, lembra.

Foi o próprio Enéias quem ajudou a convencer os pais de Matheus, Israel e Sandra, a deixá-lo se mudar para Belo Horizonte. “Sempre quis vir para cá, mas geralmente meus amigos saíam de casa com 17 ou 18 anos para fazer faculdade. Saí aos 15 para vir tocar e estudar música. Aí, rolava aquele estresse de mãe, preocupação normal. Meus pais sempre me apoiaram. É lógico que rolavam preocupações em relação à vida de músico, mas a minha vinda para cá foi uma questão de oportunidade, como qualquer outra profissão”, observa. A primeira temporada foi passada na casa de um primo, na Pampulha.

Para que pudesse viajar e trabalhar sem dificuldade, os pais o emanciparam. Então, além da guitarra, levava (pois a partir de amanhã não precisará mais) para os shows o documento que comprova sua situação civil. Matheus aprendeu a se virar sozinho e hoje consegue manter sua independência com o dinheiro que ganha em shows, gravações e aulas. “Mas pai é pai, não é? Às vezes ele põe um dinheiro lá no banco para mim”, confessa. Seu principal objetivo é gravar o segundo álbum e colocá-lo no mercado, já que o primeiro serviu como cartão de visitas. “O disco é legal, mas as composições foram feitas quando eu tinha 12 anos”, diz.

“Estou numa fase muito mineira, mais do que sempre fui”, conta Matheus – mestres como Milton Nascimento e Toninho Horta andam freqüentando seu aparelho de som. Um dos seus discos de cabeceira é Breezin’, do guitarrista George Benson: “Foi o disco com o qual eu me interessei pela guitarra jazzística. O disco é até meio pop, mas os solos dele são sensacionais. ‘Guitarristicamente’ falando, Benson é minha maior influência. Escuto até hoje”. Outras preferências são o multiinstrumentista Hermeto Pascoal, os guitarristas Joe Pass e Kurt Rosenwinkel e o próprio Enéias, cujo de disco de estréia, Jamba, ouviu muito na época em que era seu aluno. “A música instrumental é a que eu mais gosto de tocar, com a qual me sinto mais à vontade, mais livre”, conclui.



"Nestes 20 anos de carreira, Matheus é um dos músicos que mais me chamou a atenção. Tem a cultura técnica de um músico experiente. O timing e o fraseado dele não condizem com a idade que tem. É um prazer tocar com ele"

Lincoln Cheib, baterista

"Matheusinho foi uma grata surpresa. Chegou com aquela serenidade e abraçou a causa do nosso quarteto. Ainda tem muito a aprender, mas o talento dele é impressionante. Esse menino ainda vai dar muita alegria para o povo"

Márcio Bahia, baterista


"É um prodígio. Mostra maturidade que é difícil de ver nessa idade e que a gente demora uns 10 anos para ter. Tem energia, cabeça limpa e muita musicalidade. O que falta é experiência"

Enéias Xavier, baixista


"É um garoto especial, já nasceu com maturidade musical. Está ligado nos mais experientes e tem facilidade para captar ‘sotaques’. Quando dei aula para ele foi muito gratificante. Foi fácil demais ensinar o que ele queria aprender"

Celso Moreira, guitarrista


"Não conheço ninguém da idade dele com este talento, humildade e vontade de aprender. Está aprendendo a música boa, está no caminho certo. Improvisa e compõe bem. É um futuro grande guitarrista"

Beto Lopes, guitarrista

"Teatro não é "projeto social de resgate"

Para integrantes de grupos "periféricos" de Rio e São Paulo, visão paternalista reforça estigma e diminui mérito artístico

Nós do Morro e Núcleo Bartolomeu estão em cartaz até amanhã em SP com adaptação de "O Alienista" e musical "Cindi Hip-Hop"


LUCAS NEVES
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Por ingenuidade ou deslumbramento, os personagens da Itaguaí de "Machado a 3x4", adaptação do grupo carioca Nós do Morro para "O Alienista", deixam-se internar pelo renomado psiquiatra Simão Bacamarte para o estudo de suas faculdades mentais. Em "Cindi Hip-Hop", releitura do paulista Núcleo Bartolomeu de Depoimentos para a história de Cinderela, são chefes e tutores intransigentes aqueles a cercear quatro jovens da periferia.
Fora do palco, os integrantes das duas companhias não querem saber de enquadramento -quadros, aliás, são usados em "Machado..." para marcar quem é louco e "diferente".
Reunidos pela Folha para um bate-papo depois da sessão desta peça na última quarta, em São Paulo, eles apontaram semelhanças em seus trabalhos e reclamaram do paternalismo e das infernais boas intenções que procuram caracterizá-los como "projeto social que resgata" -além de encurralá-los numa espécie de "cota" teatral da periferia/morro.
O Nós do Morro foi fundado em 1986, na favela do Vidigal (zona sul do Rio), pelo ator e jornalista Guti Fraga. O Núcleo Bartolomeu, que testa combinações da cultura hip-hop com o teatro épico (definido pelo distanciamento na interpretação e pela presença de narrador), existe desde 1999. O elenco é parcialmente formado por atores da periferia paulistana.
O ator Pierre Santos improvisa uma cena para ilustrar como o Nós do Morro é muitas vezes visto fora do Vidigal.
"Uma coisa que sempre me incomodou é que o jornalista já vai nos entrevistar sabendo o que quer ouvir. Por exemplo, que, se eu não fosse do teatro, seria do bicho", diz, usando um eufemismo.
"Essa coisa "projeto social que resgata", sabe?", explica, para em seguida imitar o personagem-repórter que inventou: "Fala a verdade, você seria do bicho. Fala a verdade, se você não fosse do teatro, você ia estar ali na esquina vendendo alguma coisa? Não é? Você não foi resgatado?'"
"Claro que vai vender muito jornal", diz. "Olha só, o projeto salvou milhões de bandidos."

"É a obra que vale"
A dramaturga e diretora Claudia Schapira, co-fundadora do Bartolomeu, faz coro na crítica à visão "redentora". "O teatro não é bom por causa disso. É essa a questão. É arte. Senão, qualquer coisa que o grupo faça, só porque "tira" as pessoas disso ou daquilo, já é válida. Não é. É a obra que vale."
Ela acha que falta a certa ala teatral disposição para romper com as "expectativas academicistas" e perceber que "mudaram os valores, o ator é outro, tem outra bagagem e formação conquistada por outras vias". "Que os coletivos são profissionais é evidente. Falta reconhecimento, sem categorização."
Para a atriz Flávia Coutinho, do Nós, a estigmatização passa a idéia de "que a gente está brincando, e não exercendo a nossa profissão". "Encararem a gente dessa maneira não é levar a sério. É como dizer: "Olhem lá, os coitadinhos". E não somos."
A busca pelo descolamento desse rótulo não significa, para os grupos, deixar de falar de sua realidade.
"No modelo de teatro tradicional, não tem negro, não tem pobre, não tem hip-hop. É um discurso, uma visão de classe muito determinada: fala de si para si mesma", diz o DJ e coreógrafo Eugênio Lima, do Bartolomeu. "Nosso discurso é pela auto-representação, pela legitimidade na encenação. Eu não outorgo a ninguém o direito de contar a minha história. Ninguém vai contar para mim o que é que eu sinto, o que é ser negro em São Paulo."
É no uso do coro como ferramenta para se apropriar de sua própria história que os cariocas e paulistas vêem a principal interseção entre suas trajetórias.

Thiago Soares



Oscar Cabral


Thiago Soares saiu do subúrbio do Rio de Janeiro, onde dançava hip hop, para integrar o Royal Ballet, a tradicionalíssima companhia londrina na qual ocupa hoje o posto de primeiro-bailarino. Aos 26 anos, filho de um vendedor de carros aposentado e de uma dona-de-casa, Thiago mora em Londres e acaba de virar tema de um documentário da BBC. Ele conversou com a repórter Julia Duailibi.

Quando você decidiu ser bailarino?
Tinha 11 anos quando comecei a dançar hip hop em discotecas com o meu irmão. Eu era um moleque criado solto no subúrbio. Passava os dias dançando com um grupo de rua. Quando tinha 16 anos, fiz um teste numa escola de dança no Méier (bairro na Zona Norte do Rio). Ganhei imediatamente uma bolsa integral. No começo, fazia apenas dança moderna. Depois de quatro meses, a escola me obrigou a fazer balé clássico.

E sua carreira profissional?
Foi no Balé Municipal do Rio, como bailarino convidado. Fui subindo aos poucos na companhia. No começo, fazia todo tipo de papel: representava árvore, segurava bichos. Tive uma vida de esforço.

Quando você se deu conta de seu talento especial?
Em 2001, quando disputei em Moscou o mais importante concurso de dança internacional, em que despontaram Baryshnikov, Nu-reyev e Julio Bocca. Ganhei o ouro. A partir daí surgiram vários convites. Consegui um estágio no Kirov, em São Petersburgo, de onde fui para uma companhia de Moscou, já como primeiro-bailarino. Dancei até na Sibéria. Foi bom, mas queria ir para o centro do mundo.

Como se deu o salto para o Royal Ballet?
Uma ex-professora conseguiu agendar um teste. Mas eu estava a dois dias da estréia de Romeu e Julieta, como bailarino convidado, no Rio, e teria de faltar aos ensaios. Aí falei para minha mãe: "Vou ter de inventar uma mentira, vou ter de sumir". Minha mãe disse: "Meu filho, veja lá!". Um professor ajudou, falou que eu estava com virose. Comprei a passagem, arrumei as malas e peguei o avião. Fiz o teste e consegui um contrato. Voltei a tempo da estréia no Rio. As pessoas perguntaram: "Mas você não está doente?". Aí tive de atuar um pouco, colocava a mão na barriga enquanto dançava.

Quais as dificuldades para se adaptar a uma companhia tão tradicional?
O primeiro ano foi muito difícil. Entrei por baixo. Estava no fim da fila. Era como regredir. Essas coisas machucam o ego. Tive minha primeira oportunidade quando um bailarino se machucou. Fui chamado para o papel principal na última hora. Fiz um bom trabalho. "O menino é bom, é forte, é alto", disseram. Dei o xeque-mate.

Sofreu algum tipo de preconceito por ser brasileiro?
Sim, mas não era explícito. Sempre me faziam a seguinte observação: "This is a british company" (esta é uma companhia britânica). O fato de eu ter umas medalhas no bolso me deixava mais tranqüilo. Sabia da minha capacidade.

E o salário?
Não vou mencionar valores. Na Inglaterra, um bailarino ganha até cinco vezes mais que no Brasil.

O que vai retratar o documentário da BBC?
Ele vai mostrar a escola em que cursei balé, no Méier, responsável hoje por uma boa safra de bailarinos. Vai também focar em outro menino, da favela, e fazer um paralelo entre a nossa vida. Espero que o documentário dê visibilidade e um empurrãozinho à dança no Brasil. Faltam público e tradição ao balé brasileiro.

Como é sua rotina?
É estafante. Ensaio das 10h30 às 17h30. Paro uma horinha, coloco a maquiagem e faço a apresentação das 19h30. Mas estou realizado. Se parar de dançar hoje, estarei satisfeito: já fui primeiro-bailarino do Royal Ballet.

Embalos do hip hop

Dois eventos celebram a arte da periferia

Lívia de Almeida


Cláudia Martins/Strana
No Armazém 5, bboys e rappers como BNegão (à dir.) fazem a festa



Grafiteiros, bboys (dançarinos de break), MCs, rappers e simpatizantes movimentam a Semana da Cultura. Nesta quarta (5), começam dois eventos que festejam a cultura hip hop, que hoje envolve tanto jovens do subúrbio como da Zona Sul, e discutem seu papel: a Semana Hutús e o Tangolomango, um encontro de entidades que organizam ações culturais visando à inclusão social. A Semana Hutús inicia-se no Teatro Carlos Gomes, com a entrega do Prêmio Hutús 2003 aos melhores do rap nacional e homenagem a Sabotage, rapper assassinado neste ano. Até o fim da semana, a programação inclui mostra de filmes no cine Odeon e, de sexta (7) a domingo, uma maratona de atividades no Armazém 5 do Cais do Porto: festival de rap com shows de Hunc (dos Estados Unidos), Racionais MCs, MV Bill e BNegão, apresentação de bboys, batalha de MCs e até um torneio de basquete de rua. "Para nós, o hip hop não é só uma moda de verão. É um modo de vida", diz Celso Atahyide, organizador da Semana.

O lançamento da Semana Hutús foi feito no último fim de semana de outubro, quando um grupo de 200 grafiteiros pintou o muro do Jockey Clube, na rua do Jardim Botânico. E com autorização da direção do clube. "O muro estava inteiramente degradado. Achamos interessante a integração com os grafiteiros, que puderam pintar os muros da burguesia", diz a vice-presidente do Jockey, Beatriz Lemgruber. Ela acredita que o grafite não fere as normas do Patrimônio Histórico, que tombou as edificações do clube. "Se exigirem, podemos pintar tudo de branco novamente."

No Museu da República, o hip hop é um dos temas do Tangolomango, encontro que vai discutir neste ano o acesso aos meios de comunicação. Na abertura do evento, grafiteiros coordenados por Fábio Ema fazem uma demonstração e expõem seus trabalhos nos Jardins do Palácio do Catete. Também haverá a exibição de dançarinos de break. "O grafite é uma maneira de as populações jovens e carentes manifestarem suas posições", diz Marina Vieira, organizadora do evento, que se estende por dois fins de semana, com mostras de filmes e vídeos – uma delas voltada exclusivamente para o universo hip hop – e oficinas.

Operação pró-Serra 2010 : Ex-jornalista da Globo denuncia



No seu blog, o ex-jornalista da Globo Rodrigo Viana diz que leitores e ouvintes mais atentos perceberam na demissão do âncora da CBN no Rio de Janeiro, Sidney Rezende, os preparativos para a cobertura das eleições 2010. ''A moto-serra dos tucanos vai passar sobre várias cabeças no jornalismo global'', diz Viana, referindo-se a demissão de profissionais que supostamente não concordariam com uma cobertura favorável à candidatura do governador de São Paulo, José Serra, à Presidência da República em 2010.



“CBN demite âncora independente – Operação 2010 já começou?”, questiona no título do comentário postado. Ele diz não conhecer o jornalista Sidney Rezende pessoalmente, mas que era considerado pelos colegas “como um jornalista que exercia sua independência, apesar de a CBN também estar sob os tentáculos de Ratzinger - o agente das sombras do jornalismo global, o homem que articula a candidatura Serra.”

Rodrigo Viana afirmou que conversou com um âncora da CBN, que pediu para não ser identificado, que teve sua cabeça pedida pelo governador de São Paulo. Serra não teria gostado “de entrevista feita pelo âncora com um economista, questionando a forma como a Prefeitura de São Paulo – na época administrada por Serra - investia suas sobras de caixa.”

“Esse outro âncora conseguiu preservar a cabeça sobre o pescoço. E segue fazendo bom jornalismo. Até quando?”, volta a questionar.

O jornalista também coloca em evidência a demissão de Luiz Carlos Braga da Globo de Brasília e diz que a operação desencadeada lembra o que foi feito em 2006. “Há dois anos, às vésperas da eleição presidencial, a Globo livrou-se do comentarista Franklin Martins (ele conta os bastidores completos, numa bela entrevista à revista Caros Amigos) porque este não fechava com a linha oficial da emissora de sentar a pancada em Lula, e dar aquela mãozinha pros tucanos”, lembra Viana.

Após a demissão de Franklin Martins, Viana se coloca na lista de outros jornalistas que foram “limados” por discordarem da conduta jornalística da emissora na cobertura das eleições. Constam dessa relação Luiz Carlos Azenha, Carlos Dornelles e o editor de política Marco Aurélio Mello.

''As Organizações Globo estão demitindo todos os jornalistas moderados, isentos. Será um tiro no pé se a Lucia Hippolito assumir o lugar do Sidney. Primeiro porque ela é de São Paulo, agora mora no Rio e sempre morou na zona sul e não conhece o subúrbio, zona norte, oeste, etc, ao contrário do Sidney que morou em Bangú. Segundo porque todos sabem que as opiniões dela não são isentas, sempre com viés partidário tucano”, comentou Stanley Burburinho, um leitor do blog rodrigoviana.com.br

Sem detalhes, diretora nega motivação política

No mesmo espaço, a diretora executiva de jornalismo da emissora, Marisa Tavares, negou a motivação política da demissão. Num curto comunicado, ela diz que a direção da CBN tomou a decisão baseada “em novos desafios que surgiram para a programação e agradeceu a Sidney Rezende pela dedicação à emissora.

“Gostaria apenas de observar que todos os profissionais da CBN compartilham os mesmos valores e trabalham para, diariamente, levar a seus ouvintes e internautas um noticiário isento e de credibilidade. O próximo responsável pela ancoragem do CBN Rio não se distanciará minimamente deste código que pauta nossa conduta”, diz a diretora.

De Brasília,

Iram Alfaia

Tragédia de Eloá exige urgente controle social sobre a mídia


Enquanto a mídia estiver acima do bem e do mal, livre de qualquer controle social civilizatório, humanizador e democrático da sociedade, estaremos sendo surpreendidos por espetáculos animalescos em que a televisão termina envolvendo-se irresponsavelmente em crimes, tal como ocorreu agora no seqüestro que terminou com a trágica morte da adolescente Eloá Cristina.

Por Beto Almeida*, no Hora do Povo



Toneladas de falsa lamentação estarão sendo difundidas pela mídia incapaz de olhar no próprio espelho e reconhecer que ela própria tem sido fator de disseminação de mensagens que cultuam a violência. No caso Eloá, as redes de TV deram um funesto passo adiante no desrespeito às normas mais básicas do processo civilizatório: pelo menos três redes de TV comunicaram-se diretamente, por telefone celular, com o assassino Lindemberg Fernandes, durante o transcurso do ato criminoso, revelando a mais absoluta irresponsabilidade e, até que se prove o contrário, com capacidade de interferir negativamente no desfecho do episódio, quando ainda estava ocorrendo uma negociação das autoridades policiais na tentativa de evitar o pior, que acabou ocorrendo.

Conforme já divulgado, a apresentadora Sonia Abraão, da Rede TV, chegou mesmo a entrevistar longamente Lindemberg por celular no exato momento em que o oficial da PM tentava desesperadamente um contato telefônico com o criminoso. Resultado: o celular estava ocupado!!! Isto é de uma gravidade gigantesca!!!

Quem dá o direito aos meios de comunicação de sentirem-se acima das normas da sociedade, de considerarem-se mais importantes que a própria polícia, de decretarem arbitrariamente - revelando prepotência - que mais importante que a negociação é a entrevista que faziam como o seqüestrador? Será a sacrossanta lei do “vale tudo pela audiência”? Êpa!!! Aqui se verifica a transposição apavorante do limite entre civilização e barbárie!

Ibope

A menos que a psicologia tenha desistido de tudo diante do ceticismo que tais episódios podem causar sobre a capacidade humana de avançar no processo civilizatório, é inegável que uma negociação adequada, uma persuasão na dose certa, uma palavra precisa orientada por critérios científicos podem, sim, sensibilizar um sujeito transtornado e até demovê-lo de chegar às últimas conseqüências, salvando vidas em risco.

Sim, há uma longa trajetória de acertos e erros nesta matéria, mas, até onde se sabe, os especialistas em saúde mental conseguem inúmeros êxitos basicamente através de técnicas de neutralização dos distúrbios destrutivos, evitando que os protagonistas de atos violentos, como Lindemberg, cheguem às últimas conseqüências. É rigorosamente inaceitável que se despreze o legado de Freud, Adler, Reich, Jung e os progressos já alcançados na área da saúde mental pela humanidade assim em troca um pontinho a mais no Ibope.

Afinal, os amigos de Lindemberg testemunharam que ele sempre foi um cara normal, boa praça, camarada, um jovem pobre de periferia enfrentando as adversidades que o capitalismo colocou à sua frente. Portanto, será que uma pessoa assim não poderia afinal ter se sensibilizado pela negociação conduzida sob orientação de psicólogos?

Sim, em tese poderia, pois desconhecem-se antecedentes de conduta violenta ou anti-social de Lindemberg. Sim, poderia, mas não com as televisões, com sua capacidade de alterar o comportamento de qualquer ser humano — e é impossível negar isso — telefonando para ele, querendo entrevistá-lo “ao vivo”, sabendo-se que ele tinha a televisão ligada, conforme foi informado.

O que estas entrevistas interferem num sujeito que já estava completamente transtornado por um surto violento? Qual a possibilidade de que ao insuflar o seu ego, lançando-o no terreno escorregadio da “fama”, transformando-o numa “celebridade”, tornando ainda mais complexa a cena do crime, adulterando todo o processo de diálogo negociador que vinha sendo mantido com o policial encarregado, a mídia terminou por entrar em cena num crime em andamento, com entrevistadores que não são especialistas nem em segurança pública, nem em saúde mental, nem em ciências jurídicas, mas simplesmente à busca do desprezível “furo jornalístico”, aumentou os fatores de risco das adolescentes seqüestradas?

Ainda que estas perguntas não sejam todas respondidas facilmente, terá a mídia o direito de estabelecer por decreto que ela pode colocar-se em contato direto com um sujeito que está cometendo um crime simplesmente porque para ela o furo jornalístico está acima da vida? Uma sociedade que desenvolve as tecnologias da comunicação mas não desenvolve os instrumentos de sua humanização, revela-se uma sociedade com componentes bárbaros.

E revela também o risco de termos meios de comunicação tão ágeis, tão abrangentes, mas, por estarem sem controle social humanizador, capazes de ampliar a insegurança, resvalar para o papel de cúmplice de um ato criminoso na medida em que, à revelia de qualquer orientação das autoridades policiais, adentra eletronicamente a cena do crime, introduz a retro-alimentação de valores e mensagens que aprofundam o distúrbio de um seqüestrador já em transe psicótico, que passa então a ver o seu ato na tela da televisão ligada no apartamento transformado em cativeiro. Que efeitos isto pode ter na sua decisão de matar ou render-se?

Com a palavra os especialistas em saúde mental, particularmente aplicada à área de segurança pública: ao se ver na tela, entrevistado por estas desastradas apresentadoras, o efeito psicótico do fato comunicativo que o torna “celebridade”, não pode agravar a complexidade de seu transtorno, não pode insuflar ainda mais seus instintos violentos, não pode interferir negativamente no desfecho ao entorpecer o processo de negociação, que, afinal, sofreu várias interrupções para que as televisões, como abutres, celebrassem o seu “vale tudo pela audiência”???

Como alternativa não seria mais lógico, mais sensato, sobretudo mais humano do que espremer aquelas 100 horas de seqüestro para que produza o máximo de sensacionalismo possível, simplesmente não dar nenhuma divulgação até o desfecho final do episódio? Especialmente, porque os magnatas da mídia — especialmente os do departamento comercial das TVs, de olho no Ibope minuto a minuto — sabiam que Lindemberg tinha uma TV ligada. Insufladas pelo departamento comercial, as redações se agitam: “Vamos entrevistar o seqüestrador ao vivo!!!”. Se isto aumentava o risco de vida de Eloá e Nayara... não era o elemento mais importante.

Afinal, vale tudo pela audiência, decreta a barbárie do mercado! Mas, também as autoridades policiais sabiam desta ação irresponsável das tevês: por que não determinaram a suspensão destas entrevistas? Por que não há rigorosamente nenhum controle social sobre os meios de comunicação social no Brasil hoje se vamos acumulando tragédias desta natureza?

A mídia pode ampliar o risco de vida no desfecho de um seqüestro. No sul também já houve um episódio assim, onde reportagem negociou com um seqüestrador tendo como pano de fundo conseguir que a sua rendição fosse aprazada por um tempo para que o fato fosse noticiado ao vivo dentro do horário do telejornal da emissora gaúcha. Quando Marx fala que ainda estamos na pré-história da civilização muitos não acreditam...

Cumplicidade

Para revelar esta barbárie basta lembrar outro carnaval televisivo de culto à violência: o caso do assassinato da menina Isabela Nardoni. No dia da reconstituição do crime, as redes de televisão transmitiram nove horas seguidas ao vivo, sem interrupções para comerciais, derrubando mesmo a grade comercial.

Sim, mas igual “esforço de reportagem” não é feito para uma divulgação apropriada, equilibrada, humanizada de informações sobre a violência doméstica, pano de fundo daquele crime. Quando uma menina é assassinada alteram-se a duração dos telejornais, dos programas, derrubam-se até grades comerciais.

Mas, para uma política preventiva, de humanização das relações familiares, de construção de consciência amorosa, revelando e abordando adequada e delicadamente a existência do grave problema de saúde e de segurança pública que é a violência doméstica, as tevês fazem o mais absurdo dos silêncios, aproximando-se assim da cumplicidade, pela via da omissão, por deixar de cumprir o que reza a Constituição, segundo a qual a mídia deve ser fator de elevação educacional, cultural e civilizatória.

Espalhar o terror para vender segurança... privada

Hoje a nossa mídia predominantemente “espalha terror para vender segurança”. Os desenhos animados são aterrorizantes, emitem sons freneticamente agressivos, os personagens matam com a maior facilidade, as armas são os ícones mais difundidos, não são os livros, os heróis da nacionalidade. Armas têm sua imagem super divulgada como poder, prazer, ação, emoção ou simples objeto de consumo, atributo de status.

Desse desfile permanente de armas na telinha depreende-se quase que uma máxima: “que sentido tem uma vida sem armas?”. Talvez alguém cinicamente tente dizer que a multiplicação de empresas de segurança privada para ricos, de milícias armadas em bairros pobres e o enxugamento da segurança pública como parte da demolição neoliberal do estado não tenha nada que ver com isto tudo que estamos tratando. Foi este critério pretensioso e prepotente, sempre na linha do vale tudo pela audiência, que conduziu Tim Lopes ao seu suplício, quando a TV Globo já dispunha, com antecedência, de todas as informações sobre o risco que o repórter corria.

Mas a TV segue com o circo de horrores. Assim como, pela lógica da divulgação em tirânica abundância, parece que “não tem sentido um mundo sem cerveja, sem Coca-Cola, sem a velocidade dos super carros anunciados, velocidade impossível pelos engarrafamentos de um transporte inviabilizado pelo individualismo em detrimento do coletivo”.

Provavelmente jovens como Lindemberg não se transformassem em criminosos se lhes alcançasse uma televisão humanizada, civilizada, que não cultue e não propagandeie a arma. Uma televisão que não realimentasse permanentemente o animalesco critério de que “eu amo tanto esta mulher que se ela não me quiser eu a mato de tanto amor”.

Temos uma TV machista também, temos uma TV debilóide, uma TV para brancos, para adultos, uma TV embrutecedora, destinada a vender e vender e vender, a formar consumidores, e quem não puder comprar um tênis caro é impelido a matar alguém para roubar um tênis, como ocorreu em Brasília. Afinal, a vida não tem sentido sem um desses tênis caríssimos... Temos uma TV de erotização doentia, uma TV que nos empurra para o alcoolismo, que nos recomenda, como a Lindemberg, a intolerância e o machismo, particularmente com armas nas mãos, quando enfrentamos uma angústia ou uma dor amorosa.

Temos uma TV bárbara. E não tem que ser assim, pois há no mundo experiências de TVs que são vetores educativos, culturais, humanizadores. A TV em Cuba evita a divulgação de crimes e não há publicidade comercial. Mas divulgam-se livros, filmes, datas históricas, heróis do país e do mundo, espetáculos de balé e música clássica. Crimes não!

Aqui podemos assistir desde sexo o mais vulgarizado até seres humanos espancando-se infinitamente com chutes e cotoveladas no rosto uns dos outros. Há canais para leilões de cavalos, bois, tapetes, corridas de cavalo, mas raramente há programas sobre inúmeros problemas de saúde mental para uma população carente de informação educativa, tal como pregou o presidente Lula ao determinar a criação da TV Brasil.

Aliás, registre-se a sóbria e equilibrada cobertura da TV Brasil sobre a tragédia de Eloá. Este é o caminho. A televisão é uma ferramenta muito importante para estar sob o controle da lógica bárbara e anticivilizatória do mercado, deve estar sob controle social, humanizador e democrático. Aliás, vale lembrar, as TVs que cometeram este espetáculo de barbárie no caso Eloá são as mesmas que durante anos enalteceram, recomendaram, sustentaram, sem discussão democrática, os valores do mercado como diretriz para o funcionamento da sociedade e agora, diante do enormes prejuízos que as fraudes mercadológicas especulativas causaram ao contribuinte norte-americano, podendo nos atingir, estas tevês não reconhecem o seu erro. Estão acima do bem e do mal.

É, portanto, urgente o desenvolvimento de mecanismos de controle social da mídia no Brasil. Ou, se nada for feito neste sentido, com dor e realismo somos obrigados a nos perguntar: qual será a próxima façanha da TV-barbárie? Sei que na Espanha alguns canais chegam a transmitir suicídio ao vivo... Foi para isto que se criou a televisão?

* Beto Almeida é presidente da TV Comunitária de Brasília



Crimes passionais

Leonardo Isaac Yarochewsky - Advogado criminalista, professor de direito penal da PUC Minas
Willian Shakespeare disse: “Sem saber amar não adianta amar profundamente”. Nélson Hungria, um dos maiores tratadista do direito penal, ensinava: “Comumente, quando se fala em crime passional, entende-se significar o homicídio por amor. Mas será que o amor – esse nobre sentimento humano, que se entretece de fantasia e sonho, de ternura e êxtase, de suaves emoções e íntimos enlevos e que nos purifica do nosso próprio egoísmo e maldade, para incutir-nos o espírito de renúncia e do perdão – possa deturpar-se num assomo de cólera vingadora e tomar de empréstimo o punhal do assassino?” Segundo Hungria, não. Roberto Lyra, outro grande penalista, afirmava: “O verdadeiro passional não mata. O amor é, por natureza e por finalidade criador, fecundo, solidário, generoso...O amor não figura nas cifras da mortalidade e, sim, nas da natalidade; não tira gente do mundo, põe gente no mundo. Está nos berços e não nos túmulos” .

Certo é que crime, ciúme, amor, paixão e loucura, às vezes, se confundem num cenário trágico. Segundo o penalista italiano Enrico Ferri, “o amor e crime nasceram gêmeos, inseparáveis como o corpo da sombra”. Para o criminalista Carrara, “são paixões cegas o amor e o medo; são paixões raciocinadoras a vingança e a cupidez”. Não é de agora que crimes são praticados em nome do amor, da paixão e do ciúme. O tema, contudo, ultrapassa o direito penal, passa pela psicologia, pela psiquiatria, pela sociologia e pela literatura. Será que alguém mata ou morre por amor? Não tenho a pretensão de responder a pergunta. Aliás, esta indagação não pode ser respondida diante da complexidade dos sentimentos humanos que, vez ou outra, transforma o homem ou a mulher (seres racionais) em animais (seres irracionais), onde a razão cede lugar aos instintos. “Ó poderoso amor! que por alguns respeitos transformas um animal em homem e por alguns outros, tornas um homem em animal” (Shakespeare). O ciúme, nos informa o professor pernambucano Roque de Brito, já na antiga origem etimológica grega, indicava um estado psíquico de tormento, pois significava “ardor”, “ferver”, “fermentar”, considerando-o os gregos como um “amor excessivo”. Os romanos identificavam o ciúme como um sentimento de inveja. O ciúme, em razão do estado de perturbação psíquica, já foi considerado por muitos como o “demônio” – Shakespeare chamou o de the green-eyed monster (o monstro de olhos verdes), em Othello – ou “veneno” da vida psíquica ou afetiva humana, que a intoxica.

O Código Penal brasileiro sacramenta que a paixão e a emoção não excluem a imputabilidade penal (art. 28, I). Porém, não se pode negar que, muitas vezes, a paixão se transforma em loucura e o louco não está sujeito a pena criminal (que se baseia na culpabilidade do agente). É penalmente inimputável, restando-lhe, portanto, a aplicação da medida de segurança – internação em hospital psiquiátrico (hoje, bastante questionável) ou tratamento ambulatorial –, que tem por fundamento a periculosidade do agente. Certo é que “as paixões são como as ventanias que incham as velas do navio. Algumas vezes, o afundam, mas sem elas não se pode navegar” (Voltaire)

Subversão do som

O grupo PianOrquestra explora possibilidades inusitadas do piano, seguindo a trilha dos modernistas. Repertório reúne de Villa-Lobos e Cláudio Santoro a Milton Nascimento
Marcelo Castilho Avellar
Carlos Fausto/Divulgação
Músicos do PianOrquestra são a atração de hoje à noite na Casa da Ópera
Ao longo dos séculos 18 e 19, o piano adquiriu sua configuração atual. No processo, alcançou uma condição de supremacia sobre os demais instrumentos clássicos e, graças a ela, tornou-se uma espécie de símbolo da própria cultura erudita. Por essa condição de símbolo, ao longo do século 20 o piano se tornou um dos alvos favoritos dos modernistas: negá-lo ou transformar seus sons em algo diferente se transformou em signo da negação à cultura clássica e ao passado, da iconoclastia, da revolução estética. Foi daí que nasceram os pianos “preparados”, instrumentos em que o mecanismo tradicional era usado para produzir sons de maneiras inesperadas pela colocação de objetos nas cordas, martelos ou entre eles.

No sentido estrito dessa definição tradicional, o subtítulo do DVD do grupo PianOrquestra, Dez mãos e um piano preparado, é quase uma incorreção conceitual: mais do que preparar seu piano, os integrantes do grupo investigam novos modos de se relacionar com ele. Não importa a tal incorreção: a criação que os mineiros têm hoje oportunidade de assistir, em Sabará, é dos trabalhos mais inventivos da música contemporânea brasileira.

O confronto estético pode ser coisa do passado, as vanguardas históricas se tornaram tradições. O PianOrquestra, nesse sentido, trabalha com possibilidades de conciliação. O repertório do DVD, por exemplo, inclui tanto obras recentes, assinadas pelos próprios integrantes do grupo, quanto “clássicos” da música brasileira, popular ou erudita (se é que essa distinção faz algum sentido para o Brasil recente), do século 20: Cláudio Santoro, Villa-Lobos, Toninho Horta, Milton Nascimento, Tom Jobim. O que unifica o repertório é o PianOrquestra, seu conceito singular, a maneira como percebe os sons e sua produção, o fato de que, com eles, a execução das obras deixa de ser apenas música e se torna, antes de tudo, performance e espetáculo.

VIBRAÇÃO E a idéia é extremamente simples: explorar o piano em toda sua potencialidade. Tecnicamente, o piano – tradicional, é bom lembrar – é um instrumento de percussão por meio mecânico. Em sua máquina, o golpe que o pianista aplica nas teclas é transmitido às cordas. Um sistema acessório permite ao instrumentista determinar se as cordas vão vibrar por mais ou menos tempo, com maior ou menor liberdade, com mais ou menos harmônicos. Os integrantes do PianOrquestra também conduzem essas operações. Às vezes. Mas as misturam com outras: tratam a caixa do piano como instrumento de percussão, tocam diretamente nas cordas (como ocorre com os instrumentos da família do violão), friccionam-nas com materiais (aproximando-se, em tais momentos, dos instrumentos de cordas friccionadas, como o violino ou o violoncelo).

Mais do que simplesmente investigar essas alternativas, pesquisam possibilidades dentro delas: a percussão das cordas com os dedos produz som diferente, por exemplo, da percussão das mesmas cordas com baquetas, ou palhetas, ou objetos metálicos jogados sobre elas. No fim das contas, é mais até mesmo que a “orquestra” prometida pelo nome do grupo: o que encontramos é a construção de um “piano conceito”, pronto a pegar o espectador de surpresa em todos os momentos. Inclusive quando algum dos músicos renuncia a todo o aparato e passa instantes tocando o instrumento da maneira tradicional.

Sim aos festivais

Palmas para Paulo José, que se recusa a fazer filmes comerciais e valoriza obras de autor. Discorda do produtor Luiz Carlos Barreto, que reclama do fato de terem sido gastos mais de R$ 70 milhões este ano em festivais de cinema (o sindicato dos produtores calcula que sejam 40). O ator acha esses eventos fundamentais, “por envolverem estados, prefeituras e fazerem com que cidades inteiras falem a palavra cinema”. Afinal, não seriam os festivais os principais canais de exibição de curtas e longas, principalmente os de fora do circuito comercial? No “combate à proliferação de festivais”, o sindicato ameaça criar lista dos que teriam “selo de qualidade" (Brasília, Gramado, Rio, Paulínia, Recife e Fortaleza). Barretão “denuncia” que há “alguns até em cidades ribeirinhas do Amazonas” e diz: “Temos de acabar com essa farra. Não podemos apoiar qualquer biboca por aí”. A pergunta que não quer calar: quem mora em biboca não tem direito a ver cinema?

Penedo

O Festival de Penedo, que já figurou entre os mais importantes, quer resgatar sua força. A nona edição do evento alagoano vai até domingo e é realizada graças à parceria da Capita Produções com a prefeitura. Este ano, o evento tem mineiro no júri: o diretor Pablo Lobato, que acaba de voltar de Porto Alegre, onde foi jurado do Cineesquemanovo.

Amores urgentes
O blog Amores urgentes (amoresurgentes.blospot.com), parceria da psicanalista Inês Lemos e da jornalista Eliane Dantas, é espaço (sério) de debate e reflexão sobre educação. Vale a pena navegar por lá. Interessante o texto sobre a solidão de adolescentes, que cita o (genial) Paranoid park, de Gus Van Sant.

Pichadores invadem a Bienal de SP

No primeiro dia da exposição, grupo de pichadores realiza ação no 2º andar da exposição como forma de protesto.

Redação

Um grupo de 40 pichadores invadiu a 28ª Bienal de São Paulo neste domingo, dia da abertura da exposição. A ação foi por volta das 19h30 e aconteceu no 2º andar, que não tinha obra nenhuma exposta. Este ano, a curadoria da mostra decidiu deixar um andar inteiro vazio para discutir a "crise da arte".

A polícia militar só chegou ao local meia hora depois do ataque e apenas uma jovem de 23 anos foi detida. Para evitar que os responsáveis pela ação fugissem, as portas da Bienal foram fechadas, causando tumulto. Mesmo assim, metade do grupo conseguiu se misturar aos frequentadores e escapar. A outra metade quebrou vidros do prédio para conseguir fugir.

A organização da Bienal já esperava alguma ação deste tipo na exposição, mas não sabia precisar a data que ela aconteceria. Informações e boatos surgidos cerca de 30 dias antes da abertura fizeram com que o esquema de segurança da mostra fosse reforçado, mas isso não foi suficiente para evitar a invasão.

De acordo com a jovem detida, que não quis se identificar, o grupo conseguiu entrar no prédio pela porta principal. "É o protesto da arte secreta", declarou.

Além de frases como "Isso que é arte" e "Fora Serra", as pichações também levavam os nomes dos grupos que participaram da ação ("Susto", "4" e "Secretos"). O ataque está sendo visto como uma continuidade de outros protestos que aconteceram este ano na Faculdade Belas Artes e na Galeria Choque Cultural.

A Bienal informou que a segurança do evento será incrementada nos próximos dias para evitar outros ataques, mas ainda não existe nenhum detalhe de como isso será feito.

Bienal de São Paulo reforça a segurança

Organização condena as pichações realizadas no domingo e intensifica o esquema de segurança da exposição.

Redação


Quem visitar a Bienal de São Paulo nesta terça-feira (28), encontrará as paredes do 2º piso da exposição brancas novamente. Depois da interferência realizada por um grupo de jovens na noite do domingo, a organização do evento decidiu apagar as pichações e repintar todo o andar.

Em nota oficial divulgada na noite de segunda-feira, a Fundação Bienal lamenta e condena o incidente ocorrido na abertura da mostra. Diz a nota: "Trata-se de um ato criminoso, previsto em lei, contra um patrimônio público, o edifício da Bienal, o meio ambiente, a área preservada do Parque Ibirapuera, além de graves agressões físicas a funcionários trabalhando no evento".

No comunicado, a organização do evento também confirma que já esperava o "um ataque deste tipo", mas destaca que optou por manter uma segurança menos ostensiva. A partir de agora, no entanto, a Bienal realizará um controle mais rigoroso do público visitante.

"Todos os visitantes deverão passar por detectores de metal e, quando solicitados, poderão ser inquiridos sobre possíveis pertences metálicos que estejam portando", diz a nota. Além disso, mochilas e bolsas grandes deverão ser guardadas obrigatoriamente no guarda-volumes.

Grafite: arte polêmica

Febre nos anos 70 e 80, o grafite ainda é confundido com pichação e vive o seu dilema: é certo ou errado?

José Eduardo Martins





Diferentemente da maioria das formas de arte, que é concebida em um ateliê para depois seguir para um museu, o grafite é uma manifestação que utiliza os espaços públicos como inspiração. Parte da população aprova, parte é contra e, então, surge a necessidade de definir se é certo ou errado.

“O grafite é uma manifestação cultural, como qualquer outra arte. O cenário melhorou muito nestes últimos 20 anos. Mas, apesar de sermos bastante reconhecidos fora do Brasil, ainda somos um pouco marginalizados por aqui”, disse Oswaldo Júnior, o Juneca, um dos principais nomes do grafite brasileiro.

O problema, muitas vezes, é acordar e ver o muro da sua casa todo colorido com uma obra de arte que não é do seu gosto. “Não suporto esses negócios. Todo ano tenho de pintar a fachada da minha casa. É sempre a mesma história, não passa nem uma semana e já está todo cheio de desenhos. Nunca pedi para fazer nada no meu muro, mas não adianta. Muro para mim é branco”, afirmou Benedita Amaral, moradora do bairro do Limão, de 92 anos.

O prejuízo é grande em alguns casos. “Você pode fazer o quiser que nada funcionará. Já coloquei plantas, placa pedindo por favor para não pintarem o muro. Nada adiantou. Como tenho uma clínica, tenho sempre de zelar pela imagem e um grafite não passa a noção de higiene. Ou seja, tenho de gastar sempre uma verba com pintura”, disse o veterinário Christian Correa.


Todas as grandes cidades têm grafites nos seus muros-Flickr/stelladauer

Grafite x Pichação

Diferente da pichação, que usa apenas letras, o grafite ganhou espaço nas grandes metrópoles – nos muros, nos vagões de trens, nos viadutos e nas vias expressas. Porém continua, na maior parte dos casos, sendo uma arte marginalizada.

"São artes distintas. A pichação vem da literatura enquanto o grafite se preocupa com a estética, com as cores", explica Juneca. O artista, que começou a carreira como pichador, também acredita que exista uma diferença na essência das duas formas de arte. "A ideologia do grafite é a mídia, as pessoas querem dizer alguma coisa. É uma forma de manifestação. Já a pichação é a voz da cidade. O pichador deixa o seu recado e as pessoas tiram as suas conclusões”.

Origens do grafite

Desde o início da humanidade o grafite está ligado à sociedade. Na época das cavernas ou mesmo no Império Romano, é possível se encontrar inscrições e desenhos na parede.

Estudos apresentam duas teorias para o nascimento do grafite no século 20. Um grupo acredita que as pinturas nas paredes sejam oriundas do hip hop – cultura dos guetos norte-americanos que unia rap (estilo de música com um ritmo diferente e com letras fortes sobre a vida no subúrbio), o break (estilo de dança) e o grafite.

A outra teoria diz que o grafite surgiu sozinho em Nova York, fruto das gangues que queriam destaque na cidade, demarcar o seu território e chocar a sociedade. Nestes primórdios, os temas do grafite eram sempre ligados às gangues, ao universo do hip hop e às histórias em quadrinhos.

No Brasil, o grafite ganhou força no final da década de 70, com artistas como Alex Vallauri, que deixou as galerias de arte para começar a se expressar nas ruas. Falecido no dia 27 de março de 1987, Vallauri foi homenageado e a data de sua morte passou a ser do dia do grafite em São Paulo.


A dupla osgemeos faz parte do seleto grupo de artistas que conseguiu fazer o grafite ser visto como arte - Flickr/amf

Arte para todos

Um dos precursores do movimento no Brasil, Celso Gitahy, acredita que o grafite é uma forma de arte democrática. “Quem manda nas galerias são os curadores e teve uma época que as pessoas falavam que a arte estava morrendo, ficando chata. No grafite as pessoas têm de saber para fazer, não dá para enganar, e com isso se retomou a verdade na arte. O grafite surgiu com essa proposta, para dar oportunidade para as pessoas que não tiveram berço”, afirma Gitahy, que também é autor do livro ‘O que é grafite’, da série Primeiros Passos.

Quer grafitar?

Cursos e oficinas em todo país ensinam as técnicas, mas é preciso dedicação e treino para desenvolver um estilo próprio.


Marcos Palhares





O grafite é um tipo de arte de rua que vem despertando muito interesse no Brasil. O que muitos não sabem, porém, é como se tornar um grafiteiro. Do esforço pessoal como autodidata aos cursos e oficinas de especialização, a trajetória de cada um depende de suas oportunidades.

“Comecei sozinho, mas o curso é melhor, porque a pessoa aprende mais técnica”, opina Édson Jesus da Silva, o Edinho, 37 anos, que há duas décadas espalha seus trabalhos pelo bairro do Jabaquara, em São Paulo, e por três cidades do ABC paulista, Santo André, São Bernardo e Diadema.

Quando começou, no final dos anos 1980, o grafite ainda era marginalizado. “A gente tinha que pintar à noite, escondido, tinha muita repressão. Hoje a polícia respeita, a mídia divulga, é outra coisa”, conta.

Edinho afirma que o principal, para o iniciante, é desenvolver um estilo. Depois, deve aperfeiçoar sua técnica. “Fiz um curso para o aperfeiçoamento do meu trabalho e aprendi muito sobre a história do grafite”. Em Diadema, onde mora, Edinho indica a Casa do Hip Hop como referência de bons cursos e oficinas. O telefone de lá é o (11) 4075-3792.

Um dos instrutores na Casa do Hip Hop é Antonio Souza Neto, o Tota, 34 anos. “Quando comecei, com 16 anos, não gostava muito. Meus irmãos e amigos é que incentivavam, daí passei a copiar imagens e inserir minhas idéias”, observa o grafiteiro.

Como instrumentos básicos, além do spray, Tota recomenda um caderno de esboços e um estilete. “Hoje em dia, uma saída muito comum é se organizar em grupos. Aí fica mais fácil conseguir material e até patrocínio”, aconselha.

Para Tota, o caminho mais fácil para cursos e oficinas gratuitos são os centros culturais de cada município. Ele indica também o Sesc, com programações em cada estado. Ainda em São Paulo, o Senac mantém oficinas aos sábados, em parceria com a produtora artbr.

“Fazemos esse projeto há quatro anos, já grafitamos creches, bibliotecas, escolas, estações de trem, vários locais”, comenta o artista plástico Rui Amaral, 47 anos, diretor de criação da artbr e um dos precursores do grafite no Brasil.

Aprendendo a grafitar

Para ele, o principal requisito para quem quer começar é a vontade de desenhar. Depois, no curso, os professores buscam estimular a preocupação com a cidadania, a partir da revitalização dos espaços urbanos. “A gente fala sobre arte pública. Depois, a gente pega um desenho e faz uma discussão coletiva”, diz Rui.

O passo seguinte é a prática: o desenho feito em papel sulfite serve como base para a produção de um painel em miniatura. O material básico é spray, rolinho, tinta látex, estêncil, canetas, moldes, máscaras.

Para Rui, o ambiente do grafite não é sectário: “O legal desses cursos de é que juntam gente de várias idades, origens, profissões. Uma vez eu estava coordenando uma oficina e apareceu um rapaz religioso, com uma espécie de batina, pronto para pintar”.

Grafite pelo Brasil

Com 30 anos de grafitagem, o diretor de criação da artbr admite que o movimento maior concentra-se em São Paulo. “Mas no resto do Brasil está bombando, é impressionante”, ressalta. “O Rio de Janeiro tem grafite forte, no Rio Grande do Sul a cena também é interessante”, acrescenta Rui Amaral.

Belo Horizonte terá, no final de agosto, a 1ª Bienal Internacional de Grafite, com cursos itinerantes. No Rio, a Ink Graffiti Shop tem oficina com a professora Panmela Castro, a Anarkia. Já em Porto Alegre, o Instituto Tr.i coordena um curso de grafite dentro do Projeto Identidade de Rua. As inscrições podem ser feitas no Myspace do Instituto e as aulas ocorrem na Sala Multiuso do Santander Cultural. Em Recife, uma dica é o Centro de Treinamento Gráfico, setor da Escola Dom Bosco de Arte e Ofícios.

Para onde vai o grafite?

Perguntamos para alguns grafiteiros como será o futuro do grafite no Brasil e no mundo. As opiniões, todas diversas entre si, mostram que, quando o assunto é o futuro, não há certeza alguma no presente.

Ivy Farias



Mickey La Rock, grafiteira holandesa:

"O grafite faz parte da natureza humana. Desde Roma antiga as pessoas escrevem nas paredes. Eu acredito que o grafite continuará existindo e, enquanto existir latas de spray e tintas, tenho certeza que continuarão sendo usadas no grafite. Os novos estilos se desenvolverão à medida que o grafite se espalhar pelo mundo. O que acontecerá no Oriente Médio? E na Ásia? Não sei, mas o que tenho certeza é que se as pessoas não puderem pintar nas paredes, definitivamente vão arrumar outra maneira de fazer arte nas ruas."

Gustavo Pandolfo, grafiteiro da dupla osgêmeos:

"Para quem faz grafite de verdade, não há tendência, não há moda. O grafite é e continuará sendo a arte das ruas."

Trampo, grafiteiro de Porto Alegre (RS):

"Fica difícil falar em tendências, porque é uma arte muito aberta e muito livre, mas acho que o grafite pode caminhar para o 3D. Já existe gente que esculpe em ferro e madeira e solda na rua. O grafite pode ter esta caracteristíca, de sair do plano do muro para ganhar novas dimensões."

Nunca, grafiteiro de São Paulo (SP):

"Acho que a xilografia ganhará espaço no cenário urbano, eu mesmo já me arrisco um pouco com esta técnica, onde crio em uma obra em uma madeira e saio 'carimbando' por aí. Outra tendência será tirar fotos aleatórias e colar nas paredes. Enfim, as possibilidades são infinitas."

Denis Sena, grafiteiro de Salvador (BA):

"A maior tendência são os adesivos, os chamados stickers, além de toy art e brinquedos personalizados. Acho que o grafite vai muito longe, mas sem perder a essência de rua."

José Ricardo Basiches, arquiteto de São Paulo:

"O crescimento e o reconhecimento do grafite como arte já é uma tendência. Acho que o movimento tende a continuar crescendo e ser cada vez mais valorizado."

Loro Verz, professor de grafite da Escola São Paulo:

"No exterior já existem pessoas que criam projeções com laser, projetam o desenho com a luz no muro e depois acaba. Esta é uma tendência forte e que não demorá muito para chegar no Brasil."

Liberdade para poucos

A mídia trata os movimentos sociais como criminosos e os segmentos como desordeiros, denunciou Weber Lopes Góes, do movimento hip hop.

Soraya Misleh

Foto: Mariana Lettis

Os meios de comunicação servem à classe dominante “e criminalizar os movimentos sociais está dentro desse arcabouço de poder e das relações de produção e reprodução do capital”. A ponderação foi feita por Weber Lopes Góes, durante o debate sobre mídia, ética e violação dos direitos humanos no I Encontro Paulista pela Democratização da Comunicação e da Cultura, em 20 de outubro.

Educador de rua, historiador, membro do Núcleo Cultural Força Ativa e do movimento hip hop, ele complementou: “Além disso, tem o problema da liberdade. O Estado brasileiro historicamente é autoritário e a violência, institucionalizada.” Diante desse quadro, para ele, é difícil materializar a discussão sobre direitos humanos.

“A própria forma de organização da sociedade impede, calcada na mídia que fundamenta-se na lógica de mercado.” Nem tudo está perdido, ressaltou Góes. Na sua visão, é premente refletir sobre como socializar o conhecimento que vem sendo produzido e a sociedade se apropriar do saber e como produzir mídia “radical”.

A velha caixa preta

A velha caixa preta


Estamos utilizando esse espaço democrático para esclarecer e denunciar alguns aspectos em relação ao polêmico Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - ECAD

Roberto Lopes ferigato

Muito se fala hoje em pirataria e nos crimes de violação de direito autoral que vêm acontecendo no Brasil e no mundo. Infelizmente, temos várias formas de violação. No Brasil temos um escritório central que “supostamente” cuida dos valores arrecadados, vindos do nosso trabalho e da nossa dedicação artística. Estamos utilizando esse espaço democrático para esclarecer e denunciar alguns aspectos em relação ao polêmico Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - ECAD. Hoje temos comprovado algumas evidências publicadas pela imprensa.

.STJ obriga Ecad a depositar R$142 milhões para músicos.

.Ecad não pode agir como sócio de empresa, diz desembargador.

.O Ecad tem um poder de dar inveja a Hugo Chávez,..."

.No Senado Federal a Comissão de Educação em conjunto com a Subcomissão de Cinema, Teatro, Música e Comunicação Social, destinadas a discutir os direitos autorais nas áreas de cinema e música, bem como o papel desempenhado pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD)

.Disputa entre multiplex e Ecad deixa 22 mil pessoas sem cinema

.Compositores acusam ECAD de corrupção

Com falta de transparência e evidente manipulação dos valores devidos aos compositores, o escritório central passou a responder na justiça pelos seus atos. Através do judiciário procuramos recuperar o nosso patrimônio que foi violado e manipulado.

Pressionado, o escritório central resolveu fazer campanha difamatória contra os compositores que estão reivindicando na justiça os seus direitos devidos, espalhando pra toda classe autoral um comunicado no mínimo criminoso.O ECAD alega que os compositores de trilhas sonoras de Tv querem seqüestrar o direito de toda classe e que, se ganharem na justiça, toda a clase ficariam sem receber por um ano (manobra covarde e inescrupulosa).

As trilhas sonoras de TV representam a maior fatia da arrecadação do ECAD, motivo pelo qual o órgão reduziu os valores a serem repassados, de 12/12 para 1/12, (Ata 294ª Assembléia Geral do Ecad, 29 de abril de 2004 5.3) a) Posicionamento sobre reunião de trabalho [...] a.1) As obras de background deverão passar a valer 1/12 e não mais 1/6, a partir da distribuição de julho. [...] A ABRAMUS e a SBACEM [...] votaram contra. Por maioria, foi aprovada a modificação do Regulamento de Distribuição com os votos das sociedades UBC, SICAM, AMAR e SOCINPRO [...] a.3) Mantido o não pagamento de direitos conexos em obras audiovisuais, nos termos já definidos anteriormente, adotando-se os pareceres da área jurídica do ECAD e também da SOCINPRO, bem como o disposto no art. 5º, inciso IX, da Lei Autoral vigente. [...] a. 5) A área de distribuição deverá estudar e sugerir [...] um redutor para a TV Planilha;) O ECAD vem manipulando estes valores desde 2001, sem a nossa autorização, reduzindo-os de 12/12 para 1/3, 1/6 e por último 1/12, fora o bloqueio dos direitos conexos, um direito protegido por lei. A nossa reivindicação é que o ECAD pague pelo prejuízo e não a classe autoral. Nós não violamos o direito de ninguém, portanto, a divida não é nossa. Se os critérios fossem determinados por nós, como o ECAD falsamente alega, certamente não haveria reclamações, muito menos processos na justiça. Eu procurei alertar a classe autoral sobre a CPI de 1995, que foi arquivada por motivos desconhecidos, com farta documentação e provas, de tudo isso que vivemos hoje. Por isso existe um movimento muito forte no sentido de desarquivar esta CPI. Temos também a CPI de 2005 que o ECAD tentou manipular sem sucesso, cujas providências caíram na morosidade da nossa justiça.

Eu só gostaria de saber quantas CPIs serão necessárias para que o direito dos autores seja efetivamente respeitado,. Quando vamos poder viver do nosso trabalho e desfrutar dos nossos devidos valores econômicos e devida proteção? Até quando vamos colocar nossas músicas na gaveta por desacreditar na remuneração e respeito às mesmas? Quanto mais temos que pagar para que o nosso patrimônio seja preservado e reconhecido?

Estamos convidando toda classe para que participem dos debates no Minc, apresentem suas opiniões, não podemos mais conviver com a ausência do Poder Público nas regras e critérios utilizados nas assembléias do Ecad, o nosso patrimônio não esta seguro.

Não poderia deixar de agradecer e dar o meu apoio incondicional ao maestro Tim Rescala, que em uma manifestação legítima publicada no Jornal O Globo, levantou questões de extrema importância para a classe, despertando a fúria dos que foram atingidos diretamente, e que protegem com unhas e dentes a velha caixa preta do Ecad.

Roberto Lopes Ferigato Musico, Compositor, Produtor Fonografico e Editor

Skate também é negócio


Skatista experiente fala sobre a história do esporte e quais as tendências para quem investe no ramo

Na sexta-feira, dia 17, o grupo que analisa a tribo dos skatistas foi até o bairro Padre Eustáquio, para entrevistar Filipe dos Santos, skatista de 28 anos, que se dedica à prática do esporte desde os 13 anos.

A equipe conheceu Filipe na segunda visita feita à Blunt Skatepark. O skatista aceitou ceder entrevista à equipe e se dispôs a fornecer maiores informações sobre o movimento skatista em Belo Horizonte. O grupo fez a entrevista na loja de Filipe, Skate Brother.

Depois de anos participando do movimento skatista como praticante do esporte, Filipe decidiu passar a investir em acessórios e roupas para skatistas, na loja que montou na frente de casa de sua avó. Para se aperfeiçoar melhor na área de comércio e administração, se formou em Técnico em Administração e atualmente faz o curso de Gestão Administrativa.

Por estar em constante interação com o universo do skate, para ele fica mais fácil conhecer a moda e tendências de seus companheiros de esporte. A loja que no início só vendia roupas e acessórios exclusivamente ligados ao skate, hoje investe também na moda urbana, casual. Talvez isso se deva ao fato de que os praticantes do esporte não usam mais somente calças e blusas largas, mas também querem qualidade e variedade no que se trata de montar um estilo próprio. Além do mais, a loja investe pesado em moda feminina, já que o número de mulheres que decide praticar o esporte é cada vez maior.

Como o próprio Felipe fez questão de explicar, o universo skatista agora abrange várias outras tribos. Os emos, punks, reggeiros e vários outros grupos se tornaram parte de um mundo que antes era habitado praticamente apenas por rappers. Para ele, isso é bom sinal, porque além de mais clientes, ele vê a possibilidade do incentivo ao esporte em BH crescer.

Por Mariana Oliveira

Sobrevivência a partir do movimento.


de anos, por muitas pessoas, até mesmo aquelas que não praticam a arte de andar de skate.

Dentro do próprio movimento, jovens encontram ali mesmo uma oportunidade de juntar o útil ao agradável.

Felipe dos Santos , 28 anos , ex-skatista, empresário e estudante, é proprietário de uma loja que vendia apenas produtos para skatistas, acessórios para o skate, roupas e tênis especializados, todos característicos da tribo. Skate brothers está no mercado há 10 anos e é uma das lojas pioneiras no mercado de Belo Horizonte.

Uma entrevista com Felipe foi feita e ele afirma que atualmente o esporte vem ganhando visibilidade e aceitação na sociedade. Apesar disso, ampliou seu público alvo, que antes eram só acessórios voltados para skatistas, hoje vende vários tipos de roupa, tendo comoo público alvo todos os jovens alternativos da cidade.

Ambiente atrativo e aconchegante, com ar de brincadeiras, os garotos de encontram no local. Como conta, o skate veio com gáz total nos anos 70 e 80, antes disso não tinha muita repercussão. As pessoas associavam e até hoje associam os garotos à marginais, devido as roupas usadas, o modo de agir e falar - utilizam muitas gírias - e as músicas escutadas, geralmente músicas alegres e com letras que impulsionam a revolução e a vontade de vencer na vida.

Segundo ele, quando começou a andar de skate, o incentivo era quase nenhum e podiá-se contar as pistas de skate que tinham em Belo Horizonte, assim juntava seus amigos, e iam andar na savassi e no centro de Belo Horizonte. Dessa forma o movimento cresce a cada dia, com constantes mudanças afirma Felipe, o que para ele é uma grande vitória, pois o skate vem atingindo toda a sociedade e abrangendo desde crianças até adultos, com estilos diferenciados.

Os pesquisadores saíram com a expectativa de descobrir a verdadeira ideologia do movimento. Essa segunda visita foi bastante proveitosa para todos.

Por Denise Dias

Uma tribo em constante mudança


Felipe dos Santos, um dos mais antigos skatistas da capital mineira, afirma que o universo skatista está mudando.

Ao pensarmos em skatistas, o senso comum pode nos levar por caminhos questionáveis. Em muitos, vem a imagem de um jovem inconseqüente, insubordinado, que vive nas ruas aprontando confusão e pouco quer saber de estudos ou trabalho.

É bem verdade que este estigma vem acompanhando os praticantes desse esporte desde a sua popularização no Brasil, mas basta abandonar os preconceitos e adentrar – mesmo que superficialmente – no mundo radical dos skates que fica fácil perceber que as críticas do senso comum são infundadas.

É mais ou menos isso que aconteceu em nossa visita desta semana ao universo dos skatistas. Entrevistamos Felipe dos Santos, dono de uma loja de skate no bairro Padre Eustáquio, em Belo Horizonte.

Felipe é mais ou menos o contrário do estereótipo skatista comum: empresário e trabalhador, ele é técnico em Administração e cursa a faculdade de Gestão Administrativa. Ao ser perguntado sobre como é trabalhar voltado para o skate, ele abandona qualquer análise passional e responde tecnicamente: “É difícil para uma loja comercializar só produtos específicos do skate, como de qualquer outro esporte. Existe a necessidade da gente se adaptar a um mercado maior”. Seu modo firme e sério de falar, sem lançar mão de qualquer gíria, nos faz esquecer que ele também é um skatista.

E ele é, também, um dos precursores do skate em Belo Horizonte: Felipe se infiltrou na tribo dos skatistas logo na época de sua popularização no Brasil, no início dos anos 90. Ele conta que na época não existiam pistas nem incentivo ao esporte. Num tom de voz nostálgico, relembra que, nos fins de semana, juntava os amigos e ia para a Praça Sete ou para a Savassi andar de skate e só voltava com o dia amanhecendo. “Na época não havia tanta violência”, completa ao perceber nossas caras de espanto.

A entrevista, que em breve poderá ser conferida em postcast, se prolongou por muitos minutos, mas, sem dúvida, o ponto alto foi a visão crítica de Felipe sobre o próprio skate.

Segundo ele, o skate já deixou de ser uma tribo. “O skate hoje é praticado por punks, emos e outros grupos. Não existem mais características em comum que unem todos os skatistas. Antigamente havia, hoje não”, afirma categórico.

Apesar de tudo, ele vê com bons olhos as transformações da “tribo”. “O skate saiu do grupo fechado e atingiu mais pessoas na sociedade. Belo Horizonte ganhou mais pistas e mais lojas com tudo isso. Vejo tudo o que está acontecendo com bons olhos”, afirma em tom otimista.



Por Thiago Gomes