Ninguém tem o direito de dispor da vida de ninguém, nem da própria. Quando uma pessoa morre de forma violenta, o círculo familiar é abalado e o social (igreja, escola, comércio) é afetado; o bairro, o estado e o país, igualmente o são. Uma pessoa não pode tirar a própria vida porque ela pertence aos pais, avós, cônjuge, cunhados, filhos, tios, sobrinhos, primos, irmãos, vizinhos, professores, colegas, sociedade e gerações futuras. Quando uma vida se vai, leva junto uma parte da vida de quem é parente ou convive nas imediações. A recuperação dos que ficam é lenta ou jamais ocorre. Fica uma lacuna, um buraco a ser preenchido. Somos responsáveis uns pelos outros, por mais que tentemos negar isso ou que nos mantenhamos escondidos em um canto.
Um crime não abala apenas a família, mas a sociedade e o país; suja o nome do Brasil, envergonha e enoja os brasileiros que levam uma vida digna e correta, dentro das leis. Uma prova disso é a maneira como o brasileiro é tratado (em geral) fora do país: como um cidadão respeitável ou como um criminoso em potencial? É o justo pagando pelos pecadores. Por isso ocorre a indignação diante de crimes como o caso Eloá, em Santo André (SP). O povo fica indignado porque algo lhe foi tirado: pais matando crianças indefesas; filha matando pais adormecidos; namorado tentando conseguir o amor da namorada por meio de agressões físicas e humilhações e prisão e tiros.
No passado, os então apaixonados usavam bilhetes amorosos, bombons e flores; eram mais espertos e inteligentes. Há 50 anos, a moda era casar-se virgem. Havia uma exigência da sociedade para que o sexo fosse praticado apenas depois do casamento. A jovem que burlasse essa lei era considerada perdida. – Você sabe que a fulana se perdeu? – É mesmo? Até a ela? Quem diria, com aquela cara de santa! Havia, claro, os boicotes. Quando o namoro ficava mais ardente, sexualmente, as pessoas faziam tudo, menos aquilo, para conservar o selo da integridade. Ultrapassar aquela barreira era arriscado. Havia sempre um pai ou irmão para fazer a cobrança, mais tarde. Onde estão os pais e os irmãos dessas adolescentes que começam a namorar aos 12 anos. O namoro, hoje, não é mais pegar na mão, andar na pracinha, trocar um ou outro beijo no escuro do cinema. Naquela época, tudo era difícil e os rapazes da faculdade, cheios de desejos travados socialmente, criaram slogans do tipo “virgindade dá câncer” e faziam apologias do amor livre, comum em países como Suécia e Dinamarca. Atualmente, o amor é livre. Ninguém mais é preso por ter relações sexuais com uma moça de 17 anos ou de 15 ou uma menina de 12. Tudo isso ficou normal. E os crimes acabaram? A sociedade se tornou mais humana? As aberrações sexuais foram abolidas? A família se tornou mais sólida? |
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