Quer grafitar?

Cursos e oficinas em todo país ensinam as técnicas, mas é preciso dedicação e treino para desenvolver um estilo próprio.


Marcos Palhares





O grafite é um tipo de arte de rua que vem despertando muito interesse no Brasil. O que muitos não sabem, porém, é como se tornar um grafiteiro. Do esforço pessoal como autodidata aos cursos e oficinas de especialização, a trajetória de cada um depende de suas oportunidades.

“Comecei sozinho, mas o curso é melhor, porque a pessoa aprende mais técnica”, opina Édson Jesus da Silva, o Edinho, 37 anos, que há duas décadas espalha seus trabalhos pelo bairro do Jabaquara, em São Paulo, e por três cidades do ABC paulista, Santo André, São Bernardo e Diadema.

Quando começou, no final dos anos 1980, o grafite ainda era marginalizado. “A gente tinha que pintar à noite, escondido, tinha muita repressão. Hoje a polícia respeita, a mídia divulga, é outra coisa”, conta.

Edinho afirma que o principal, para o iniciante, é desenvolver um estilo. Depois, deve aperfeiçoar sua técnica. “Fiz um curso para o aperfeiçoamento do meu trabalho e aprendi muito sobre a história do grafite”. Em Diadema, onde mora, Edinho indica a Casa do Hip Hop como referência de bons cursos e oficinas. O telefone de lá é o (11) 4075-3792.

Um dos instrutores na Casa do Hip Hop é Antonio Souza Neto, o Tota, 34 anos. “Quando comecei, com 16 anos, não gostava muito. Meus irmãos e amigos é que incentivavam, daí passei a copiar imagens e inserir minhas idéias”, observa o grafiteiro.

Como instrumentos básicos, além do spray, Tota recomenda um caderno de esboços e um estilete. “Hoje em dia, uma saída muito comum é se organizar em grupos. Aí fica mais fácil conseguir material e até patrocínio”, aconselha.

Para Tota, o caminho mais fácil para cursos e oficinas gratuitos são os centros culturais de cada município. Ele indica também o Sesc, com programações em cada estado. Ainda em São Paulo, o Senac mantém oficinas aos sábados, em parceria com a produtora artbr.

“Fazemos esse projeto há quatro anos, já grafitamos creches, bibliotecas, escolas, estações de trem, vários locais”, comenta o artista plástico Rui Amaral, 47 anos, diretor de criação da artbr e um dos precursores do grafite no Brasil.

Aprendendo a grafitar

Para ele, o principal requisito para quem quer começar é a vontade de desenhar. Depois, no curso, os professores buscam estimular a preocupação com a cidadania, a partir da revitalização dos espaços urbanos. “A gente fala sobre arte pública. Depois, a gente pega um desenho e faz uma discussão coletiva”, diz Rui.

O passo seguinte é a prática: o desenho feito em papel sulfite serve como base para a produção de um painel em miniatura. O material básico é spray, rolinho, tinta látex, estêncil, canetas, moldes, máscaras.

Para Rui, o ambiente do grafite não é sectário: “O legal desses cursos de é que juntam gente de várias idades, origens, profissões. Uma vez eu estava coordenando uma oficina e apareceu um rapaz religioso, com uma espécie de batina, pronto para pintar”.

Grafite pelo Brasil

Com 30 anos de grafitagem, o diretor de criação da artbr admite que o movimento maior concentra-se em São Paulo. “Mas no resto do Brasil está bombando, é impressionante”, ressalta. “O Rio de Janeiro tem grafite forte, no Rio Grande do Sul a cena também é interessante”, acrescenta Rui Amaral.

Belo Horizonte terá, no final de agosto, a 1ª Bienal Internacional de Grafite, com cursos itinerantes. No Rio, a Ink Graffiti Shop tem oficina com a professora Panmela Castro, a Anarkia. Já em Porto Alegre, o Instituto Tr.i coordena um curso de grafite dentro do Projeto Identidade de Rua. As inscrições podem ser feitas no Myspace do Instituto e as aulas ocorrem na Sala Multiuso do Santander Cultural. Em Recife, uma dica é o Centro de Treinamento Gráfico, setor da Escola Dom Bosco de Arte e Ofícios.

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