Pichação no vazio

São Paulo – Um grupo de 40 pichadores invadiu as instalações da 28ª Bienal de São Paulo e pichou, na noite de domingo, parte do segundo piso do prédio, mantido propositalmente vazio. O grupo escreveu frases como “Abaixo a ditadura” e “Fora Serra”. A direção do evento lamentou o episódio e não informou se o piso será pintado. Na quinta-feira, jovens já tinham colado stickers (adesivos) em pilastras da bienal.

Se a intenção da curadoria era dar visibilidade à crise do modelo das bienais, o resultado foi plenamente alcançado. O vazio do segundo andar, que representaria a tal crise, recebeu muito mais elogios de artistas e curadores do que a mostra de arte apresentada no terceiro andar, marcada pelo tom conceitual. “É lindo, maravilhoso, uma experiência”, afirmou o artista paulista Carlito Carvalhosa. Fábio Coutinho, superintendente cultural da Fundação Iberê Camargo, concordou: “Arquitetonicamente, é lindo. Nunca se tinha visto toda a extensão do edifício”.

“O vazio é mesmo incrível, mas fiquei triste. O terceiro andar parece jantar com pouca comida, é uma improvisação conceitual por conta da crise. Realizar apenas os seminários teria sido melhor”, opinou o artista mineiro Thiago Rocha Pitta. Anna Maria Maiolino também adorou o espaço vazio. “Queria ter um lote lá, deu vontade de correr, fazer uma performance no local, mas já estou velha. Fico impressionada em como hoje os artistas são passivos”, criticou a artista plástica. “É maravilhoso, mas prefiro com obras de arte, ele é para ser assim quando não há bienal”, ponderou o curador Agnaldo Farias.

“É uma arquitetura bela, mas nós já conhecemos esse espaço desde 1954”, comentou a curadora e crítica Aracy Amaral. Agachada em frente à obra de Ângela Ferreira, ela reclamava que não conseguia ler o que estava escrito.

De certa forma, a edição passada do evento, com o tema Como viver junto e curadoria de Lisette Lagnado, também se aproximou muito da arte conceitual. Essa vinculação foi percebida pela artista Lenora de Barros: “Vejo essa mostra como o fim da Bienal da Lisette, como se agora a coisa ocorresse de fato”.

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