O mistério das ONGs


"Quem fiscaliza as organizações não governamentais, para separar o que é prestação de serviço do terceiro setor do uso indevido de recursos e pessoas?"
Paulo Filgueiras/EM/D.A Press
População foi para a rua, surpresa e revoltada com o despejo da ONG Circo de Todo Mundo

O Bairro do Horto, na região Leste de Belo Horizonte, acordou ontem com a Rua Santo Agostinho tomada de revolta e polícia. Funcionários e admiradores do “Circo de Todo Mundo” reclamavam do despejo efetuado na noite anterior, por ordem da Justiça, e queixavam de falta de sensibilidade do Estado. Mas a Secretaria de Desenvolvimento Social tem uma explicação convincente.

Segundo a presidente da organização não governamental “Circo de Todo Mundo”, Eurice Vasconcelos, a entidade está há nove anos naquele endereço, presta assistência a centenas de jovens carentes aos quais oferece atividades pedagógicas, esportivas e artísticas. Ela reclama que não houve negociação ou mesmo chance de transferência do circo, além de abuso de autoridade do Estado que entrou com a polícia e tratores durante a noite de segunda-feira, já quebrando tudo.

Do outro lado da rua, a explicação da subsecretária de Assistência Social do Estado, Roberta Lima, era a de que houve uma tentativa de acordo, considerando que o convênio antigo venceu em setembro e o governo quer construir ali um centro que vai atender a três mil jovens da região e está dentro de um projeto para oito mil em Minas Gerais. Assegura, também, que foi oferecido um espaço dentro do novo centro, mas o pessoal do circo recusou.

Polêmicas da desocupação à parte, ouvi muita gente dizendo lá ontem que o circo na verdade já perdeu o convênio com a Prefeitura por deficiências na prestação de contas e recebe recursos não explicados do exterior, além de atender a poucos jovens. Tudo isso é conversa até que alguém prove alguma coisa. Então, a pergunta continua sendo: quem fiscaliza as organizações não governamentais, para separar o que é prestação de serviço do terceiro setor do uso indevido de recursos e pessoas? Sei que o Ministério Público age. Mas parece pouco. Transparência já.

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