INCLUSÃO CULTURAL

Projeto da Vivo combina novas mídias digitais com a identificação e valorização de bens da cultura de minas e do país
Fotos: Fernando Libânio
Henrique, de 22 anos, acredita no poder do audiovisual de interferir na vida das pessoas, mesmo quando veiculado no celular
Com uma câmera-celular com qualidade de cinco megapixels e alta capacidade de armazenamento na mão e muitas idéias na cabeça, 18 jovens realizadores estão saindo às ruas em seis cidades mineiras – Belo Horizonte, Cataguases, Ouro Preto, Diamantina, Itabira e Tiradentes – para criar um inovador conjunto de peças de audiovisual. Serão produzidas 20 micronarrativas (filmes de até um minuto), 20 “sonemas” (espécie de cinema sem imagem, apenas com áudio) e uma galeria de 200 fotos que, até fevereiro de 2009, farão do projeto Cine Aberto Cidades Digitais muito mais do que o encontro do antigo com o novo. A proposta é integrar preservação, valorização e difusão do patrimônio histórico com a revolução da convergência digital proporcionada pela telefonia celular.

Cine Aberto Cidades Digitais é resultado de dois projetos inscritos na Lei Estadual de Incentivo à Cultura, respectivamente, pelas ONGs Contato, de Belo Horizonte, e Fábrica do Futuro, de Cataguases, que são dois Pontos de Cultura, do Programa Cultura Viva, do MinC. “Logo quando aprovamos os projetos na Lei Estadual, a Vivo nos procurou, interessada em que houvesse um diálogo entre eles”, conta Helder Quiroga, cineasta, coordenador e fundador da ONG Contato. Atendendo a uma sugestão da Vivo, as duas propostas de trabalho foram então unificadas. “O que não foi difícil, afinal, além de muitos pontos em comum, as duas ONGs são parceiras há pelo menos quatro anos”, acrescenta César Piva, gestor cultural da Fábrica do Futuro.

EXPERIÊNCIA
Apesar de jovens, todos os 18 participantes selecionados no início do ano para o projeto, sendo três por localidade, acumulam experiência no mercado de trabalho do audiovisual. “Em sua maioria, são empreendedores que dialogam muito bem com a dinâmica do audiovisual na questão cultural de suas regiões”, afirma Quiroga, que é mestre em cinema pela UnB e secretário do Fórum Mineiro do Audiovisual. A dinâmica de atividades é formada por quatro etapas. A primeira, em Belo Horizonte, foi direcionada ao processo de criação, em que foram apresentados mecanismos de pesquisa e a linha de atuação do projeto com debates e palestras, além de oficinas de desenvolvimento de narrativas.

Numa segunda etapa, encerrada este mês em Cataguases, os integrantes do Cine Aberto Cidades Digitais participaram de uma nova rodada de oficinas e discussões mais voltada para práticas e técnicas direcionadas para questões relacionadas às convergências digitais. Com temas já definidos, assim como pré-roteiros e o planejamento das filmagens, a terceira fase do projeto consiste nas gravações regionais por uma equipe de produção (supervisor de gravações, captador de som direto e dois produtores), que percorrerá cada uma das seis cidades e ajudará os participantes ao longo de dois dias na captação das imagens. A edição final será em Belo Horizonte, com o acompanhamento dos participantes por meio de ferramentas de comunicação a distância, como videoconferência, postagem das edições na web, skype e e-mail.

Além da participação de cineastas convidados como Guilherme Fiúza (5 Frações de uma quase história, 2008) e Cristiano Abud (Descaminhos, 2007), o projeto da Vivo reúne importantes profissionais como colaboradores na formação dos 18 jovens: Fernando Libânio (oficina de fotografia digital e aula técnica sobre o celular Nokia N95 e a câmera HDV Sony Z1); o técnico de áudio Rodrigo Baian (captação de áudio); o videodocumentarista Gustavo Jardim (análise de inventário); a diretora e roteirista Joana Oliveira (oficina de roteiro); e o professor de cinema da UNA Nélio Costa (oficina de audiovisual e preparação de filmagens). “A idéia é que cada professor complete um elo pedagógico formativo, conceitual e metodológico para a construção desse novo olhar sobre o patrimônio”, explica Quiroga, que também presta assessoria para a Fundação João Pinheiro para diagnosticar a situação do audiovisual no estado.

YOUTUBE Mas como avaliar os tamanhos do impacto e do público a ser atingido pelos produtos do Cine Aberto Cidades Digitais? A princípio, explica Quiroga, o banco de dados ficará disponível nos sites das ONGs executivas (www.contato.org.br e www.fabricadofuturo.org.br) e no YouTube, de onde poderão ser vistos no computador ou celular. Clientes da operadora que estiverem chegando de viagem a um dos seis municípios participantes também receberão, via SMS, mensagens de boas-vindas com informações turísticas e serão convidados a baixar o conteúdo do projeto, além de serem ciceroneados ao longo de seu deslocamento na cidade. Já os não-clientes também terão acesso aos produtos digitais do projeto em quiosques instalados em pontos turísticos.

Outra opção de veiculação são as tevês públicas, potenciais parceiras da iniciativa. “Mas o impacto maior que um projeto como esse tem é outro. É o de gerar a possibilidade de que cada jovem, registrando o patrimônio de sua cidade, possa iniciar o processo de tombamento de alguns patrimônios imateriais”, afirma Quiroga. Como exemplo dessas riquezas intangíveis da cultura, o cineasta aponta as festas folclóricas, os rituais, os cânticos, a culinária e as próprias histórias folclóricas, como o matita perê, o curupira, a mula-sem-cabeça e a mulher de branco. “O desdobramento do projeto é muito maior. Queremos garantir que a cultura brasileira tenha seu lugar assegurado no futuro das nossas construções identitárias.”

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