SEM PRECONCEITO

Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
Curso capacita profissionais para evitar a discriminação e o abuso

Neste combate, não há armas e a mira não é a criminalidade nem o tráfico de drogas. O alvo desta vez é o preconceito. Começou ontem, em Belo Horizonte, o curso Atendimento a Grupos Vulneráveis, voltado para policiais civis, militares e agentes do sistema prisional do Sul e do Sudeste do Brasil. Os profissionais serão, até sexta-feira, capacitados para atender, com respeito às diferenças e aos direitos humanos, ocorrências que envolvam mulheres, crianças, idosos, moradores de rua, pessoas com deficiência e homossexuais.

A iniciativa, da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, reúne representantes da segurança pública do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. “Belo Horizonte foi escolhida para sediar o curso porque o estado tem se destacado nesse cenário. Há 10 anos fazemos um trabalho de conscientização com os militares, para que conheçam de perto o que sofrem os grupos vulneráveis e possam atendê-los com respeito aos direitos humanos”, explicou o capitão Cláudio Duani Martins, da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais.

Para o curso, os representantes da segurança pública do Sul e do Sudeste terão, até sexta-feira, aulas sobre definição de grupos vulneráveis, legislação, organizações e programas nacionais de defesa dos grupos, as pecularidades para as abordagens, buscas e técnicas de socorro às vítimas de violência. “O que é rotineiro é a invisibilidade dessas pessoas. O idoso que é desrespeitado, a mulher que é violentada, a criança que é agredida, as opções sexuais que são discriminadas. São muitos os casos em que as diferenças não são respeitadas, por isso policiais têm de saber como agir. Para isso, eles passam pela teoria, conhecem as histórias de quem foi vítima de preconceito, ficam mais conscientes e levam essa idéia para sua corporação”, informa o capitão.

Participante do curso, Jéssica Oliveira de Almeida, delegada de polícia do Rio de Janeiro, conta que no seu estado há muitos militares com bons currículos. “Porém, esse conhecimento não é colocado em prática. E isso não é uma particularidade da polícia. Recentemente, a Secretaria de Segurança Pública fez uma pesquisa para saber quem eram os profissionais mais preconceituosos e, para a minha surpresa, o terceiro lugar ficou com a PM, mas o primeiro foi dos professores”, ressaltou. Segundo Jéssica, o curso tem boas propostas para prender a atenção dos policiais. “As dinâmicas são muito interessantes. Pretendo levar para o Rio de Janeiro essa idéia, buscando soluções para o fato”, disse.

Já o sargento Giovani Brun, da Polícia Militar do Rio Grande do Sul, afirmou que a situação é cada vez mais alarmante. “Trabalho na área de ensino da PM e formo soldados, com esse curso vou tentar mudar essa realidade”, garantiu.

O sargento Alexandre Oliveira, da PM de Santa Catarina, diz que o problema tem crescido. “Os policiais são frutos da sociedade. Muitos acreditam que direitos humanos é coisa de bandido”, revelou. Segundo o tenente Sandro Heleno Gomes Ferreira, da Academia de PM de Minas Gerais, no estado a situação está melhor. “Não há tantas denúncias em relação ao preconceito dos militares, mas isso é reflexo de um trabalho contínuo que começamos há 10 anos. A palavra de ordem atualmente é dar acesso, ou seja, os grupos de vulnerabilidade têm de ser tratados com respeito, não admitimos chacotas ou outras brincadeiras de mau gosto”, afirmou. (LE)

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