Grafite: arte polêmica

Febre nos anos 70 e 80, o grafite ainda é confundido com pichação e vive o seu dilema: é certo ou errado?

José Eduardo Martins





Diferentemente da maioria das formas de arte, que é concebida em um ateliê para depois seguir para um museu, o grafite é uma manifestação que utiliza os espaços públicos como inspiração. Parte da população aprova, parte é contra e, então, surge a necessidade de definir se é certo ou errado.

“O grafite é uma manifestação cultural, como qualquer outra arte. O cenário melhorou muito nestes últimos 20 anos. Mas, apesar de sermos bastante reconhecidos fora do Brasil, ainda somos um pouco marginalizados por aqui”, disse Oswaldo Júnior, o Juneca, um dos principais nomes do grafite brasileiro.

O problema, muitas vezes, é acordar e ver o muro da sua casa todo colorido com uma obra de arte que não é do seu gosto. “Não suporto esses negócios. Todo ano tenho de pintar a fachada da minha casa. É sempre a mesma história, não passa nem uma semana e já está todo cheio de desenhos. Nunca pedi para fazer nada no meu muro, mas não adianta. Muro para mim é branco”, afirmou Benedita Amaral, moradora do bairro do Limão, de 92 anos.

O prejuízo é grande em alguns casos. “Você pode fazer o quiser que nada funcionará. Já coloquei plantas, placa pedindo por favor para não pintarem o muro. Nada adiantou. Como tenho uma clínica, tenho sempre de zelar pela imagem e um grafite não passa a noção de higiene. Ou seja, tenho de gastar sempre uma verba com pintura”, disse o veterinário Christian Correa.


Todas as grandes cidades têm grafites nos seus muros-Flickr/stelladauer

Grafite x Pichação

Diferente da pichação, que usa apenas letras, o grafite ganhou espaço nas grandes metrópoles – nos muros, nos vagões de trens, nos viadutos e nas vias expressas. Porém continua, na maior parte dos casos, sendo uma arte marginalizada.

"São artes distintas. A pichação vem da literatura enquanto o grafite se preocupa com a estética, com as cores", explica Juneca. O artista, que começou a carreira como pichador, também acredita que exista uma diferença na essência das duas formas de arte. "A ideologia do grafite é a mídia, as pessoas querem dizer alguma coisa. É uma forma de manifestação. Já a pichação é a voz da cidade. O pichador deixa o seu recado e as pessoas tiram as suas conclusões”.

Origens do grafite

Desde o início da humanidade o grafite está ligado à sociedade. Na época das cavernas ou mesmo no Império Romano, é possível se encontrar inscrições e desenhos na parede.

Estudos apresentam duas teorias para o nascimento do grafite no século 20. Um grupo acredita que as pinturas nas paredes sejam oriundas do hip hop – cultura dos guetos norte-americanos que unia rap (estilo de música com um ritmo diferente e com letras fortes sobre a vida no subúrbio), o break (estilo de dança) e o grafite.

A outra teoria diz que o grafite surgiu sozinho em Nova York, fruto das gangues que queriam destaque na cidade, demarcar o seu território e chocar a sociedade. Nestes primórdios, os temas do grafite eram sempre ligados às gangues, ao universo do hip hop e às histórias em quadrinhos.

No Brasil, o grafite ganhou força no final da década de 70, com artistas como Alex Vallauri, que deixou as galerias de arte para começar a se expressar nas ruas. Falecido no dia 27 de março de 1987, Vallauri foi homenageado e a data de sua morte passou a ser do dia do grafite em São Paulo.


A dupla osgemeos faz parte do seleto grupo de artistas que conseguiu fazer o grafite ser visto como arte - Flickr/amf

Arte para todos

Um dos precursores do movimento no Brasil, Celso Gitahy, acredita que o grafite é uma forma de arte democrática. “Quem manda nas galerias são os curadores e teve uma época que as pessoas falavam que a arte estava morrendo, ficando chata. No grafite as pessoas têm de saber para fazer, não dá para enganar, e com isso se retomou a verdade na arte. O grafite surgiu com essa proposta, para dar oportunidade para as pessoas que não tiveram berço”, afirma Gitahy, que também é autor do livro ‘O que é grafite’, da série Primeiros Passos.

Um comentário:

Yes, Please! Brechó disse...

Olá José Eduardo! Faço faculdade de Produção Audiovisual e estou fazendo um documentário sobre GRAFITE! tudo que engloba esta nova arte e gostei muito do seu texto, me serão muito úteis as informações. Se você tiver mais fontes sobre Grafite, Hip Hop gostaria que você me passasse os links para o meu email: mariruanes@yahoo.com.br ... Obrigada desde já.