A cientista social Silvia Ramos, coordenadora do Cesec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania), da Universidade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro, criticou a forma como o projeto Cimento Social foi implantado no morro da Providência, no Rio de Janeiro. O projeto, coordenado pelo Exército, tem como objetivo reformar fachadas e tetos de barracos, e foi colocado em xeque depois que três jovens foram mortos supostamente por traficantes depois que militares os entregaram a criminosos. "Faltou tudo no caso. Faltou planejamento, discussão, orientação e parâmetro. Não se sabe por que eles decidiram levar esses jovens para traficantes de um morro ao lado. Parece que a tragédia foi um resultado inesperado, muito surpreendente, mas foi o resultado previsível de uma coisa que tinha tudo para dar errado", disse. Ela afirma que a discussão sobre a presença do Exército nas ruas é antiga no país. "Independentemente de qual seja o papel que o Exército teria ou terá na segurança pública, é preciso que ele seja discutido, planejado e articulado com os demais órgãos de gestão de segurança pública. Neste caso, parece que nada disso ocorreu", afirmou. Segundo a pesquisadora, o grupo de militares acusado de entregar os jovens, que acabaram mortos, para um grupo de traficantes de um morro rival representa o "uso da pior da cultura da polícia do Rio de Janeiro". "Continuam tratando as favelas no Brasil como trataram as senzalas, os matos e os quartos de empregada. É hora de despertar. Se for para produzir segurança pública em favelas e periferias do Brasil, ou mais especificamente no Rio de Janeiro, desta forma, teremos uma sucessão de tragédias", disse a pesquisadora. Onze militares foram presos na manhã de segunda-feira pela Polícia Civil, depois de terem mandados de prisão expedidos pela Justiça. Os três jovens estavam desaparecidos desde sábado. Eles teriam sido entregues pelos militares a traficantes do morro da Mineira, comandado pela facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos), rival do Comando Vermelho, que domina a Providência. Os corpos foram achados no domingo num aterro sanitário em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. David Wilson Florêncio da Silva, 24, Wellington Gonzaga Costa, 19, e Marcos Paulo da Silva, 17, voltavam de um baile funk no morro da Mangueira, na manhã de sábado, quando foram detidos pelos militares, acusados de desacato, e levados ao comandante para que prestassem depoimento. Depois disso, os três não haviam mais sido vistos. Fonte: UOL Notícias |
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Favelas são tratadas como senzalas, mato e quarto de empregada
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