Resultados de pesquisas recentes realizadas no Brasil sobre a fecundidade comprovam uma tendência de queda, ocorrida nos últimos anos, nas taxas de gravidez na adolescência, o que não quer dizer que esse tema não deva despertar a atenção de todos os setores da sociedade. Enquanto houver adolescentes grávidas (os), teremos problema. Muitas das evoluções pelas quais passamos nos indicam que, antes de procurarmos procriar, devemos procurar nos criar, ter um mínimo de autonomia, de segurança, de autoconfiança. Antes de desejar e de ter filhos, devemos aprender a administrar nossas próprias vidas. Na adolescência, estamos à procura de outras experiências que, conforme forem vivenciadas, nos levam à maturidade suficiente para montarmos uma família nos moldes que nos satisfaçam. Cada coisa a seu tempo.
Essa tendência de queda se dá por vários motivos. No início da década de 1990, quando se começou a discutir a necessidade de debater a sexualidade nas escolas, muito foi dito sobre o quanto essa atitude poderia despertar o interesse pelo sexo prematuramente. Na época, a Aids ainda era pouco conhecida e outras doenças sexualmente transmissíveis eram consideradas, principalmente pelo senso comum, como coisa de prostituta, coisa para os outros, que ficavam lá longe. A questão sexual se ligava principalmente aos métodos contraceptivos.
Ou seja, o grande problema que o sexo trazia para os adolescentes era a gravidez. Primeiro porque era um vexame reconhecer que os adolescentes faziam sexo antes de se casarem e, para piorar, trocavam de parceiro de vez em quando; e segundo porque uma criança, àquela altura da vida, levava a uma mudança radical nos planos traçados (tanto da adolescente grávida quanto de sua família, que muitas vezes não podia sustentar mais um).
Muitos anos se passaram e estamos colhendo os frutos das iniciativas de educadores e profissionais de saúde. Colocar o sexo às claras, como algo que pode trazer um enorme prazer e também muita desilusão, colaborou na construção de um novo tipo de comportamento.
Isso porque avançamos, fomos além da discussão sobre os tropeços que uma gravidez fora de hora pode trazer. Passou-se a conversar também sobre as conseqüências de uma iniciação sexual malfeita, conseqüências que não são visíveis, mas para quem as sofre são bastante palpáveis. Chamou-se a atenção para a sexualidade responsável, em cujo universo se encaixa a gravidez, mas ela não é o único ingrediente. O conhecimento de disfunções sexuais, como a falta de desejo, de orgasmo, a ejaculação precoce, os problemas com ereção, as dores durante a relação sexual, entre outras dificuldades, levou muita gente a entender que para ter prazer é preciso também ter cabeça, estar consciente de que existe o momento, o local e a companhia mais adequada para buscarmos determinadas experiências.
Não quero dizer que hoje os adolescentes mantêm menos relações sexuais. Apenas se percebe que muitos deles aprenderam a ver o sexo não apenas como uma festa, mas como algo que pode ter um futuro e, como tal, merece ser bem cuidado. |
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