Adeus à privacidade na Rede: o caso Google Chrome



IHU Online

O lançamento do navegador do Google, Chrome, reabriu o debate da privacidade na Internet no que parece ser o último passo na integração de serviços e de coleta de dados de seus numerosos usuários.

A reportagem é de Paloma Llaneza, do espanhol El País, 12-10-2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A apresentação pública do Chrome, concorrente direto do Firefox (também apadrinhado pelo Google por meio da Fundação Mozilla), veio acompanhada de partes iguais de elogios sobre as melhorias de uso e de críticas sobre sua política de conteúdos e de proteção de dados. Enquanto a primeira, que outorgava ao Google direitos sobre os conteúdos, foi retirada, a relativa à proteção de dados segue remetendo o usuário a seu Centro de Privacidade, onde se estabelecem condições genéricas e poucos claras do que o Google ou as empresas de seu grupo fazem ou podem fazer com os nossos dados mais do que pessoais.

Não importa se o usuário está abrindo uma conta no Blogger, colocando um vídeo no Youtube, usando um editor de textos no Google Docs, armazenando seu histórico médico no Google Health ou instalando o Chrome, todos acabam no porto californiano que é esse centro de privacidade, que só reconhece a jurisdição de Mountain View, nos Estados Unidos, e onde não se sabe muito bem o que é feito com os dados.

O negócio dos dados é muito mais rentável do que um usuário pouco informado pode pensar. Um dado isolado não vale nada; os dados que um usuário gera ao usar todos esses serviços não têm preço. Seu cruzamento permite saber o que ele busca, quando e de onde se conecta, com quem fala e sobre o que, onde irá passar as férias ou se vai assassinar seu cônjuge, como no caso de Melanie McGuire, descoberta e condenada à prisão perpétua por ter cometido o deslize de buscar “veneno indetectável” no Google.

Quanto mais dados se cruzam, mais preciso é o nosso retrato digital. Por isso, a legislação espanhola e da Comunidade Européia, que o Google não aplica a seus usuários espanhóis, proíbe a cessão de dados entre empresas do mesmo grupo sem consentimento, obriga as companhias a dizer que informação têm de seus usuários e para que a usa, cancelando-a quando já não é necessária. Tudo isso para que o dono desse retrato holográfico decida o que permite que se faça com seus dados e o que não.

Essa queixa sobre a política de privacidade do Google não é nova. Ainda em julho de 2007, a ONG britânica Privacy International elaborou uma classificação mundial e colocou o Google no topo das empresas pouco respeitosas, qualificando-a de “hostil” com a privacidade. Identificou o Google como o menos respeitoso entre nomes tão conhecidos como Amazon, Microsoft, eBay, Myspace ou a BBC. Observou várias possíveis infrações, como a retenção de dados de usuários durante longos períodos de tempo sem a possibilidade de cancelá-los ou apagá-los, ou a de não informar sobre o uso que se dá àqueles. O informe sustentava que o Google retém não só dados de pesquisa dos últimos 24 meses ou os de navegação quando se utiliza a Google Toolbar (a barra de busca que pode ser instalada em qualquer navegador), mas também os facilitados pelo próprio usuário voluntariamente – ao dar alta em algum serviço – ou involuntariamente – mediante os logs (registros) de buscas, que permitem identificar pessoalmente o usuário. O informe repreende a empresa por não cumprir a própria normativa norte-americana de privacidade.

Mas o jogo com os dados privados na Internet não é exclusivo do Google. Poucos usuários do Blogger, dos que colocam suas fotos no Flickr ou seus vídeos no Youtube ou que falam com seus amigos por meio do Facebook ou Twitter leram as condições de uso desses serviços. A maior parte delas, que incluem as referentes a tratamentos de dados de caráter pessoal, estão em inglês e sujeitas à legislação norte-americana. As traduções ao espanhol, como indicado no Facebook, são oferecidas apenas a “título informativo”. Justamente, a Information Commissioner's Office do Reino Unido iniciou, no primeiro semestre, uma investigação em razão de uma queixa de um usuário do Facebook que foi incapaz de apagar sua informação, apesar de ter cancelado sua conta. As queixas sobre o Facebook também afirmam que o serviço recolhe informação sensível sobre seus usuários e compartilha-a com outros, sem permissão.

Proteger-se e compartilhar informação só com quem se quiser é difícil, mas não impossível. O International Working Group On Data Protection in Telecommunications publicou algumas recomendações para que o usuário de redes sociais tente proteger sua privacidade sem morrer tentando. Parafraseando o slogan do Google: Don't be fool, be informed (Não seja bobo, informe-se).

Nenhum comentário: