Uma tribo em constante mudança


Felipe dos Santos, um dos mais antigos skatistas da capital mineira, afirma que o universo skatista está mudando.

Ao pensarmos em skatistas, o senso comum pode nos levar por caminhos questionáveis. Em muitos, vem a imagem de um jovem inconseqüente, insubordinado, que vive nas ruas aprontando confusão e pouco quer saber de estudos ou trabalho.

É bem verdade que este estigma vem acompanhando os praticantes desse esporte desde a sua popularização no Brasil, mas basta abandonar os preconceitos e adentrar – mesmo que superficialmente – no mundo radical dos skates que fica fácil perceber que as críticas do senso comum são infundadas.

É mais ou menos isso que aconteceu em nossa visita desta semana ao universo dos skatistas. Entrevistamos Felipe dos Santos, dono de uma loja de skate no bairro Padre Eustáquio, em Belo Horizonte.

Felipe é mais ou menos o contrário do estereótipo skatista comum: empresário e trabalhador, ele é técnico em Administração e cursa a faculdade de Gestão Administrativa. Ao ser perguntado sobre como é trabalhar voltado para o skate, ele abandona qualquer análise passional e responde tecnicamente: “É difícil para uma loja comercializar só produtos específicos do skate, como de qualquer outro esporte. Existe a necessidade da gente se adaptar a um mercado maior”. Seu modo firme e sério de falar, sem lançar mão de qualquer gíria, nos faz esquecer que ele também é um skatista.

E ele é, também, um dos precursores do skate em Belo Horizonte: Felipe se infiltrou na tribo dos skatistas logo na época de sua popularização no Brasil, no início dos anos 90. Ele conta que na época não existiam pistas nem incentivo ao esporte. Num tom de voz nostálgico, relembra que, nos fins de semana, juntava os amigos e ia para a Praça Sete ou para a Savassi andar de skate e só voltava com o dia amanhecendo. “Na época não havia tanta violência”, completa ao perceber nossas caras de espanto.

A entrevista, que em breve poderá ser conferida em postcast, se prolongou por muitos minutos, mas, sem dúvida, o ponto alto foi a visão crítica de Felipe sobre o próprio skate.

Segundo ele, o skate já deixou de ser uma tribo. “O skate hoje é praticado por punks, emos e outros grupos. Não existem mais características em comum que unem todos os skatistas. Antigamente havia, hoje não”, afirma categórico.

Apesar de tudo, ele vê com bons olhos as transformações da “tribo”. “O skate saiu do grupo fechado e atingiu mais pessoas na sociedade. Belo Horizonte ganhou mais pistas e mais lojas com tudo isso. Vejo tudo o que está acontecendo com bons olhos”, afirma em tom otimista.



Por Thiago Gomes

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