Vence o desafio quem rima melhor no improviso e não recorre à baixaria
Letícia Macedo
“Começa agora a batalha mais suja do Brasil”, anunciam DJ Dandan e MC Criolo Doido. “Onde só um canta de galo e o resto é frango”, responde a platéia empolgada. É assim que começa o freestyle “Rinha dos MC’s”, que escolhe o MC que rima melhor no improviso. E se você está pensando que a disputa é de baixo nível, está redondamente enganado! O clima é de total descontração. “Até famílias participam das rinhas, que são verdadeiros eventos culturais”, conta DJ Dandan.
O freestyle é uma batalha do improviso que nasceu junto com o movimento Hip Hop. Quando o sound system (dois toca-discos interligados, com dois amplificadores e um microfone) se popularizou na periferia de Nova York, em meados dos anos 60, alguns músicos pegavam os seus equipamentos e iam para rua animar os diferentes quarteirões do Bronx. “Os DJ’s que nessa época também tinham a função de MC’s pegavam o microfone e defendiam seu som. A disputa era para ver quem atraía mais curiosos”, explica MC Aori, do Rio de Janeiro, criador da Liga dos MC’s. Está aí a origem da saudável batalha de MC’s da qual todo mundo sai ganhando.
As batalhas de MC’s tem regras bem definidas. Os MC’s se enfrentam aos pares e têm direito de pegar o microfone por duas vezes durante 45 segundos cada. ”Esse é o tempo para 16 compassos, que é um verso de rap”, explica MC Aori. A partir daí o que vale é a rapidez de raciocínio e a capacidade de empolgar a platéia, que vai escolher o vencedor da batalha.
“Se você é MC mande uma rima que preste”
“Tem que envolver a platéia e a disputa tem que ser caliente se não o público desanima. O povo gosta é do fusuê”, constata DJ Dandan. No entanto, o MC não pode recorrer para a baixaria para prender a atenção do público. “Não pode falar mal da mãe, da irmã ou acusar de pederastia”, esclarece Criolo Doido. “Sem xenofobia, não importa a roupa que o cara tá usando. Se ele é preto se ele é branco, se ele é azul”, reforça MC Aori.
“É delicado se o MC toca na questão de gênero. Se fala dos peitos de uma MC o público questiona. Se fala do cabelo duro também. Desse jeito não vale. Mas alguma coisa sempre passa, como por exemplo falar que é gordo ou magrelo. Se o MC olha e vê alguma coisa feia ou estranha, ele não perdoa: fala mesmo. E todo mundo ri muito”, admite DJ Dandan.
O vencedor é aquele que articula melhor seus argumentos e que rima bem no improviso. “Quem ganha não é só aquele que faz a rima perfeita. Tem que ter carisma. Tem que estar atento ao som que o DJ coloca, tem que observar o adversário e a festa para encontrar informações para fazer o improviso. É um exercício do pensar e, por isso, é tão contagiante”, afirma Criolo Doido.
O vencedor leva...
O prêmio varia bastante pelo menos na Rinha dos MC’s que é organizada periodicamente em São Paulo. “Já teve mano que ofereceu o relógio como prêmio, um salgadinho, um livro do Rambo 1 ou um álbum de figurinhas do Chaves”, lembra DJ Dandan. Apesar dos prêmios, a disputa de MC’s mobiliza cada vez mais participantes e já chegou a reunir até 800 pessoas em uma noite.
Já a Batalha do Real, que deu origem à Liga dos MC’s, reuniu na sua primeira edição “apenas seis pessoas e um cachorro”, em um barzinho do boêmio bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, em 2003. “Cada um deu um real e o vencedor levou tudo para casa”, ironiza MC Aori. “Tudo começou de forma completamente despretensiosa e foi crescendo graças também à internet. As pessoas começaram a gravar e colocar as batalhas na rede”, lembra MC Aori.
A Liga dos MC’s preocupa-se em convidar nomes já conhecidos para participar dos seus eventos. “O objetivo é atrair público, mas, principalmente, criar uma ponte entre esses novos talentos e nomes já consagrados do Hip Hop”, afirma MC Aori. Em 2007, a Liga dos MC’s ganhou amplitude nacional e organizou campeonatos de rima improvisada em Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e São Paulo. Os finalistas foram ao Rio de Janeiro para uma grande final. “Eles passaram uma semana com a gente e gravaram o Hino da Liga dos MC’s, que vai ser lançado em outubro em homenagem à Batalha do Real”, declara.
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