Convite ao diálogo

Hogenério denuncia o preconceito e a perda da sensibilidade na exposição Sagrado coração ou tráfico de órgãos. Abertura será hoje na Galeria da Copasa

Walter Sebastião

Fotos: Roberto Rocha/Divulgação In Brazil, técnica mista (alumínio, tinta e papel), uma das obras que Hogenério mostra O desrespeito ao ser humano é tema da exposição Sagrado coração ou tráfico de órgãos, que o artista plástico Hogenério apresenta na Galeria da Copasa, com abertura às 19h de hoje. Ele mostra cerca de 16 trabalhos, realizados com técnica mista (bordado, xerox, pintura etc.), a partir de pesquisas e apropriação de imagens. O ponto de partida, como explica, foi o preconceito contra “qualquer pessoa que não se encaixa em padrões de beleza global – deficientes físicos, tatuados etc. Mas, durante a criação dos trabalhos, Hogenério acabou chegando à questão da comercialização de órgãos humanos. “Antigamente, ficávamos incomodados com gente passando fome e morando na rua. Hoje, achamos normal. Isso não é algo para se acostumar”, critica, sinalizando que o comércio de órgãos também está sendo visto como algo comum. “Somos todos iguais, como diz a Bíblia. O amor é a base de tudo”, defende Hogenério. Os trabalhos do artista têm títulos como O seu glamour está no só rótulo?, Essência e vida, Custa dizer que me ama, Ainda que eu fale da língua dos homens e dos anjos. “São trabalhos com linguagem visual forte, para não ficarem despercebidos, que passam a idéia de que estão chamando ao diálogo”, conta o artista. Nas obras há referências a outros artistas. Como Frida Khalo, com citação de obra clássica, com o autor na posição que, no original, é de Diego Rivera. “Nem gostava de Frida Kahlo, porque não sou ligado a coisas tristes. Mas deixei o trabalho na mostra porque ela foi alguém que sofreu e transformou esse sofrimento em fonte de vida”, explica o fã de Caravaggio. Enlatado, técnica mista, um dos trabalhos da exposição que permanece até novembro As citações recorrentes a Andy Warhol têm explicação biográfica: “Nasci na cultura pop. Desde criança gosto de Chacrinha, dos Secos & Molhados, assisto à televisão. Mas minha atual exposição é bem mais questionadora”, afirma. O artista é autodidata. O hábito, na infância, de reciclar materiais e montar cenários puxou o gosto pelas artes. Suas investidas pelo campo da moda, por exemplo com a pintura de camisetas de rock, acabaram abrindo espaço para ideografia povoada por ídolos da música e do cinema. SAGRADO CORAÇÃO OU TRÁFICO DE ÓRGÃOS Abertura da mostra de trabalhos de Hogenério, hoje, às 19h, na Galeria de Arte da Copasa, Rua Mar de Espanha, 525, Santo Antônio. Aberto diariamente, das 8h às 18h. Até 9 de novembro.