No momento em que o país começa a colher os primeiros e tímidos resultados dos investimentos na escola básica, sentimos necessidade de voltar nossos olhos para a escola que recebe os concludentes do oitavo ano da escola fundamental: a do ensino médio. Vivemos a fase em que a educação brasileira oferece menor identidade, em que deveriam estar matriculados todos os jovens entre 14 e 17 anos. Não apenas 40% dessa população estão fora da escola, mas em 2007 tivemos uma queda na matrícula do ensino médio. Trata-se de um momento crucial na vida dos jovens quando começam a escolher seu futuro e a grande maioria já bate às portas do mercado de trabalho.
Entre 2005 e 2007 cresceu o número de matrículas de jovens entre 15 e 17 anos, mas, no mesmo período, chegamos a 1 milhão de alunos entre 20 e 24 anos que deixaram a escola média por desinteresse ou porque foram engolidos pelo mercado de trabalho. Em 2005, tínhamos 9.031.302 alunos matriculados, número que caiu para 8.369.369 no ano passado. Isso significa que, a continuar assim, o ensino superior terá a cada ano mais vagas e menos candidatos. Qual a saída para impasses tão grandes? O ministro da Educação, Fernando Haddad, que tem feito do ministério uma máquina de transformações, para o bem ou para o mal, nos demais níveis no ensino brasileiro, já voltou suas baterias para o ensino médio e parece que sua alça de mira, em grande parte das vezes, aponta para o alvo certo: a integração do ensino médio com o ensino profissional. Só assim o ensino médio terá uma terminalidade que poderá dar um basta à mentalidade bacharelesca dos brasileiros. Não conheço país em que as famílias, aí incluídas as mais pobres, não apostam todas as suas fichas na universidade para os seus filhos. Daí a frustração, porque a pública não tem vagas para todos; nem sempre os imensos sacrifícios para que o filho faça a universidade particular resultam em bons empregos.
A criação de centenas de milhares de vagas em um sem-número de escolas técnicas federais poderá profissionalizar o país mais rapidamente e assim atender a pressão do mercado de trabalho. Ao ministério devem juntar-se as secretarias estaduais de educação e mesmo a iniciativa particular, tão ausente na oferta de escolas profissionais. Mas é necessário também a criação de currículos alternativos e de formação geral, que preparem os brasileiros para a vida, o exercício da cidadania e também para o vestibular. Temos que ir além do programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, para isso, já há um grupo de trabalho do ministério criado pelo professor Carlos Artexes Simões, coordenador de ensino médio da Secretaria de Educação Básica do MEC.
O ensino médio precisa profissionalizar, preparar para a vida, para o prosseguimento dos estudos, enfim, ser atraente para evitar essa evasão que empobrece culturalmente o país. Mas o ideal é tornar obrigatório o ensino médio, como defende o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Neste ponto, estamos atrasados com relação à Argentina, ao Chile e a Cuba, na América Latina. O Brasil tem 2 milhões de adolescentes entre 15 e 17 anos fora da escola – um desperdício. Tornar o ensino médio obrigatório significa que o Estado tem que oferecer vagas para essa moçada e os pais devem ser responsabilizados para enviar os filhos para a escola. Só o ensino médio obrigatório poderá definir o perfil cultural, econômico e social do país, como já estão fazendo com o Chile e a Argentina e, dentro de um marco ideológico mais forte, Cuba. |
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