Orgulhoso, entre uma e outra baforada de cigarro, o ambulante conta que muitos filmes chegam em sua banquinha de DVDs copiados, na Zona Sul de Belo Horizonte, bem antes de estrear nos cinemas brasileiros. “Os filmes são lançados nos EUA e no dia seguinte já estão na internet. O pessoal faz as legendas e em dois dias já estamos vendendo”, explica. Também feliz da vida com as facilidades da web, entre um e outro gole de refrigerante, o estudante universitário morador da Zona Leste da capital mineira (foto) diz que raramente gasta dinheiro com CDs ou DVDs: “Desde que coloquei banda larga e aprendi a baixar os filmes já legendados, faço os downloads e assisto aos filmes em casa mesmo, no próprio computador.”
À primeira vista, ações assim podem parecer banais, e estão integradas ao cotidiano de muita gente – quem compra os DVDs piratas ou quem baixa os filmes na internet. Mas causam um prejuízo de US$ 6,1 bilhões anuais para os estúdios de cinema. Desses, 39% são culpa de quem copia os filmes em DVDs para a venda em bancas. Outros 38% das perdas da indústria escorrem por downloads na web. Os dados, divulgados na última semana, são da Associação Antipirataria Cinema e Música (APCM) e revelam que as duas práticas causam prejuízos similares às indústrias do entretenimento.
A APCM realizou um programa de treinamento e capacitação antipirataria para agentes públicos em Belo Horizonte, em parceria com a Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) e a Entertainment Software Association (ESA). O objetivo principal foi dar dicas, para a identificação de cópias ilegais, a profissionais da Guarda Civil Metropolitana, polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal, Receita Federal, institutos de criminalística, secretarias municipais e estaduais, Ministério Público e Poder Judiciário. Até o fim do ano, a iniciativa terá passado por Campinas, Curitiba, Goiânia, Joinville, Porto Alegre, Recife, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro e Salvador. A expectativa é treinar, aproximadamente, mais 1,5 mil agentes públicos.
Os DVDs piratas custam R$ 3 na banquinha do ambulante e o estudante não paga nada para baixar o que quiser na internet. A grande rede se tornou o principal meio de distribuição do conteúdo pirata, presente tanto na base da cadeia produtiva dos profissionais do crime quanto no cotidiano dos usuários comuns, que baixam conteúdos a partir de programas de compartilhamento de arquivos, gratuitos e fáceis de usar. Do ponto de vista da indústria, todos são considerados piratas, por se apropriar indevidamente de conteúdo legalmente protegido. A questão é polêmica porque a prática já se disseminou de tal maneira na web, que fica difícil acabar com o hábito dos downloaders inveterados.
“Não pretendemos acabar com a pirataria, que já se tornou uma questão cultural muito forte. A idéia é reduzir a prática a níveis aceitáveis”, diz Antônio Eduardo Mendes Silva, coordenador substituto do Grupo de Trabalho Antipirataria da ABES. Por isso, as entidades concentram esforços na pirataria mais evidente – em especial as bancas de comércio ilegal, nas ruas e em shoppings populares. As associações atuam no sentido de repreender (apoiando ações policiais que apreendem e destroem o conteúdo), educar (com palestras informativas em universidades, escolas e campanhas nas salas de cinema) e estudar medidas econômicas (barateando os preços dos produtos originais e se integrando ao comércio on-line).
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