Ainda Não


Edson Lopes Cardoso
edsoncardoso@irohin.org.br
Que feriado foi ontem, dia 15 de novembro? Como entender o esvaziamento ideológico dessa data? Em nossa experiência cotidiana da desigualdade não cabe a fantasia de papel republicana. Novembro parece dominado. A fonte dessa resistência e conquista foi e é, sem dúvida, Zumbi dos Palmares. Sigo cantarolando os versos da canção de Jorge Ben:

“Zumbi é senhor das guerras
É senhor das demandas
Quando Zumbi chega
É Zumbi é quem manda”

Fomos capazes de opor o Vinte ao Treze e ao Quinze, jogando para ganhar numa disputa pelo passado, abrindo caminho por entre visões desumanizadoras que bloqueavam nossa iniciativa política.

A ‘história oficial’ nos obrigava a um confronto com nossa incapacidade de agir. E, pior ainda, uma incapacidade que tinha origem em nossa própria natureza inferior. Desse modo, ainda que o passado fosse apresentado como uma experiência de desigualdade (impossível apagar isso), o fato de que tudo tivesse origem em nossa própria inferioridade intrínseca acabava por justificar a dominação e a opressão ‘civilizadoras’.

A principal vitória da ‘história oficial’ sempre foi, portanto, sua capacidade de disseminar medo e desconfiança entre nós. Medo de agir em nosso próprio benefício, de fazer política. E a desconfiança que torna impossível o reconhecimento mútuo, a ação conjunta.

A vitória do Vinte é, em sua essência, a reconquista da iniciativa política. Sim, somos capazes de agir. Zumbi está conosco, ele também empenhado na luta. A afirmação da vontade em estreita ligação com a experiência de luta que remonta aos tempos coloniais. Grandiosa ousadia!

O Quinze virou pó, um feriado esvaziado de conteúdo e referências, mas, não se iludam, a tensão permanece viva na institucionalização redutora do Vinte a que assistimos. A prefeitura, a secretaria, a fundação, os governos, em suma, ao promoverem eventos de celebração da ‘consciência negra’ não necessariamente estão assumindo uma pauta de reivindicações vinculada aos interesses efetivos da população negra.

Ao contrário, o apoio institucional tem servido de controle da pressão proveniente de demandas urgentes e concretas. E, além disso, transformadoras do poder, como ele é exercido entre nós. Novembro parece dominado, mas não está. Parece negro, mas não é. Estamos ainda excluídos da esfera pública.

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