Quando as gravadoras cometeram suicídio

>> Álvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br

A GENTE fica achando que esse lance de as canções terem ficado mais importantes do que os álbuns é culpa (ou mérito) da internet. Mas um livro recém-lançado mostra que a origem da encrenca está lá atrás, nos anos 80.
Foi quando as grandes gravadoras começaram a comprar os principais selos independentes. E quando essas gravadoras passaram a fazer parte de gigantescos conglomerados sediados em Wall Street.
As cobranças por resultados (leia-se: $$) aumentaram de maneira brutal. Acabou a filosofia de esperar um artista amadurecer para, lá pelo terceiro ou quarto álbum, ele finalmente estar 100%. A exigência passava a ser por canções para tocar no rádio. Imediatamente, sem embaço.
A tese é de André Midani, figura controvertida, talvez o principal executivo da história da indústria fonográfica brasileira. Ele lançou há pouco uma autobiografia, "Música, Ídolos e Poder -Do Vinil ao Download".
A teoria de Midani não chega a ser nova, mas está explicada de modo bem claro no livro. Pena que em três ou quatro páginas somente.
No restante, Midani reconta sua vida aventureira de sírio criado na França que veio parar no Brasil com uma mão atrás e outra na frente de um jeito leve, bem à moda brasileira, sem comprometer ninguém nem arrumar encrenca.
As histórias mais saborosas, não por acaso, tratam de casos internacionais. Como o helicóptero carregado de drogas enviado da França para "abastecer" os artistas do festival de jazz de Montreux, num ano em que as autoridades suíças decidiram dar um aperto ao fazerem revistas nas fronteira. Ou um Rod Stewart alucinado destruindo a suíte no Copacabana Palace. Ou, ainda, as loucuras do pai paranóico do cantor espanhol Luis Miguel.
Nenhuma história me impressionou tanto quando a explicação de Midani para o caos que hoje vive a velha indústria da música. Não foi assassinato cometido pela internet. Foi suicídio mesmo.

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