Jair Amaral/EM/D.A Press - 11/3/08 | | Agatha Nascimento diz que cor da pele pode dificultar contratação | Apesar das melhorias observadas nas taxas de emprego em 2007, a população negra à margem do mercado de trabalho foi expressivamente maior que a de não-negros. Os salários recebidos por essa parcela da população também são significativamente menores, mesmo quando a atividade e nível educacional são os mesmos. A desigualdade foi observada nas seis capitais onde foi realizada a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Em Belo Horizonte, os homens negros receberam em média, em 2007, R$ 5,14 por hora trabalhada, enquanto os considerados não-negros (brancos e amarelos) receberam R$ 8,64. De acordo com pesquisa divulgada ontem pela Fundação João Pinheiro e Departamento Interestadual de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a diferença se acentua quando observadas as condições de trabalho da mulher. “Mulher e negra, esses dois fatores aparecem na pesquisa como combinação perfeita para o desemprego”, observa Plínio Campos, sociólogo da Fundação João Pinheiro.
A taxa de desemprego encolheu de 21,3% em 2003 para 12,2% em 2007 na Região Metropolitana de Belo Horizonte. E, desse total de desempregados, 64,9% são negros, contra 35,1% da população branca. É observado ainda que entre os negros, que inclui também os pardos, é mais evidente a ocupação em trabalhos que não exigem escolaridade superior. Como ressalta Plínio Campos, a inserção do negro no mercado ocorre mais cedo, o que contribui para que essa fatia da população deixe a escola antes do esperado, ocupando, como conseqüência, postos de trabalho com menor remuneração. Entre os jovens de 15 a 17 anos que trabalham, 38,5% são negros e 27%, não-negros.
A desigualdade se acentua quando o gênero do trabalho também é observado juntamente com a raça. Entre as mulheres negras, 23,7% realizam trabalhos domésticos contra um percentual de 9% das brancas. Em 2007, as mulheres negras tinham o menor rendimento médio na análise dos segmentos de cor e sexo, equivalente a R$ 637, o que corresponde a apenas 42% do rendimento do homem branco que é o líder em renda, recebendo o equivalente a R$ 1.517.
A boa notícia do levantamento, que foi a evolução positiva do ganho salarial da mulher negra, chega encoberta por diferenças acentuadas e persistentes. “Na pesquisa, é evidenciado a discriminação no mercado de trabalho, já que, mesmo tendo a mesma ocupação, o negro recebe salário menor”, constata o sociólogo da FJP. A consultora de eventos Agatha Nascimento, de 24 anos, começou trabalhar aos 16 anos. Ela ganhou o mercado ainda jovem mas bem mais tarde que seus pais. “Minha mãe começou a trabalhar aos oito anos como ajudante de cozinha e meu pai aos 10 anos no setor de mineração”, revela. Ela considera que entrar no mercado se torna mais ou menos difícil de acordo com a cor da pele. “Sinto que há preconceito até em entrevistas de trabalho. Mesmo o negro tendo formação, a preferência acaba sendo pelo branco.” Estudante de turismo, Agatha espera conseguir recursos para finalizar o último semestre da faculdade trancada.
As mulheres negras representaram em 2007 a taxa de desemprego mais elevada, de 18,7%. Em situação oposta, os homens não-negros registraram a menor taxa, de 7,3%. A boa notícia é que, em comparação a 2006, todos os ocupados tiveram aumento de renda. O ganho médio da mulher negra foi a que mais cresceu, registrando 8,7 pontos percentuais. Entre as capitais, Belo Horizonte registrou em 2007 a menor taxa de desemprego para negros, de 14,1%. Para os não-negros o índice ficou em 9,7%. Salvador apresentou a maior taxa, com 22,7% e 15,6% respectivamente para as duas populações. |
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