Há que adular – a regra geral das grandes transformações sociais


Edson Lopes Cardoso
edsoncardoso@irohin.org.br
O que vivenciamos de sujeição e dependência no ativismo negro permitirá algum dia a autonomia da organização política?

Durante as comemorações do Vinte de Novembro, com que intenções mesmo algumas instituições negras cortejam empresários, autoridades e políticos brancos, distribuindo com mão generosa e sem nenhum critério razoável comendas e medalhas?

Trata-se de perseguir resultados? Quais? O fato é que critérios de distinção de impossível definição estão criando entre nós “os beneméritos da causa negra”. Estamos dedicados a falsificar e vender currículos de iniciativas “em prol da comunidade negra”, do mesmo modo como a igreja católica vendia indulgências.

Na verdade, essas cerimônias parecem dizer muito de nossa incapacidade para definir padrões de comportamento político desejáveis e, por outro lado, sabe-se que a bajulação tem estranha predileção pelos tapetes vermelhos. Penso que eles encarnam valores inalcançáveis para as nossas mentes comuns.

Pressinto ainda que a disseminação e o crescente prestígio dessas práticas de subalternidade irão em breve operar mudanças ainda mais radicais no Vinte de Novembro. Aonde poderá nos levar, afinal, essa aguçada percepção da fidalguia e da nobreza de caráter de autoridades, empresários e políticos brancos revelada por algumas entidades negras?

Segundo os promotores dessas cerimônias de reconhecimento, sem a bajulação não seremos capazes de romper as barreiras da intolerância e do racismo. Há que adular, se você quer, de fato, transformar essa sociedade injusta e desigual. Sendo assim, creio ter descrito aqui não apenas casos particulares, mas a lei geral que preside as grandes transformações sociais.

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