CÉU INTEIRO


Mais razão que emoção
O poeta Ricardo Aleixo lança novo livro, hoje, no Chevrolet Hall. Esta será uma das muitas atrações do 9º Encontro das Literaturas, que inclui palestra de Ilan Brenman
Janaina Cunha Melo
Beto Magalhães/Em/D.A Press
Ricardo Aleixo trabalha com lipogramas, forma gráfica em que cada poema perde uma vogal
O poeta Ricardo Aleixo lança hoje o livro de poesia Céu inteiro, no 9º Encontro das Literaturas, no Chevrolet Hall. O novo trabalho reúne cinco lipogramas – forma gráfica em que cada poema perde uma vogal –, que abrem a coleção Elixir, idealizada pelos designers Flávio Vignoli e Laura Bastos. A tônica do projeto, explica Aleixo, está na riqueza da relação entre tipografia e poesia que, ao longo da história, “vem revelando ótimos frutos”, apesar da descoberta tardia da arte gráfica no Brasil. A programação do encontro também oferece oficinas, contação de histórias, seminário, bate-papo com autores e palestra com o professor Ilan Brenman, de São Paulo, entre outras atividades, sempre com entrada franca.

Há quatro anos sem lançar poemas inéditos, Ricardo Aleixo tem se dedicado à performance intermídia. Para ele, esta é uma maneira diferente de lidar com conteúdos poéticos e obter maior alcance de público. “O livro ainda é um objeto estranho no cotidiano, que freqüenta pouco a casa das pessoas”, observa. Para compor Céu inteiro, ele escolheu poemas de escrita rarefeita, que exigiram mais racionalidade que intuição. “Quem procurar a realidade como ela é não vai encontrá-la de imediato. Criar lipogramas exige outro tipo de esforço, para organizar o raciocínio em torno de idéias que não podem ser expressas com todas as palavras, porque é necessário eliminar letras específicas em cada texto”, explica.

Apesar do investimento em outras formas de expressão, a poesia continua sendo o alicerce do trabalho de Ricardo Aleixo. Ele conta que seus versos se alimentam das relações e da observação de que a linguagem é um espaço de afirmação e construção do poder em várias dimensões. Sua literatura, acrescenta, rejeita a idéia de que a criatividade seja atributo de deuses ou pessoas especiais. “Tudo que está no entorno das relações humanas me interessa como matéria da poesia que faço. A palavra vem se tornando cada vez mais uma questão estratégica no mundo, tão importante quanto a terra ou outros bens naturais.” No Encontro das Literaturas, ele também lança, domingo, a revista Roda – Arte e cultura do Atlântico negro, que nesta edição homenageia o poeta Sebastião Nunes.

Até o fim do ano, Aleixo ainda estréia a série Palavra falante: O som da poesia, em rádio web do Itaú Cultural, oferece cursos de designer sonoro, no Lira – Laboratório Interartes Ricardo Aleixo, e realiza performance em Alagoas, onde dirige o grupo Texta em gravação de CD de poesia. Em dezembro, também lança Com a palavra, de seu pai, Américo Basílio de Britto, morto em setembro, aos 97 anos, deixando poemas e prosa inéditos. “O livro tem a importância de uma homenagem e reúne os textos de alguém que quis afirmar o direito a este bem comum, que é a palavra.”

Semana que vem, Ricardo Aleixo apresenta a performance Barrocodelia, na Mostra Contemporânea de Arte Mineira, em São Paulo. O espetáculo vai contar com a participação de Chico de Paula, Rui Moreira, DJ Rato, Gil Amâncio, Jorge dos Anjos e Benjamim Abras.

9º ENCONTRO DAS LITERATURAS

Hoje, a partir das 9h, no Chevrolet Hall (Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi). Entrada franca. Informações: (31) 3209-8989.

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