Despacho urbano, primeiro DVD de MV Bill, vai ser lançado neste fim de ano, com músicas que apresentam o rapper carioca como roqueiro. Acompanhado pela banda A Ralé, ele reúne no trabalho 10 músicas, incluindo a inédita Estilo vagabundo II, além de videografia de carreira e, como bônus, quatro faixas de rap. Realizado pelo selo independente Chapa Preta, o DVD tem como tema a diversidade de crença e se oferece, na avaliação do artista, como contribuição à crítica da intolerância religiosa no país. “O candomblé e a umbanda são as que mais aparecem nesse contexto, mas existem muitas outras. A relação entre raça e religião é aparentemente discreta, mas mostra a insistência do racismo no Brasil”, afirma.
O projeto ganhou força quando MV Bill aceitou convite para participar de campanha em favor de uma adepta do candomblé que brigava na Justiça pela guarda da filha. Ele conta que, durante audiência, a mulher foi caracterizada e ouviu da juíza a observação de que suas vestes demonstravam falta de condições morais para cuidar da menina. Houve protesto e manifestação em favor da mãe. “Esse tipo de sentimento está entranhado nas pessoas. Não conseguimos neutralizá-lo de um momento para o outro, mas é necessário reagir”, diz. Para ele, o DVD quer provocar um “choque de realidade” cultural. “Não podemos acabar com o repúdio das pessoas pelas religiões de origem africana, mas temos como bater de frente contra esse tipo de preconceito”, propõe.
MV Bill também prepara novo projeto de hip hop. Depois de Falcão – O bagulho é doido – disco que completou a série Meninos do tráfico – , o rapper lança Causa e efeito, em fevereiro do ano que vem. Os dois trabalhos são completamente diferentes e uma proposta estética não inviabiliza a outra, na avaliação do artista. A aposta no rock demonstra inquietação. “Estou tentando buscar outras sonoridades. A base do DJ é ótima, mas tem limites. Nos shows, não posso improvisar ou demorar mais numa rima do que o previsto. Com a banda, é possível fazer coisas novas”, diz. Mas ele não pretende dar mais ênfase à novidade. “Tenho uma posição muito cômoda dentro do hip hop, mas não consigo ficar muito quieto. Gosto de dar outros passos, sem medo de arriscar, o que não significa que pretendo deixar o rap”, explica.
Há 10 anos à frente de um dos mais importantes projetos de arte e educação na periferia do país, MV Bill coordena a Central Única das Favelas (Cufa) com o mesmo entusiasmo, ao lado de diretores das filiais em todos os estados e no Distrito Federal. Para o rapper, que se tornou referência nacional como artista e militante do movimento hip hop, é grande a responsabilidade dos articuladores, em todas as frentes – culturais, sociais ou artísticas. Mas não é justo esperar das entidades da sociedade civil organizada o cumprimento de funções que são prioritariamente governamentais. “Não devemos ficar nos punindo ou querendo ocupar espaços com afazeres que não são nossos, do hip hop. Muitos problemas precisam ser tratados na esfera governamental e não aceito a desculpa de que o Brasil é pobre, que não tem condições, porque isso é uma mentira.”
Não devemos ficar nos
punindo ou querendo ocupar espaços com
afazeres que não são nossos, do hip hop.
Muitos problemas precisam ser tratados
na esfera governamental
MV Bill, rapper
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