Edson Lopes Cardoso edsoncardoso@irohin.org.br |
Sob o ponto de vista político, arriscaria dizer que a grande movimentação em torno do Vinte de Novembro apenas acentuou a distância e os limites institucionais diante das exigências de cidadania do segmento negro da população.
Há um esgotamento definitivo dos apelos e questionamentos de ordem moral, do tipo: “Quando esta sociedade irá se convencer do mal que ela própria praticou e dos estigmas que criou por não reconhecer a dívida desse passado de mais de 400 anos?” A pergunta é de Emanoel Araújo, na edição de novembro de “Le Monde Diplomatique Brasil” (p. 21), e a resposta é: nunca. Nessa dimensão moral e emotiva a batalha política está, para sempre, perdida.
No fundo, são apelos conservadores, de quem teme as conseqüências de uma ação política mais independente. Os constrangimentos que devemos criar são de outra natureza. Nossa experiência de luta contemporânea, que se manifesta numa enfiada infinita de eventos ditos ‘culturais’, parece toda ela centralizada em torno de princípios clientelistas. E a clientela negra, desde tempos imemoriais, é atendida mesmo com migalhas orçamentárias.
Quem poderá determinar com exatidão, por exemplo, o significado da expressão ‘consciência negra’ na boca do governador do Rio de Janeiro?
Imagino não ser uma interpretação segura cogitar que ele esteja se referindo a seu interesse, e de seu governo, em fortalecer as condições que possam, mesmo remotamente, propiciar uma participação mais autônoma da população negra organizada. Ao contrário, ele parece expressar uma abstração dissociada de qualquer demanda política concreta, de quaisquer interesses coletivos imediatos.
A programação oficial lhe deve transmitir o delírio, como na canção tropicalista, de que organiza o movimento, orienta o carnaval e inaugura o monumento. A agenda do Vinte não encerra assim nenhuma ameaça, embora as autoridades sejam obrigadas a tolerar, durante uma tarde inteira, alguns urubus passeando entre girassóis. Há providências e iniciativas destinadas a conter os (im)prováveis excessos? Sim.
Os eventos do Vinte de Novembro, regulamentados em grande parte por diferentes níveis de governo, anunciam, portanto, a impossibilidade de qualquer avanço político no sentido da superação das desigualdades raciais. Encarnam, de certo modo, uma rendição.
Há um esgotamento definitivo dos apelos e questionamentos de ordem moral, do tipo: “Quando esta sociedade irá se convencer do mal que ela própria praticou e dos estigmas que criou por não reconhecer a dívida desse passado de mais de 400 anos?” A pergunta é de Emanoel Araújo, na edição de novembro de “Le Monde Diplomatique Brasil” (p. 21), e a resposta é: nunca. Nessa dimensão moral e emotiva a batalha política está, para sempre, perdida.
No fundo, são apelos conservadores, de quem teme as conseqüências de uma ação política mais independente. Os constrangimentos que devemos criar são de outra natureza. Nossa experiência de luta contemporânea, que se manifesta numa enfiada infinita de eventos ditos ‘culturais’, parece toda ela centralizada em torno de princípios clientelistas. E a clientela negra, desde tempos imemoriais, é atendida mesmo com migalhas orçamentárias.
Quem poderá determinar com exatidão, por exemplo, o significado da expressão ‘consciência negra’ na boca do governador do Rio de Janeiro?
Imagino não ser uma interpretação segura cogitar que ele esteja se referindo a seu interesse, e de seu governo, em fortalecer as condições que possam, mesmo remotamente, propiciar uma participação mais autônoma da população negra organizada. Ao contrário, ele parece expressar uma abstração dissociada de qualquer demanda política concreta, de quaisquer interesses coletivos imediatos.
A programação oficial lhe deve transmitir o delírio, como na canção tropicalista, de que organiza o movimento, orienta o carnaval e inaugura o monumento. A agenda do Vinte não encerra assim nenhuma ameaça, embora as autoridades sejam obrigadas a tolerar, durante uma tarde inteira, alguns urubus passeando entre girassóis. Há providências e iniciativas destinadas a conter os (im)prováveis excessos? Sim.
Os eventos do Vinte de Novembro, regulamentados em grande parte por diferentes níveis de governo, anunciam, portanto, a impossibilidade de qualquer avanço político no sentido da superação das desigualdades raciais. Encarnam, de certo modo, uma rendição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário