D2 liga rap ao funk

Depois do samba, D2 liga rap ao funk Em seu 5º disco solo, "A Arte do Barulho", músico usa groove dos funkeiros cariocas para fugir da mistura de rap e samba

Novo álbum reincorpora as guitarras dos tempos de Planet Hemp e, segundo D2, tem influências que vão de Justice a Roberto Carlos


CAIO JOBIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Após quatro discos solo, a mistura de rap com samba já virou marca registrada de Marcelo D2. Dizendo-se estar em uma fase influenciada pelo "metal", o rapper mostra que não quer ficar preso à marca e lança o álbum-manifesto "A Arte do Barulho", o quinto sem o Planet Hemp.
"Eu vou no rock/ Eu vou funk/ É hip hop/ Atitude punk", canta D2 em "Pode Acreditar", anunciando as intenções do novo trabalho na única faixa em que, curiosamente, exercita a sua veia sambista. Em "A Arte do Barulho", o "laiá laiá" de D2 reincorpora as guitarras aceleradas dos tempos de Planet Hemp, flerta com o funk carioca, mimetiza a fase soul de Roberto Carlos e troca a formação percussiva do samba pelas bases eletrônicas.
"Eu estava sentindo saudade dessa parada mais pesada mesmo. Aí eu fui num show do Justice [dupla francesa], que não tem muito a ver com rock, é uma banda de dance, mas que tem total influência de metal. O show me deixou embasbacado, e eu pensei: "Dá para fazer música pesada com groove. Dançante, mas pesada'", diz D2.
Depois de abrir o rap ao universo do samba, o músico acredita que seria benéfico aos rappers brasileiros incorporar a linguagem direta e popular dos funkeiros em seus versos.
"Eu acho que o rap nacional precisa buscar essa identidade. A gente precisa falar mais para o povo, e não ficar falando para o nosso ego. Esse é o meu caminho, é o que eu tento buscar no samba. É o que o funk faz. O cantor de funk é totalmente desprovido de ego, é escrachado pra caramba. Eles falam a linguagem do povo, aquilo que o povo quer ouvir", diz.
D2 tenta conciliar passado e futuro. "Fala Sério!", com participação de Mariana Aydar nos vocais, "tem uns tambores de congada, uma coisa mineira, mas com uma guitarra punk, meio The Clash", segundo ele.
Roberta Sá canta o refrão de "Minha Missão". "Essa melodia é total Roberto Carlos. Quando eu acabei de escrever essa letra, pensei: "Caraca, essa deve ser a minha veia Roberto Carlos"."

Manifesto
D2 tenta fazer barulho não somente com a música. Numa espécie de manifesto que vem no encarte, exalta de Tom Jobim a Chico Science e prega: "É preciso escrever a nossa própria história... deixar de viver o sonho dos outros". "Todo mundo fica mais interessado na briga do casal do momento, na revista, do que em cuidar do seu casamento. Todo mundo fica preocupado com quem está fazendo mais sucesso do que em correr atrás do seu próprio sucesso", afirma.
"Eu gostaria de ter a classe da bossa nova, a malandragem do samba de terreiro e a agressividade do rock'n'roll". Para o ano que vem, já sabe o que quer: fazer shows de "A Arte do Barulho" no Brasil e no exterior e realizar o sonho de gravar um disco com João Donato.

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