O Dia da Consciência Negra, a ser celebrado amanhã, é feriado municipal em 360 cidades de 18 estados brasileiros. A data foi inicialmente escolhida em 1978 pelo Movimento Negro Unificado para lembrar o dia em que o líder do Quilombo dos Palmares, Francisco Zumbi, o Zumbi dos Palmares, foi assassinado, em 1695. A data será tema de diversos eventos pelo país.
Havia em Pernambuco, Minas Gerais, Bahia e outros estados cerca de 700 quilombos, 2,6 mil comunidades remanescentes e milhares de insurreições contra o jugo dos senhores de escravos, período que o sociólogo Clóvis Moura definiu como modo escravista colonial. Em 1971, ativistas do Grupo Palmares, do Rio Grande do Sul, chegaram à conclusão de que o 20 de novembro tinha sido a data da execução de Zumbi e estabeleceram-na como Dia da Consciência Negra. Em 2003, a Lei 10.639, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fixou a data como parte do calendário escolar.
Mas, apesar dessa agenda de eventos para celebrar a negritude, a nossa consciência negra é fenômeno novo entre as várias manias adotadas pelo povo. Hoje é chique ser black; é moderno cultivar os valores da cultura black, enquanto o fosso social entre brancos e negros (os pretos e os pardos juntos) mantém o apartheid brasileiro inalterado. O mito da democracia racial por aqui foi denunciado como mentira pela realidade socialmente perversa e pelos dramáticos indicadores sociais, que comprovam que negro no Brasil está associado à miséria e exclusão social.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que precisaremos de pelo menos 20 anos de políticas voltadas para as ações afirmativas para pôr brancos e negros em níveis mínimos de igualdade. Portanto, a lembrança de datas como esta tem um viés político muito forte: a resistência venceu a escravidão. Por isso, suas atividades vêm carregadas de tempero emocional. Dessa forma, o Dia da Consciência Negra traz consigo tantas e variadas atividades, como as marchas para aumentar o sentimento do pertencimento étnico, os protestos mais raivosos e justos e as homenagens aos homens e mulheres negros: Zumbi e Dandara, líderes da República de Palmares; Osvaldão, líder da Guerrilha do Araguaia; Machado de Assis, escritor; André Rebouças, engenheiro especialista em engenharia hidroferroviária e de portos; Chiquinha Gonzaga, compositora, pianista e primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil; João Cândido, líder da Revolta da Chibata, entre outros, que, de alguma forma, ajudaram na construção da riqueza da nação mais negra fora do continente africano.
E o maior significado desse dia é que, longe do ranço contra quem quer que seja, hoje a população negra, ou 49,8% do povo brasileiro, luta pelo cumprimento do plano de ação assumido, em 2001, na Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, e pelas propostas da Conferência Nacional de Promoção de Igualdade Racial, organizada em 2005 pelo governo brasileiro. Além disso, o Movimento Negro quer justiça social aos próprios negros, aos povos de tradição indígena e aos demais grupos que na construção desta nação-continente tiveram seus direitos violados. Ou seja, no século 21, o debate sobre as alternativas para o desenvolvimento sustentável, as soluções para superação dos conflitos étnicos e o combate ao preconceito e às desigualdades sociorraciais se dão entrelaçadas pelo culto à capacidade de resistência dos povos e pelo clamor por eqüidade. É inegável a herança africana na culinária, na dança, no ethos do nosso povo, mas é inegável também o atraso com que o Estado brasileiro trata essas questões. Às vezes, quando as assumem, o faz lentamente e de forma mais para negro ver do que para negro ter justiça e respeito de fato. |
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