A imprensa destaca, em apenas dois dias, três notícias de relevância social, todas ocorridas em Belo Horizonte: aluno espanca professor de escola estadual; rapaz de 15 anos foi flagrado com revólver calibre 32 na mochila; e, em outra escola da Região Norte, duas adolescentes ameaçam surrar a vice-diretora. Elas, de enorme gravidade, denunciam a violência na sociedade, os conflitos na convivência com a juventude, a perda de valores patriarcais, indispensáveis à saúde psicológica: autoridade, respeito, ética, obediência e hierarquia. O mundo ficou globalizado, mas perdeu as estribeiras: jovens agridem pais, desacatam professores, picham muros, queimam mendigos, estupram crianças, seqüestram namoradas, matam amigos, bebem e se drogam, sem freios sociais. Para piorar, há organizações que lutam contra as palmadinhas pedagógicas e educativas que os pais aplicavam nas crianças malcriadas; filhos da geração que nada podia, agora podem tudo: empurrar a mãe; desobedecer às ordens legítimas do pai; espernear nos shoppings centers, como se estivessem sendo agredidas; hostilizar professores; depredar escolas; e usar o sexo como arma para todas as guerras. Não há limites para a (má) educação. O ajoelhar-se nos grãos de milho atrás da porta transformou-se, agora, no cantinho do pensamento e reflexão. Voltamos ao tempo do “é proibido proibir”.
O pátrio poder foi transferido para os psicólogos e para a escola, sem vocação para substituir a autoridade do antigo pai, que, com um estalar de dedos ou com um olhar severo guiava a família. Embora hoje o pai seja mais próximo, mais lúdico e menos prepotente, a vida é mais confortável, mas insegura, porque convive-se com o abandono decorrente do individualismo, e exporta ao estímulo de bens apenas materiais. É necessário recuperar o vínculo familiar, com pais e mães reaprendendo a educar, com convicções, certezas e também dúvidas, para que os jovens reconheçam a alteridade e os nortes fixados, balizadores da conduta pessoal e moral. O declínio da função paterna instituiu mudanças profundas na família, cuja instância educativa tem seu pilar no conceito de valores e regras que sinalizarão o futuro das relações sociais. A sociedade é o resultado da ruptura de bases: precocidade do trabalho infantil; tolerância à falta de caráter; impunidade; separações conjugais quase sempre conflituosas; violência que ronda as casas, protegidas por arames e cercas elétricas; perda da alegria das brincadeiras de ruas, em que nasciam os laços de amizade; relações afetivas descartáveis; filhos mal-educados por programas de televisão perniciosos e que estimulam a erotização da criança. Enfim, o futuro da colheita depende do que plantarmos e das transformações que conseguirmos, ou, citando dois provérbios chineses colhidos do livro da Beatriz Coutinho e Cecília Caram: “Tecer uma rede é melhor que rezar por peixes à beira da água” ou “quando a raiz está firme, os galhos florescem”. |
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