Umbanda centenária

A denominação macumba tem, em algumas regiões brasileiras, conotação pejorativa
Alexandre Braga, Coordenador de comunicação da União de Negros pela Igualdade (Unegro)
O Brasil, maior país católico, tem uma religião de feições afro-indigenas e características nacionais. A umbanda, que completou 100 anos dia 15, tem 432 mil adeptos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com base no amor, na humildade e na caridade, essa religião superou todos os obstáculos como credo popular, haja vista os difíceis momentos em que sua prática virou caso de polícia, pois era proibida. Durante o Estado Novo, na década de 1930, Getúlio Vargas criou a Inspetoria de Entorpecentes e Mistificações para combater seus cultos, época em que eles aconteciam de forma clandestina. A umbanda, que significa para todas as bandas, nasceu no Rio de Janeiro em 15/11/1908, por intermédio do médium Zélio Fernandino, então com 17 anos, cuja inspiração para o início das práticas mediúnicas veio por meio do “caboclo das sete encruzilhadas”, que afirmara que estava vindo naquele momento para oficializar uma nova religião, em que não existiria nenhum tipo de discriminação e que estaria aberta para qualquer um. A umbanda é composta de um único deus (Olorum, que é o criador de tudo e todos), em que seus freqüentadores (os de “filhos de fé”) reverenciam entidades superiores denominadas orixás, sendo o principal Jesus (Oxalá).

A associação da religiosidade africana aos elementos do catolicismo ocorreu principalmente como estratégia de sobrevivência nas senzalas contra os maus-tratos e os castigos físicos impostos aos escravos, pois os senhores de engenho não admitiam cultos que não fossem a fé européia, nascendo daí o sincretismo religioso, pelo qual os negros associavam os orixás aos santos de seus senhores, mas na verdade estavam mesmo é praticando a fé dos ancestrais africanos. Essa fusão da umbanda com os elementos das culturas afro (jêje, nagô, banto e mina), pajelança, cardecismo, catolicismo e da natureza são as bases dos rituais umbandísticos. Os cultos da umbanda eram feitos em tendas, posteriormente terreiros. O primeiro deles foi o Centro de Umbanda Nossa Senhora da Piedade. E a religião passa a ser conhecida como macumba, tipo de madeira usada para fabricar o atabaque, principal instrumento musical tocado na umbanda e outras religiões de matriz africana.

Atualmente, a denominação macumba tem, em algumas regiões brasileiras, conotação pejorativa. Em 1946, graças à emenda na Assembleia Constituinte proposta pelo escritor-deputado Jorge Amado, do então PCB, a liberdade de culto foi aprovada. Porém, foi o ex-governador de São Paulo Adhemar de Barrros “o defensor da umbanda”, apoiando, nos anos 1950, os terreiros para que eles se registrassem em cartório, inaugurando um breve período em que a religião deixou de ser “caso de polícia”. Depois do Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965, a Igreja Católica passou a dialogar com as religiões de inspiração afro-indígena, mas o preconceito e a perseguição só começam a ser tipificados como crimes de intolerância religiosa a partir da promulgação da Constituição de 1988.

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