Hip-Hop com sotaque gaúcho


por Especial Hip-Hop*


Manos e minas gaúchos estão se envolvendo e produzindo muita cultura em diversas cidades de todo o Estado, das mais variadas formas, mas sem perder o eixo central de fazer o Hip-Hop crescer.


Através de festas hip-hop muitos jovens têm entrado em contato com os protagonistas da cena artística local como em Passo Fundo, onde Lela e a rapa da Nação fazem a programação que contou já com diversos nomes como o DJ Dee Ley da banda Da Guedes, ainda esse mês estará se apresentando na cidade, ou em Stª Cruz onde a Lisy também produz boas atividades da qual pude participar da última, com dois grupos de Rap um local (DMD) o outro era a Família Seguidores q recém lançou seu CD.

Outro que lançou CD foi o W-Negro de Porto Alegre, que aparece sentado em um tanque de guerra na capa do seu 1° álbum, produzido todo de forma independente.

Também acontecem festivais e grandes eventos como a ''Semana do Hip-Hop de Porto Alegre'', que com grande participação da Nação Hip-Hop Brasil na elaboração e aprovação da lei que hoje faz da segunda semana de Maio data permanente como parte do calendário oficial da cidade tendo acontecido esse ano a 1ª edição na data de Setembro. Está rolando um ''Festival de Funk e Hip-Hop'' para novos talentos e ainda um evento que chega à sua 5ª Edição ''COHAB é só Rap'' que contou com vários grupos locais e uma atração de São Paulo, o grupo RZO.

Posso citar mais festas que integram o movimento aqui como a Peleia de Mc's, o equivalente gaúcho a Batalha do Real carioca e da rinha de mc's de São Paulo, com produção do Nego Robson, ou a festa boa do Fabrício milk-shake, entre outras espraiadas nesse nosso Rio Grande. Mas também informo o encerramento das atividades do Gê Power's, onde muitas pessoas conheceram o hip-hop e que sempre vai ser referência em relação às festas de rap e Black-music em Porto Alegre. A cena mais Undergroud acontece todas as noites em esquinas de becos e avenidas, com batidas de beat-box e freestyle, já clássicos de lugares como a Cidade-Baixa de PoA, por vezes um palco aberto, onde diversas cabeças observam atentamente as rimas e batidas se enturmando numa grande roda.

Na área da dança, têm acontecido batalhas em diversas cidades, como em St° Ângelo no Fórum de Juventude onde em caravana da Nação o pessoal da Restinga Crew disputou com as crews locais, ou também em Rio Pardo onde recentemente aconteceu a 1ª batalha de b.boy da cidade, por iniciativa dos manos da região, como o b.boy Roger. Na capital aconteceram batalhas nos eventos maiores como a própria semana do hip-hop. Este elemento tem se destacado na área de oficinas, sempre com grande interesse da gurizada.

Aqui também o Graffiti tem aberto muitas portas, entrando de vez no circuito nacional com projetos como ''6 Direções'', que fez um grande intercambio de artistas da cena de todo o país, incluo também nessa lista a expo ''Transfer'' numa retomada do Graffiti as galerias de arte, ou a grafitagem da Art do Risco nos muros da fabrica da Coca-Cola no RS quebrando tabus do receio de grandes empresas em investir no talento local, contamos com visitas ilustres de toda a parte da America Latina e destaco a presença do grafiteiro Daze de NY, que trocou muita experiência com a turma daqui. A criação da galeria publica de street art na estação de trem e outros encontros que rolaram em diversos cantos da cidade e do Estado, bem como oficinas e palestras coroando um bom momento do Graffiti regional.

As lojas e grifes próprias do hip-hop tem espaço no mercado aqui no Sul, com produtos cada vez mais atraentes, que vão de camisetas e bonés, casacos e calças e até tênis e meia como no caso da ''Di Boa'', contamos com as lojas ''Ponto Favela'' e ''Neurose'', a grife ''Perifa'' e a nova loja daqui da cidade a ''Bronx'' para encontrar as roupas largas características da cultura de rua.

Muito de minha atuação é voltada pra ação social, então cito os acontecimentos que achei mais positivos nessa área de atuação como o filme ''Vitimas do Crack'' do Rapper Dogg, como os ''Domingos Alegres'' com o Edinho Dekabrada, que produz diversos grupos no seu estúdio e lembro bem as incontáveis oficinas e palestras que a Nação desenvolveu em escolas de 1° e 2° grau da rede publica, e em faculdades como UFRGS, PUC e IPA e em Caxias com o Duda e o Caramujo, já tendo atingido milhares de jovens com o 5° Elemento, o Conhecimento.

Uma das melhores coisas na cultura é a ampla rede que ela forma, e que visualizada, pode criar grandes fenômenos como o ''Sarau Cultural do Bezerra'', que nasceu nesse ano e que da mesma forma que o sarau da ''Cooperifa'' em São Paulo, tem como protagonista a literatura marginal, e no dia 07 de novembro aconteceu uma edição na ''Feira do Livro de Porto Alegre'', com a participação dos três mestres de cerimônia: Washiton Cucurto, que criou um sarau semelhante na Argentina, Sergio Váz que trouxe o sarau pra dentro das favelas paulistas e Mano Oxi, que junto com a Nação adaptou o sarau pra o nosso sotaque gaúcho. Relembro nossa participação na construção da Marcha Zumbi dos Palmares, que resultou em um dia de alforria, em parando o centro de Porto Alegre.

Organizações de hip-hop são importantes pra nós, porque mostram nossa capacidade de interagir com a sociedade, com governos e com a iniciativa privada e ai temos o exemplo da ''Sitio'', temos também a ''Alvo'' e a ''Enxame'', os grafiteiros da ''Circulando'', e ainda ''470 Kasulo'', a ''Militantes da Sul'', a ''CUFA'' e o ''MOHHB'' estão presentes no Estado e a ''Organização Cultural movimento Hip-Hop ''| do programa ''Hip-Hop Sul'', existem alguns programas em rádios abertas que tocam Rap's entre a onda ''Tsunami'' de rits de Funk, e mais algumas rádios comunitárias e rádios ON-LINE, com maior liberdade de programação, fazendo a rede de mídia e comunicação de massa, além, são claro, das comunidades, blogs, my spaces e sites que circulam na internet hoje, como o Adversus do Nitro Di.

Visualizo que após as eleições desse ano o Hip-Hop teve um saldo muito positivo no estado tendo candidatos a vereador em quatro cidades, incluindo Porto Alegre, são eles: Mano Oxi(POA), Valter (Campo Bom), Paraiba (Taquara) e DJ Gutti (Sapucaia), nenhum deles saiu eleito mas serviu para afirmarmos que o povo tem legitimidade para assumir o poder, que sempre esteve do outro lado,que nunca foi do gueto, nunca foi da periferia, e que vamos usar esse poder para quem precisa dele, que são emergencialmente as favelas.

Já fizemos historia e vamos nos empenhar de forma triplicada agora que já temos um piso, agora que temos um chão, uma base de referencia da nossa influência nessas cidades, e ampliar nossas fileiras para os próximos desafios que virão, seja em Alvorada com o White Jay nos eventos da praça da 48, seja em São Leopoldo com o SMUA e sua luta pelas entradas adaptadas para deficientes físicos nos ônibus e estabelecimentos da cidade.

A Nação tem sido um grande diferencial por trabalhar na capacitação dos seus quadros e tem realmente interferido na realidade do Hip-Hop do Sul do país como na aprovação da Lei da ''Semana Estadual do Hip-Hop'' aprovada recentemente na Assembléia Legislativa, apresentada pela Nação ao Dep. Raul Carrion e por ele levada a votação.

Encerrando esse depoimento vejo um momento ideal para dizer que através dos elementos do Hip-Hop resgatamos a auto-estima e incluímos na sociedade diversos jovens que estão em situação de risco, oportunizando a eles protagonizarem essa transformação. Avançando cada vez mais na ação coletiva e na capacitação e profissionalização, tendo isso como um processo natural, que pode ser acelerado, conforme nosso próprio esforço. Um Grande ano está vindo e no RS muita confiança e determinação pra encarar esse novo período do seculo21, onde um Presidente negro acaba de assumir o centro do império capitalista mundial. Os ventos da mudança...

Lucas Veiga, Kuca 3000, graffiteiro ArtdoRiscoCrew – PNQ CREW, é também diretor de comunicação da Nação Hip-Hop Brasil de Porto Alegre. Kuca3000@hotmail.com





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