Jackson Romanelli/EM/D.A Press | | Desde que entrou para o Bolsa-Família, Cleonice, que vive no Jardim Felicidade, na Região Norte de BH, conseguiu acesso a educação, saúde e moradia para os filhos | Cinco anos depois de criado, o maior programa social do país quer ir além da distribuição de renda. Iniciativas de prefeituras e governos estaduais apoiadas pela comunidade começam a traçar novo rumo para a vida dos 11,1 milhões de famílias brasileiras atendidas pelo Bolsa-Família, do governo federal. Essas ações buscam fortalecer a rede de proteção social no país, reduzindo desigualdades e garantindo muito mais do que o dinheiro para o mês. È que neste novo caminho as famílias descobrem a cidadania, por meio do acesso a saúde, educação, trabalho, moradia.
Em todo o país, surgem novos modelos que dão outro sentido ao Bolsa-Família. No Brasil, foram cadastrados, em 2008, pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), responsável pelo programa, 224 projetos. Em Minas, já são quase 50. Em Belo Horizonte, um plano de ação mostra que o envolvimento com o programa garante autonomia às famílias.
No pequeno município de Cruzília, no Sul de Minas, uma padaria comunitária e um centro de artesanato dão fôlego aos jovens que buscam qualificação profissional. Os pães ajudam também a abastecer a rede municipal de ensino. Em Bonito de Minas, no Vale do São Francisco, uma ação conjunta entre o município e associações comunitárias conseguiu fazer o programa chegar a aqueles que desconheciam seus direitos.
Moradora do Conjunto Felicidade, na Região Norte de Belo Horizonte, Cleonice Batista dos Reis faz parte do grupo de 30 famílias atendidas pelo projeto-piloto Programa de Ação Familiar (PAF). A mãe de Laila, de 7 anos, Enoch, de 9, e Mateus, 11, recebe mensalmente R$ 168 do governo federal e, assim como ela, alguns beneficiários do Bolsa-Família passaram a ser acompanhados de perto por um grupo de profissionais de diversas áreas. Eles identificam os principais problemas das famílias e estabelecem um plano de metas para resolvê-los em no máximo dois anos.
DIREITOS E DEVERES “É um acordo entre o poder público e as famílias. Todos têm direitos e deveres ”, explica a coordenadora do programa Bolsa-Familia da PBH, Flávia Julião. E nessas horas nem tudo é simples: “Estamos falando de pessoas muito vulneráveis e nem sempre é fácil a família reconhecer e contribuir para as mudanças. Temos que fazer um trabalho de conscientização e convencimento”.
No caso de Cleonice, a maior preocupação era com a saúde do filho do meio. Enoch tem uma doença rara. Antes, a mãe tinha dificuldades em encontrar ajuda. Agora, a batalha é prioridade. “Eu tinha muitas dúvidas e não sabia quem procurar para resolvê-las”, diz. Nos últimos anos, o garoto começou a freqüentar a escola, tem acompanhamento médico e em breve deve começar tratamento com uma fonoaudióloga. Os avanços no desenvolvimento de Enoch são motivo de comemoração para toda a família. “Aos 5 anos, ele falou mamãe. Depois, começou a andar, brincar e já sabe até jogar no computador”, conta Cleonice.
A razão para tantas mudanças é a informação. Desde que entrou no PAF, Cleonice ficou sabendo que poderia buscar o apoio do poder público. Como não trabalha porque precisa cuidar do filho, ela conseguiu, além do Bolsa-Família, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), do governo federal, para o filho. Entrou na lista da PBH para ganhar uma moradia, já que a casa em que vive é invadida e foi interditada pela Defesa Civil.
A mãe que se desdobra para dar atenção aos filhos não fica mesmo parada. Faz trabalhos comunitários no bairro e participa de cursos promovidos pelo Centro de Referência em Assistência Social (Crass). “Não tenho preguiça de nada. Se pudesse, trabalharia”, diz. “Vou confessar para vocês: estava vendendo DVDs piratas, mas pensei melhor no exemplo que preciso dar para os meus filhos. Se é errado, não posso fazer, né?”.
A coordenadora do programa, Soraia Pereira de Souza, se emociona ao lembrar de como foi a chegada ao bairro da família de Cleonice. “Ela não tinha nada. Hoje, seis anos depois, todas as conquistas são mérito dela”, diz, orgulhosa. O trabalho desenvolvido no Jardim Felicidade também conta com a parceria de empresários e entidades organizadas.
RESPONSABILIDADE É DE TODOS
“O problema social não pode ficar só a cargo do poder público, porque é muito reduzido. A responsabilidade é de todos”, afirma Marcelo Mourão. No bairro, o PAF já conseguiu resolver problemas simples e que eram um verdadeiro transtorno na vida das famílias, por exemplo, a aquisição de azulejos para a casa em que viviam crianças com problemas respiratórios.
“Conseguimos o apoio de um empresário para azulejar alguns cômodos e as crianças pararam de sofrer”, lembra o coordenador do BH Cidadania, Marcelo Mourão. Em contrapartida, a mãe garante o acompanhamento médico e a freqüência escolar das crianças. Nos próximos meses, o projeto será implantado em outras áreas da capital: Pedreira Prado Lopes, Petropólis, Independência, Cruzeirinho, Vila São José e Alto Vera Cruz. |
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