O desenvolvimento da imprensa gratuita parece já ter chegado ao seu apogeu e começou o declínio. Em diversos países europeus, como a Dinamarca, já ocorreu uma saturação do mercado pelos tablóides gratuitos e, para complicar, com a atual crise, os primeiros a sofrerem serão os jornais distribuídos nas portas do metrô ou nas caixas de distribuição nos pontos de bondes e ônibus.
Por Rui Martins, no Direto da Redação
Isso prova mais uma vez ser impossível se fazer uma previsão correta em matéria econômica. Havia gente jurando terem chegado ao fim os jornais pagos, não só pela concorrência dos portais informativos e interativos da Internet, como pela agressividade com que os jornais gratuitos vinham se impondo.
Eram conclusões apressadas, pois afinal os gratuitos não passaram de um quinto do mercado leitor, em termos mundiais. De acordo com uma pesquisa divulgada, em Madri, numa conferência sobre imprensa gratuita, além de terem cessado de ser impressos dois títulos de jornais, as tiragens ainda existentes na Dinamarca diminuíram de 2 milhões para 500 mil exemplares.
A presença de diversos títulos concorrentes, enormes tiragens para obter publicidade, estão provocando uma saturação que fragmenta a participação publicitária, não compensando as despesas. Em contrapartida, a imprensa paga tradicional, mesmo se perdeu leitores, dispõe de um tipo de financiamento mais seguro, calcado não só em publicidade como nas assinaturas de leitores, pagas antecipadamente.
Como se não bastasse a saturação do mercado, já evidente na Suécia, onde se criaram as grandes tiragens para os tablóides (os jornais de bairro brasileiros eram sem grandes ambições), as conseqüências das atual crise financeira poderão ser fatais para os jornais gratuitos. As economias ditadas pelas empresas já evidentes nos setores de formação de pessoal, seminários, simpósios, hotelaria, vendas de automóveis, e em outros setores, vai se fazer sentir em cortes nas verbas de publicidade.
Para complicar, haverá um aumento do preço do papel, em 2009, da ordem de 6% penalizando as tiragens astronômicas dos gratuitos. Porém, a saturação nem sempre levará ao abandono, pois muitos títulos poderão tentar uma reconversão em termos de internet, já que muitos prevêem uma substituição gradativa dos jornais papel pelos portais informativos e mesmo TVs via internet, podendo ser impressos ou só vistos na telinha do computador, logo acoplado ao ecrã plasma da televisão multifuncional.
No Brasil, a gratuidade da informação ocorre mesmo no fornecimento da matéria-prima, a notícia. De dez anos para cá, o serviço BBC Brasil tem se desenvolvido bastante, oferecendo gratuitamente a rádios, jornais e portais internet um serviço noticioso áudio e escrito.
Apesar de denúncias já feitas à Fenaj, ninguém parece levar a sério o dumping e a concorrência desleal dessa agência estatal estrangeira de informação, que chega a fornecer gratuitamente material de alto custo para rádios comerciais como a CBN, enquanto numerosos sites possuem o link ou janela para o serviço informativo da pátria do James Bond.
A questão poderia ser alvo de uma queixa na OMC, mas precisa ter o aval de um órgão sindical na denúncia de dumping. Por enquanto, alguns sindicatos e a Fenaj não deram resposta ao convite para acionar o mecanismo de controle do comércio internacional. Sabem que seriam alvo de uma forte campanha, paradoxalmente ditada pelos que defendem a unhas e dentes o liberalismo econômico.
Em síntese, parece que ninguém tem peito para enfrentar a estatal inglesa BBC, argumentando a boa qualidade do material por ela produzido, quando a questão não é essa, mas de concorrência desleal e de fonte estrangeira de informação.
E é essa a força da BBC — os patrões da mídia nem querem saber se o Foreign Office tem seu interesse na distribuição de material informativo para outros países. Para eles, o que interessa é o custo, e como esse custo é zero, ninguém mais quer ter correspondentes fixos no exterior, matando no ovo o desejo de uma experiência internacional de nossos novos jornalistas. E nessa questão de informação até que um pouquinho de nacionalismo não seria mal...
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