PICHAÇÕES : Confronto perigoso

Demarcação de territórios já começa a causar confrontos entre gangues de pichadores, que radicalizam o discurso para se impor nas ruas
Bernardino Furtado
Foto Sidney Lopes/EM/D.A Press
Placa de sinalização pichada em plena linha verde

Comando São Bento (CSB), Facção Terrorista (FT), Bonde do Arrastão (BA), Pit-Buls do Santa Efigênia (PSE), Tupi B. Essas são algumas gangues que disputam o espaço urbano e tentam demarcar territórios em Belo Horizonte. Às vezes se aliam para grandes jornadas de pichação ou se enfrentam para impor o domínio sobre uma área. Costumam simplesmente pintar em grandes formatos as siglas e os apelidos dos integrantes escalados para a pichação. Raramentee escrevem frases inteligíveis. Preferem letras distorcidas ou sinais que aparentemente nada dizem. Em alguns casos, porém, deixam recados como o recorrente ‘É nós’ ou um ‘Voltamos de férias’, possivelmente para anunciar uma retomada das pichações numa área da cidade.

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O Ministério Público já tem provas de que pichadores atacam os colégios onde estudam e casas de vizinhos. Mas alguns costumam ir longe para deixar sua marca. O Bonde do Arrastão, por exemplo, anuncia no Orkut ser uma comunidade de 384 membros, não necessariamente todos pichadores, e lista dezenas de bairros da cidade onde teria atuação. Uma demonstração da falta de apreço pela própria vizinhança pode ser vista no São Bento, um dos bairros mais nobres de Belo Horizonte, dominado por casas espaçosas, de alto padrão de acabamento, em ruas largas e arborizadas. As siglas CSB e FT estão por toda parte. No muro de uma única casa, na Avenida Bento Simão, é possível contar 121 blocos de pichações.

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O crime não é tão caro. Um tubo de 350 mililitros de tinta spray pode ser comprado sem dificuldade, em qualquer loja de material de construção, por R$ 10 a R$ 11 a unidade. Mas a pichação pode ficar mais barata se a opção for pelos rolinhos de pintura, normalmente usados para rodapés e frisos. Custam de R$ 2 a R$ 3 a unidade. Pode-se comprar tinta mais barata solúvel em água, e armazená-la em garrafas PET. Um cabo de vassoura serve para aumentar o raio de alcance do pichador.

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O professor Lincoln Martins, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dedica-se atualmente a estudar o desenvolvimento moral de jovens no ambiente das novas tecnologias da informação e diz desconhecer pesquisas acadêmicas sobre gangues de pichadores na internet. Segundo ele, estudos mais antigos sobre pichadores atribuem, geralmente, a prática a jovens da periferia das grandes cidades. “Mas não há limites sociais. A pichação nasce da necessidade de construção de uma identidade para o jovem, cada vez mais difícil hoje. Por isso, muitas vezes essa busca avança para a transgressão e a delinqüência. Segundo ele, o uso do Orkut é compreensível, uma vez que, para os pichadores, visibilidade é essencial.

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