Educação pelo rádio

Projeto do Uni-BH com Escola Silviano Brandão permite que alunos tenham contato com o radialismo, a tecnologia e a informação, incentivando-os a ler e aperfeiçoar o português
Ingrid Furtado
Emmanuel Pinheiro/EM/D.A Press
No laboratório do centro universitário, crianças de 10 a 12 anos se transformam em repórteres, aprendendo uma nova forma de comunicação

Gravador na mão e transformação na cabeça: está no ar um programa de rádio diferente e inovador. Alunos de escolas públicas de Belo Horizonte trocaram o lápis e o papel por tecnologia e informação. Matérias radiofônicas produzidas por repórteres mirins mostram a capacidade e o interesse de crianças em contar histórias que envolvem a própria comunidade e o universo infantil. Há um semestre, a parceria de sucesso entre o Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) e a Escola Estadual Silviano Brandão, no Bairro Lagoinha, na Região Nordeste da cidade, vem mudando a rotina de estudantes de 10 a 12 anos e mostra a eles a importância do estudo. Segundo os alunos, a principal mudança foi o interesse pela leitura e a necessidade de aprender bem a língua portuguesa.

O projeto de Extensão do Uni-BH Radioescola Ponto Com é veiculado pela internet, no blog criado especialmente para o programa (www.radioescolapontocom2008.blogspot.com). Este ano, a parceria contou com a participação de 19 alunos do 5º e 6º ano do ensino fundamental. Durante seis meses letivos, eles aprenderam locução, como entrevistar e editar e tiveram aulas sobre a história do rádio. A coordenadora do programa e professora do curso de jornalismo Wanir Campelo Siqueira conta que as crianças produziram cinco matérias de acordo com o tema proposto: Em nome do pai, do filho e do neto – O que o rádio produziu para três gerações. Os programas têm de 3 a 10 minutos de duração.

O projeto é aplicado há quatro anos e era desenvolvido com instituições particulares. Mas este ano é a primeira vez que uma escola pública tem acesso às atividades. “Conversamos com a direção da Silviano Brandão e houve interesse imediato. Depois de uma seleção feita pela escola, passei a dar aulas sobre a história do rádio, as transformações desse veículo de comunicação e o modelo usado até os dias atuais. A partir daí, oferecemos a infra-estrutura de nossos laboratórios e cada grupo de crianças recebeu gravadores para entrevistas. Eles buscaram informações sobre o assunto dentro da própria família e na comunidade”, explica a especialista.

Com o material em mãos, as crianças partiram para a terceira etapa do processo. Acompanhados pelos monitores do Uni-BH, fizeram o texto e adaptaram as informações ao formato de rádio. “Grande parte dos alunos mora em área carente e de risco social. Fiquei encantada com o compromisso, educação e a responsabilidade deles. Não havia apatia em nada. Tudo o que era proposto faziam com prazer e vibração. Trabalhar desse jeito é muito bom e o retorno é grandioso. Nosso esforço frutificou, pois despertamos neles o interesse pela informação e também pelos assuntos de cidadania”, afirma Wanir. Ano que vem as vagas serão duplicadas e 40 novos alunos terão acesso à iniciativa.

A vice-diretora da Silviano Brandão, Maria das Graças Ferraz, diz que a escola participa do programa do governo estadual Escola Viva Comunidade Ativa e afirma que as mudanças nos estudantes foram nítidas. “Todos os interessados foram selecionados por meio de uma redação. Fizemos questão de escolher não somente aqueles que foram bem, mas também os que precisavam de incentivo. O resultado não poderia ser melhor. Eles melhoraram em português e tiveram muito mais interesse por livros. O melhor é que estimularam outros colegas a participar. Eles nunca tiveram acesso ao ambiente universitário. Agora, têm uma referência e descobriram que o estudo é o caminho certo para vencer na vida.”

TIMIDEZ A estudante Stephany Cristina dos Santos Cruz, de 11 anos, não titubeou e já escolheu a profissão: “Quero ser jornalista”. Ela conta que percebeu a importância da notícia e venceu a timidez ao entrevistar as pessoas que precisava. “Percebi como é difícil fazer um texto jornalístico. Tenho de ler mais e saber muito português. Agora, presto mais atenção no que está se passando ao meu redor”, diz. O colega Felipe Andrade de Carvalho, de 12, mora no Bairro Bonfim e se empolgou com os bastidores do radialismo e achou engraçado ouvir a própria voz. “Aprendi como são feitas as publicações e as curiosidades. Me considero um repórter, mas tenho que grudar os olhos nos livros, pois sem estudo não dá para ser um bom profissional”, observa.

Desde o ano passado, a UFMG mantém também o Projeto de Extensão Rádio Educativa, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação. São 14 escolas públicas participantes e a previsão é que 140 estudantes aprendam a técnica do rádio. Com recursos estaduais, a idéia é que cada escola instale um estúdio de rádio integrado à internet.

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