João das Neves assina texto e direção do espetáculo A santinha e os congadeiros, que estréia hoje, no Centro Cultural de Contagem
| Rodrigo Albert/Divulgação | | O dramaturgo João das Neves formou o elenco da peça com representantes das guardas de congado das cidades de Contagem e Oliveira | A tradição centenária do congado em Minas Gerais ganha nova leitura com o espetáculo A santinha e os congadeiros, que estréia hoje à noite, no Centro Cultural de Contagem. Com texto e direção do dramaturgo carioca João das Neves e coordenação da cantora mineira Titane, que também assina a direção musical, a peça tem como matéria-prima uma história disseminada oralmente sobre o mito da imagem de Nossa Senhora do Rosário que se recusava a permanecer nas capelas para as quais era levada. O elenco é composto por 14 membros de guardas de congado da cidade de Oliveira.
“Esse é um mito muito rico, com versões e origens diversas. Essa é a mecânica da cultura oral. As modificações ocorrem em função das circunstâncias do momento em que o mito é transmitido. Não elegemos uma versão para ser trabalhada, mas, de toda forma, no espetáculo aparecem quatro. No decorrer do espetáculo, todas convergem para a mesma cena”, explica João das Neves.
O dramaturgo conta ainda que o primeiro dilema que surgiu logo no início da produção foi decidir entre atores e congadeiros para os papéis. “Optamos pelos congadeiros para que contassem sua própria história. Tentamos fazer com que percebessem que poderiam se expressar da forma como são, e não por meio de uma construção. Foi um período de trocas muito fértil”, lembra. Ainda assim, os atores tiveram noções de interpretação e improvisação.
MOMENTO Os congadeiros foram selecionados em guardas de Contagem e Oliveira. Todos passaram por iniciação teatral e formação em oficinas, que começaram em abril. Além de Titane, que capitaneou o projeto, participaram do processo a preparadora corporal Irene Zivianni, a assistente de direção Elisa Santana e as pesquisadoras Leda Martins (UFMG) e Pedrina de Lourdes Santos (guarda de congado Os Leonídios), além do figurinista Rodrigo Cohen e da artista plástica Madu Martins.
“Criamos diálogo entre a dimensão artística da vida e a religião. O espetáculo atende desejo muito grande não só de artistas, mas também dos congadeiros, que entendem que a Festa do Rosário, hoje, interessa a outros segmentos que não o deles. É um momento histórico e muito delicado. Os congadeiros estão se perguntando como devem compreender a própria festa deles nesse contexto”, avalia Titane. Segundo a cantora, o congado é fundamentalmente uma expressão da religiosidade, mas com uma estética de muito impacto.
Titane conta que parte do elenco integra grupo de contação de história (ainda sem nome), que percorreu escolas da rede pública de Contagem desde agosto mostrando a riqueza da cultura afro-mineira. O projeto será retomado ano que vem. Dia 29, A santinha e os congadeiros será apresentado em Sete Lagoas. Há pretensão de organizar temporada do espetáculo no próximo ano, mas ainda sem previsão de roteiro e datas. | |
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