Reflexão contra o racismo

Dia da Consciência Negra, comemorado hoje, é momento para que a sociedade discuta preconceito ainda existente no Brasil. Mês que vem, PBH lança plano municipal para promover a igualdade racial
Luciane Evans
Fotos: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Anderson e Ronier, do Grupo de Capoeira de Angola Meninos de Palmares, participam das festividades da cultura afro-brasileira

“Atualmente no Brasil, o racismo é o antigo chicote usado para bater nos escravos. Não entendo o porquê que brancos batiam nos negros. Por que não conversavam e eram amigos? O preconceito é uma arma.” O questionamento e o lamento são de Felipe Augusto de Souza, de apenas 8 anos de idade, que aprendeu na Escola Municipal Monteiro Lobato, na Região Nordeste de Belo Horizonte, assim como os colegas, que “o povo brasileiro é uma mistura de todas as raças”. “Cada um de nós tem um pouquinho de cada cor”, garante. As palavras maduras do garoto refletem o trabalho que é feito pela escola, que desde 2005 aplicou o tema Relações étnicas raciais nas disciplinas escolares. Hoje, data em que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, há muito o que se festejar, mas, mesmo com programas sociais, políticas públicas, investimento na saúde e na educação, a briga de cor ainda existe. “Mas um dia vai acabar”, sonha Felipe.

Nos últimos quatro anos, a Secretaria Municipal de Educação da capital (Smed) tem investido em ações para que a cultura negra ganhe as salas de aula. Para isso, a Smed, por meio do Núcleo de Relações Étnico Raciais e Gênero, distribuiu material didático que trata sobre o assunto para as 180 escolas municipais e as 40 unidades de educação infantil. “A Lei Federal 10.639 exige a temática para os estudantes. Assim, estamos capacitando professores e doando às bibliotecas centenas de livros sobre a cultura afro-descendente. Os alunos negros têm a oportunidade de se verem retratados na história da humanidade não só como escravos”, explica Maria de Fátima Gomes, membro no núcleo.

Segundo ela, a intenção de incluir o tema em sala de aula não deve se limitar apenas à data de hoje. “É um assunto que tem de ser tratado o ano inteiro, associando-o às disciplinas escolares”, alerta. O exemplo vem da escola de Felipe, a Monteiro Lobato, que tem 250 alunos, a maioria negra, e desde sua fundação, em 2005, trabalha com os alunos a cultura afro-descendente nas mais variadas formas.

Aluna da Escola Monteiro Lobato, Amanda Machado lê livros que contam sobre suas origens

“Trabalhamos a identidade, o contato um com o outro, o respeito. Muitas vezes, há um isolamento de grupos raciais, o que não ocorre aqui. Os meninos e meninas com idade de 3 a 6 anos crescem conhecendo e valorizando a cultura negra, o que os tornam mais humanos”, diz a professora de Relações Étnicas Raciais, Edinéia Aparecida Dias. Para a aluna Daniela Bruna Ribeiro, de 8, as aulas permitem conhecer novas culturas, que muito têm a ver com o Brasil. “O livro que mais gostei de ter lido foi a A África está em nós, de Roberto Benjamin. É lindo e muito rico”, ressalta Amanda Vitória Santos Machado. Thales Oliveira, de 9, adora maracatu, que aprendeu a dançar e cuja história agora conhece. “A cor da pele pode ser até diferente, mas dentro de nós somos todos iguais”, comenta.

POLÍTICAS PÚBLICAS

No mês que vem, a Coordenadoria para Assuntos da Comunidade Negra da Secretaria-Adjunta de Direitos e Cidadania lançará o Plano Municipal de Promoção da Igualdade Racial, contendo todas as políticas públicas desenvolvidas em Belo Horizonte e as que serão implantadas em prol da comunidade negra. “As ações foram feitas para o resgate da cultura e inclusão das comunidades na sociedade. Há 10 anos, criamos a Escola Profissionalizante Raimundo da Silva Soares, voltada para jovens da Pedreira Padro Lopes, que visa preparar pessoas carentes, não só negros, para o mercado de trabalho. Em 2007, foi criado pelo prefeito um decreto que estabelece políticas de combate ao racismo”, ressalta Maria das Graças Rodrigues, responsável pela coordenadoria.

Segundo ela, em 2005, durante a Conferência Municipal da Promoção da Igualdade Social, foram debatidas as reivindicações das comunidades negras de BH na saúde, educação e políticas públicas, assim, o plano municipal vai tentar atendê-las. Maria das Graças acredita que por meio das políticas públicas o racismo deixará de existir. “Ele ainda ocorre, infelizmente. Mas é a inclusão na saúde e na educação que muda o cenário. Se quisermos avançar nessa história, o caminho é fortalecer a cultura afro-descendente, dando a ela visibilidade dentro de todos os grupos da cidade”, aposta.

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