Para MV Bill, a concentração de renda e a má distribuição das riquezas estão no cerne da maior parte dos problemas que repercutem diretamente na qualidade de vida da população e na atual situação de extrema pobreza e falta de perspectivas da infância brasileira. “O hip hop não pode assumir a responsabilidade de resolver a favela. Mesmo porque a maioria dos caras do rap não tem como resolver a própria situação. A maioria lança disco e vira camelô. Não dá pra ajudar os filhos dos outros quando não há condições para cuidar dos que estão em casa”, constata.
No rap e na militância política, MV Bill, que se consagrou pela radicalidade das idéias que defende, foi protagonista de ações contundentes, como o projeto Falcão – Meninos do tráfico. Em três livros publicados, CD e documentário exibido em horário nobre pela Rede Globo, ele denunciou a situação de abandono de milhares de crianças e adolescentes brasileiros aliciados pelo tráfico de drogas nas periferias do país. Na época, ele repetiu inúmeras vezes que, a partir daquele momento, não seria mais possível às autoridades e à sociedade negar a existência de um problema crônico. Depois de 10 anos lidando com este e outros desafios na Cufa, ele reconhece que o pior tem sido entender que, por mais que se faça, sempre faltará muito a ser feito, porque as iniciativas são isoladas. “Muitas vezes temos a impressão de estar enxugando gelo.”
A compensação, diz, está na satisfação de cada criança agraciada pelos projetos desenvolvidos pela central, da culinária à produção audiovisual. “Fazemos o que está a nosso alcance, de acordo com a realidade.” O rapper reclama que a desigualdade social e econômica só é tratada como problema de Estado quando ultrapassa as fronteiras da periferia e alcança a classe média. “Isso entristece, porque mostra uma hipocrisia muito grande.” E aponta o investimento na educação como o caminho mais longo, mas essencial. “Essa é a única maneira de tornarmos o Brasil viável”, conclui. |
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