Repressão a Sujeira

Ministério Público Estadual tem provas suficientes para denunciar gangues de pichadores que se exibem na internet e fazem apologia ao crime
Bernardino Furtado
Sidney Lopes/EM/D.A Press
O zelador josé gonçalves observa caixa d%u2019água pichada em prédio da avenida cristiano machado
A impunidade das gangues juvenis de pichadores da Região Centro-Sul está com o dias contados. É o que promete a coordenadora da Promotoria de Combate a Crimes Cibernéticos do Ministério Público Estadual, Vanessa Fusco. “Os pais desses menores podem ter certeza de que vamos agir e esperamos que a sociedade nos dê apoio, porque está em jogo a cidade de Belo Horizonte”, diz a promotora. Segundo ela, não se trata apenas do crime de pichação, porque está configurada nas mensagens das gangues na internet apologia a outros crimes e incitação à prática de delitos como porte ilegal de arma, roubo e tráfico de drogas. “Além disso, temos suspeitas fundadas de que integrantes desses grupos participaram de pelo menos um assalto à mão armada”, adverte Vanessa Fusco. A promotora diz que a ação deletéria desses grupos não deve ser menosprezada, até porque têm demonstrado uma grande capacidade de arregimentação de novos adeptos. O que inclui um menino, já identificado, de apenas 12 anos.

Com base nas 300 mensagens capturadas do Orkut nos últimos meses, a equipe da promotoria fez rastreamentos digitais e manipulação de imagens para descobrir a identidade dos participantes das gangues. Em alguns casos, os autores das mensagens aplicaram tarjas no próprio rosto nas fotografias. Graças a recursos de informática, foi possível remover essas tarjas. Em muitas situações, essa ferramenta digital não foi necessária. Os pichadores fizeram questão de expôr a identidade em plena ação criminosa, sem retoques e com boa resolução de imagem.

Segundo Vanessa Fusco, depois do início do monitoramento, algumas mensagens das gangues foram retiradas do Orkut. “Provavelmente, devem ter percebido que estavam sendo acompanhados”, especula. No entanto, outros grupos sequer se preocuparam com essa possibilidade. Muitas imagens reveladoras continuam na rede internacional de computadores e, tendo em vista a popularização do Orkut, acessíveis a milhares de adolescentes. De todo modo, o Ministério Público não precisa de mais provas para sustentar a autoria dos crimes de pichação, apologia e incitação.

Aparentemente sem nenhuma conexão com a atividade das gangues da Região Centro-Sul, na área do 34º Batalhão da Polícia Militar, com jurisdição sobre a Região Noroeste, há indícios de envolvimento de grupos de pichadores em cinco homicídios. O comandante do batalhão, tenente-coronel Cícero, se recusa a falar sobre o assunto, mas sabe-se que está em curso naquela unidade da PM um monitoramento de gangues não voltado especificamente para pichadores.

REVOLTA A atitude da população de Belo Horizonte em relação aos pichadores parece ter evoluído da revolta para a perplexidade e até para o desânimo. Gerente de uma empresa de consertos de filmadoras instalada na esquina da Rua Saldanha da Gama com a Avenida Cristiano Machado, a cerca de 50 metros da saída do Túnel da Lagoinha, Paulo Roberto Ribeiro conta que a fachada e as portas de aço foram pintadas em novembro de 2007. “Já no começo de dezembro estava tudo pichado. Ninguém vê esses marginais em ação e fica por isso mesmo. O melhor é deixar para lá, porque todos os comerciantes da Cristiano Machado estão com o mesmo problema”, afirma.

Paulo Roberto tem opinião diferente sobre o estado dos túneis do Complexo da Lagoinha. “É um patrimônio público, que beneficia toda a população e que estava limpo, bonito”, diz. Segundo o gerente, o local deveria ser vigiado sistematicamente. “Acho que a Guarda Municipal foi criada para proteger o patrimônio público e deveria ficar lá para evitar o vandalismo”, defende.

Instalada no Bairro 1º de Maio, junto da Avenida Cristiano Machado, a Escola Estadual Hilton Rocha cede uma quadra poliesportiva, recentemente inaugurada, para meninos das redondezas jogarem futebol. A diretora, Violeta Amélia Gonçalves, diz que a política de boa vizinhança não foi suficiente para conter o vandalismo na escola. Em agosto, a quadra estava com pintura nova. Duas semanas depois, começaram as pichações. Não contentes em emporcalhar a quadra, do piso às tabelas de basquete, os pichadores atacaram até a placa da escola, de frente para a avenida. “Não sabemos o que fazer, já que da nossa parte, que é conscientizar os alunos, sempre cuidamos”, diz Violeta.

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