De líderes e de liderança

Haroldo Vinagre Brasil, Engenheiro, professor universitário

Ao imaginar um líder agindo para mudar a realidade, me recordo da metáfora da mesa coberta de limalha de ferro de forma desorganizada, sob a qual alguém passa lentamente um ímã, fazendo com que todas elas se alinhem na direção norte-sul. Um líder é como um catalisador que acelera uma reação química; faz com que as coisas ocorram por intermédio das pessoas; ele tem seguidores e produz coletivamente resultados – todos são, por isso, um recurso escasso nas instituições e nos países. Por sua vez, a
liderança traduz sempre um compromisso e uma transação entre o líder, seus seguidores e o objetivo ou sonho que pretendem atingir. É um fenômeno situacional, de duração variável, mas sempre transitório. Mas a liderança está permeada pelas convicções firmes e sentimentos fortes dos líderes, visão para construir o futuro, capacidade de correr riscos e de vender idéias e coerência entre o que fala e o que faz. Ela se constrói numa experiência de vida rica e surge pela conjugação de fatores convergentes, numa determinada circunstância.

Basta-nos lembrar de Winston Churchill, João XXIII, Nelson Mandela, Franklin Delano Roosevelt, Charles de Gaule, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e de seus posicionamentos históricos. Churchill, que em várias situações se mostrou um político medíocre, foi o homem certo para enfrentar Adolf Hitler na 2ª Guerra Mundial. Já Roosevelt se fez o parteiro do renascimento norte-americano pós-crise de 1929. De Gaule, um especialista em guerra motorizada, pela sua capacidade de resistência na situação totalmente desfavorável em que se encontrava a França, derrotada e humilhada, foi a tábua de salvação daquele país no pós-guerra. Por sua vez, JK soube capturar as aspirações de desenvolvimento do Brasil e concretizá-las em torno do símbolo modernizante de Brasília. João XXIII forçou e abriu as portas e as janelas de uma Igreja mofada, para o mundo, fazendo-a inserir-se na imanência da história, a semelhança de Mandela, que foi capaz de derrubar o muro da intransigência racial do apartheid na África do Sul. Entre erros e acertos, esses líderes levam um grande saldo positivo de acertos. São, por fim, agentes de mudanças. Para Truman, liderança é a habilidade para conseguir que os homens façam gostando coisas de que não gostam.

Barack Obama, pela sua trajetória de vida e pelo perfil de estadista que manteve durante os 21 meses da campanha presidencial dos EUA, parece ser um líder capaz de conduzir a República do Norte por novos caminhos, que não aqueles trilhados pelo seu antecessor George W. Bush. Fazendo-se o presidente da mais poderosa nação do mundo, é de esperar que intua estarmos em um mundo multipolar, que, para a solução de seus problemas, exige muito diálogo e nenhum posicionamento unilateral. As duas derrotas sofridas pelo seu país no Vietnã e no Iraque, os fracassos em Doha e da Alca, devido à intransigência nas posições assumidas, apontam para a impossibilidade, hoje em dia, de uma postura do eu sozinho. Há males que vêm para o bem: só um Bush possibilitaria um Obama.

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