Entre Santos e Orixás

Ailton Magioli
Netun Lima/Divulgação
Maurício Tizumba desenvolve elementos da cultura afro-brasileira

A experiência pioneira com o diretor João das Neves, em Besouro rei de ouro, fez o ator Maurício Tizumba reunir elenco integralmente negro no musical O negro, a flor e o rosário, que ele estréia hoje à noite, no Teatro Alterosa. Produto da militância do artista em torno da causa, o espetáculo leva para o palco seis contos da cultura afro-brasileira entremeados por dança e música, a última especialmente criada pelo próprio Tizumba.

“O musical mostra um pouco da minha própria experiência de vida, neto que sou de benzedeira com quem aprendi a rezar o terço, e filho de uma eketi do candomblé, que me ensinou a rezar o kibuko”, diz, orgulhoso, Maurício Tizumba, lembrando que a mistura de etnias proporcionada desde a travessia do navio negreiro pelo oceano Atlântico continua dando a tônica à questão no Brasil. “O candomblé está ligado à mitologia africana por meio dos orixás, enquanto o congado é uma manifestação da matriz africana ligada à religião católica”, distingue o ator as duas manifestações com as quais ele trabalha na nova encenação.

SEM PRECONCEITO Percussionista, cantor e ator que vem se especializando na montagem de musicais – de Hollywood bananas a Besouro rei de ouro, foram muitos os espetáculos do gênero que contaram com a sua participação –, Maurício Tizumba se tornou um dos principais nomes da atual cena mineira, com história diretamente ligada às manifestações afro. Segundo diz, em O negro, a flor e o rosário ele foge “do colorido e das coisas fáceis que não acrescentam nada nem colaboram para a queda do preconceito na sociedade”.

Voltado para o público infanto-juvenil, para o qual trabalhou em Pianíssimo, A turma do Pererê e Zeropéia, o novo musical de Tizumba recorre a personagens da cultura afro-brasileira como saci-pererê, Dandara, Zumbi dos Palmares, os orixás, com os quais o artista convive desde a infância, para levar à cena a temática negra na qual se aprofundou depois da leitura de livros de especialistas como Leda Martins e Glaura Lucas. Com cenário e figurino do artista plástico Eduardo Félix, que também criou dois bonecos para o espetáculo, e coreografia de Giovana Penna, da escola do Grupo Corpo, Tizumba sobe ao palco em companhia de nove jovens atrizes negras, com direção de Paula Manata, do Grupo Armatrux.

Além da filha Júlia Dias, de 18 anos, integram o elenco Josi Lopes, Ana Cecília, Elisa Sena, Tássia de Souza, Fernanda Patuá e as irmãs Viviane Moreira, Isabela Coelho e Ana Luisa. “É muito gratificante estrear no teatro ao lado de meu pai, que considero um artista fera”, comemora Júlia, que vê no musical a oportunidade de falar da causa negra por meio da arte. “O meio mais eficaz para sensibilizar as pessoas”, conclui a jovem atriz.

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