
"O que temos observado é que anteriormente eram
feitos apenas documentários, agora temos obras
em outras linguagens, caso das animações
e até experimentais"
Clarice Libânio,
coordenadora da Favela é isso aí

Tornar pública, incentivar e promover a já efervescente produção audiovisual da periferia é o principal objetivo do Festival Favela é isso aí – Imagens da cultura popular urbana, promovido em Belo Horizonte de hoje a sábado. Organizado pela ONG Favela é isso aí, coordenada pela antropóloga Clarice Libânio, o evento é apenas o primeiro de uma série, que pretende trazer para a capital mineira proposta que vem ganhando espaço cada vez maior no país, principalmente no Rio, onde ocorre o Visões periféricas, e São Paulo, que, na Mostra Internacional de Cinema, realizada mês passado, há o Kinoicos – Formação do olhar.
A abertura será hoje, às 21h, no Usina Unibanco de Cinema. O festival mineiro vai exibir 38 das 118 obras inscritas, em sessões gratuitas, amanhã e na sexta-feira, às 18h30, e no sábado, às 18h e às 19h. Clarice Libânio conta que, fora da competição, serão mostrados oito filmes realizados em oficinas da ONG Favela é isso aí. “São documentários e animações produzidos em BH. Não temos a intenção de formar documentaristas. Não são oficinas técnicas. A proposta é trabalhar o olhar de jovens sobre a comunidade, a cultura deles, mostrar as diferenças. Daí o fato de termos poucas aulas teóricas. É muito o mão na massa”, esclarece. De oficinas feitas na cidade nasceram três documentários e uma animação. “Das aulas promovidas em Jequitibá, temos dois documentários e uma animação”, revela a antropóloga, que anuncia para dezembro a realização de oficina em Santo Antônio do Monte. “Vamos envolver os jovens também com o patrimônio da cidade”, antecipa.
Clarice Libânio diz que, há dois anos, a Favela é isso aí vem participando dos eventos do Rio e de São Paulo (citados acima), com a obras produzidas em Minas. Agora, eles realizam o sonho de ter o próprio festival. “O que temos observado é que anteriormente eram feitos apenas documentários, agora temos obras em outras linguagens, caso das animações e até experimentais”, revela orgulhosa, acrescentando que o movimento é crescente em todo o Brasil, “pois muitas organizações não-governamentais, independentemente de suas áreas de atuação, têm investido na criação audiovisual, estimulando o olhar desses jovens”.
A seleção das obras para o festival mineiro teve curadoria do músico César Maurício, representando a ONG Favela é isso aí; de Marcos Fabrício, da Vivo; de Zé Marcos Barros, do Observatório da Diversidade Cultural; de Júnia Torres, do Centro de Referência Audiovisual (CRAV); de Mariana Tavares, da Rede Minas; e de Novato, poeta e morador da Vila 1º de Maio. “São trabalhos de Minas, Salvador, Fortaleza, Curitiba, Brasília e, principalmente, do Rio e de São Paulo”, aponta Clarice Libânio, lamentando que algumas produções (“muito interessantes”), que fugiam ao formato (tinham mais de 15 minutos), não puderam ser selecionadas. “A periferia do país está fervilhando de produções realizadas por jovens e coletivos. O festival é a oportunidade para dar vazão a estas criações”, afirma.
PREMIAÇÃO Além do prêmio concedido pela votação popular, que poderá ser feita nas sessões realizadas no Usina, a mostra competitiva terá três categorias: a Singular, que contempla vídeos que retratam os personagens e particularidades das comunidades periféricas; a Arte e cultura popular, com trabalhos sobre a arte e a cultura das comunidades, suas principais festas, manifestações culturais e artistas; e Imagens da periferia, com vídeos produzidos durante oficinas e projetos socioculturais realizados nas comunidades. O vencedor de cada categoria receberá R$ 1,5 mil, além do troféu, uma escultura produzida pelo artista Alla dos Santos, do Conjunto Felicidade.
Haverá, ainda, exibição dos filmes em 11 centros culturais de BH, fruto de parceria com a Fundação Municipal de Cultura, de amanhã ao dia 21. O festival promoverá também atividades paralelas gratuitas. Amanhã, às 14h, no Favela é isso aí, será realizada a palestra “Usos e aplicações da animação do mercado”, com Cristiane Zago, da Pictoz. Sexta-feira, às 9h, no Grupo do Beco, na Barragem Santa Lúcia, oficina de direção de ator para curtas, com Nil César. Ainda na sexta, às 14h, no Favela é isso aí, será promovido debate com os realizadores. E, no sábado, às 14h, no NUC, oficina de rap-reportagem, com Fábio Feter, da TV Brasil, de São Paulo.
Festival Favela é isso aí – Imagens da Cultura Popular
De hoje ao dia 15, no Usina Unibanco de Cinema (Rua Aimorés, 2.424, Santo Agostinho). Entrada franca. Informações: www.favelaeissoai.com.br.
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