As drogas em números

O uso de cocaína no Brasil nos transformou no segundo mercado consumidor das Américas, com cerca de 870 mil usuários
Edison Feital Leite - Juiz de direito da 2ª Vara de Tóxicos de Belo Horizonte
Recentemente, o Escritório contra Drogas e Crime das Nações Unidas divulgou um relatório pertinente, baseado principalmente nos questionários preenchidos pelos países-membros da ONU em 2007. Segundo sua avaliação, grupos do crime organizado internacional têm aumentado sua atuação no país, utilizando nosso território como corredor de transporte de drogas entre países produtores – Colômbia, Bolívia e Peru – e a Europa. Tal circunstância possivelmente fez crescer a oferta de cocaína no mercado doméstico brasileiro, já que foi registrado uma expansão no consumo desta droga principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país. Aliado a grande oferta, contribuiu para uma maior apreensão da droga durante o ano. No Sudeste, 3,7% da população entre 12 e 65 anos faz uso de cocaína; no Sul, o índice é de 3,1%; e, no Nordeste e no Norte, 1,2% e 1,3%, respectivamente. Esse fato se deve à constatação que no Sudeste se concentra o maior número de pessoas com boa capacidade financeira, que fazem uso da cocaína.

O Brasil se transformou no segundo mercado consumidor da droga das Américas, com 870 mil usuários, atrás apenas dos Estados Unidos, com 6 milhões. A cocaína, em razão da grande oferta, caiu de preço no mercado interno, permitindo o acesso de um número maior de pessoas à droga. Outro dado relevante apontado no relatório é que a apreensão do entorpecente diminuiu na Venezuela, no Equador, no Peru e no Brasil. Houve aumento nas apreensões apenas na Bolívia, no Chile e no Uruguai e, em menor escala, na Argentina e no Paraguai, levando à idéia de que aumentou o tráfico para os países do Cone Sul. Também foram registradas grandes apreensões de produtos químicos usados para a produção de cocaína, como é o caso do permanganato de potássio – no Brasil, foram 14 toneladas. Os pequenos laboratórios que existem no país transformam a pasta de cocaína em crack e normalmente se situam na periferia das grandes cidades e em sítios alugados nas proximidades das capitais.

A Colômbia é apontada como principal fonte da cocaína que chega à Europa, que as autoridades daquele país estimam que 55% da droga produzida na América do Sul é transportada pelo corredor México-América Central para a América do Norte e 35% daquela produzida é transportada da costa da Colômbia, da Venezuela, Guianas e Brasil, pelo corredor europeu-africano. Maior destaque é dado ao Brasil quando se trata das apreensões de cocaína realizadas na África, pois é apontado como o país de trânsito mais importante, seguido da Venezuela.

De acordo com o relatório, o Brasil é o maior país consumidor de opiáceos na América do Sul, com 600 mil usuários, ou seja, 0,5% da população na faixa entre 12 e 65 anos. A maior parte deles consome opiáceos sintéticos. Em relação à maconha, o Paraguai é tido como o maior produtor no subcontinente, seguido da Colômbia e, em menor escala, do Brasil. A maconha produzida aqui se destina ao uso próprio e não é suficiente para abastecer o mercado interno, daí a “importação” do Paraguai. O expansão na produção paraguaia de maconha e haxixe se reflete no aumento estimado em duas vezes e meia o consumo destes derivados de Cannabis no Brasil, em relação a 2001. A maconha é a droga mais consumida no mundo. No Brasil, em face do seu preço e em razão da nova lei de drogas, tem aumentado muito o número de usuários e, conseqüentemente, crescido o tráfico.

Quanto às apreensões de maconha, as maiores se deram no México, EUA, África do Sul, Maláui, Tanzânia, Nigéria, Brasil e Índia. A América do Sul, a região do Caribe e a América Central foram responsáveis por 12% de toda a maconha no planeta – somente no Brasil foram 167 toneladas. A quantidade ainda é pequena em relação ao total de droga que transita pelo território brasileiro e se deve principalmente à grande faixa de fronteira do país sem vigilância. A maioria das apreensões se dá em rodovias, quando a droga está sendo transportada para os grandes centros consumidores. Em 2006, cerca de 24,7 milhões de pessoas no mundo consumiram ecstasy. O uso de anfetaminas combinado com o de ecstasy ultrapassa os consumos de cocaína e heroína juntos. Até pouco tempo não havia grande apreensão dessa droga no país, que chega pela Holanda e é trazida por traficantes de classe média ou classe média alta, seus maiores usuários.

O documento sugere que, depois de um forte aumento no consumo na década de 1990, o ritmo de crescimento mundial tem diminuído. No entanto, ainda são registrados aumentos na América do Sul, Central e Caribe, sendo que Argentina, EUA e Brasil lideram os índices mais elevados do uso de estimulantes. Aqui, o consumo de ecstasy se dá principalmente nas camadas mais ricas da população e entre jovens freqüentadores de festas raves. Diante dos dados, verifica-se que aumentou bastante o o consumo de maconha e cocaína no país e que as autoridades responsáveis precisam empreender esforços para o combate ao narcotráfico, efetuando prisões, vigiando melhor nossas fronteiras, trocando informações com os países vizinhos, praticando uma política de prevenção através da conscientização a título preventivo dos cidadãos, sob pena de o país ser dominado por quadrilhas de traficantes, com reflexo nas instituições públicas.

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