A violência no Brasil é maior que aquela encontrada em zonas conflagradas espalhadas mundo afora e responsável pelo uso intensivo de equipamentos, pelo esgotamento da qualidade de vida, pelo medo difuso e aumento do consumo de medicamentos, sem falar nos óbitos aleatórios. Para se sentirem seguros, muitos têm enganado a si mesmos, adestrando cães, instalando câmaras, blindando automóveis e contratando funcionários. Esquecem que sistemas de proteção exigem o trabalho de operadores treinados, educados e submetidos à vigilância e à lei. Abordagens da segurança pública baseadas em dados precários e em críticas tímidas obnubilam o nexo entre violência e deseducação, como se observa no trânsito, por exemplo.
A transformação mundial do ambiente cultural ocorrida pós-guerra fria exauriu narrativas tradicionais que ofereciam certezas e confortos. O mundo surgido desde então se caracteriza pelo abandono de rotinas, pela precariedade das coisas e costumes, pela erosão da autoridade e pela desconfiança do próximo. Particularmente no Brasil, à cultura do apadrinhamento e à corrupção generalizada, deve-se adicionar o culto ao sucesso a todo custo como elemento significativo para o enfoque da questão que afeta, principalmente, os jovens e o entendimento que eles têm da história, da existência, das instituições e da vida adulta. Igrejas, partidos e famílias encontram-se assediados por um conjunto de idéias que elegeram o indivíduo, seus desejos e caprichos, como absoluto soberano. Neste contexto, aqueles que não se colocam como objeto de prazer imediato – velhos, crianças, deficientes e o próprio meio ambiente – são estorvos com prazo de validade cujas margens de retorno são decrescentes e, para se ver livre deles, vale-tudo: envenenar, espancar, defenestrar.
O papel da educação se agiganta no momento em que a violência se transformou numa doença política. E o desafio dos professores não mais se resume em aprovar ou reprovar, mas ensinar crianças e adolescentes acuados pelo esfacelamento da família, pelo descrédito dos partidos e pela espetacularização da fé; por uma mídia que exacerba a sexualidade impondo padrões estéticos restritivos; pela raridade de exemplos de honestidade e seriedade e pelo esvaziamento de vocábulos como ética e compromisso. O fracasso escolar pode, paradoxalmente, ser induzido pelo mesmo circuito que deseja aplacá-lo. Garantir aos docentes salários atraentes como os que se quer, em tese, proporcionar aos discentes no futuro sinaliza para alunos e suas famílias o valor da dedicação aos estudos no longo prazo.
O Brasil criou a Petrobras, debelou a poliomielite e elaborou um projeto de combate à Aids internacionalmente reconhecido. Um país com tamanhas realizações não mais pode conviver com uma educação deste nível. Educação desacreditada, culto ao sucesso a todo custo, dificuldades para superar frustrações advindas da vida urbana – secularizada e solitária – formam um amálgama potencialmente explosivo. A violência dá prejuízos de milhões de reais. Escolas abandonadas, sensação de que estudar é inútil e evasão docente, também. |
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