O filósofo Jurgen Habermas, ao discutir os impasses da unificação européia, declarou que sua solução deve levar em conta o dado fundamental de que todos, sejam países ou pessoas, nunca dependeram tão estreitamente de todos. Era impositivo considerar que as nações mais desenvolvidas teriam de ajudar e esperar pelas mais atrasadas, para que a composição dos vagões não se rompesse. Além disso, acrescentamos nós, não se podem desprezar as diferenças culturais e a história de cada um deles, sob pena de jogarem fora as riquezas de cada identidade nacional. Todas essas considerações são válidas para os países individualmente, em particular aqueles que, como a Índia, a China e o Brasil, se constituem em verdadeiros continentes. Para que possamos evitar crises institucionais sérias, temos que implantar na sociedade uma ética de relações que leve em conta o fato concreto de que os recursos materiais e simbólicos são escassos, pertencem a todos e, por isso mesmo, devem ser distribuídos equitativamente entre os cidadãos – em particular os relacionados à educação, à saúde, à habitação e ao trabalho –, sem os quais não é possível o exercício completo da cidadania.
A partir da segunda metade do século 20, cresceu na humanidade uma consciência ecológica que pode ser resumida na seguinte frase de caráter quase religioso: Ou nos “salvaremos todos ou ninguém se salva”, o que inclui tanto as atuais como as futuras gerações. Desde quando Gagarin vislumbrou, no seu vôo espacial, que a Terra era uma linda nave azul, ficou claro para a humanidade nossa riqueza ímpar como planeta da vida e nossas limitações como fonte de sustentação dessa mesma vida. Essa ética ou moral social nas relações se realizará no século 21 por meio de ações individuais e coletivas, privadas e de governo, que, de forma consciente, conduzam a restrições na liberdade do “posso e tenho poder de fazer, mas não o farei porque afetará negativamente minha coletividade, meu país, o mundo”.
Quero votar em um candidato amigo ou meu parente, que, no entanto, sei que tem antecedentes criminais. Se o faço, certamente, estarei prejudicando minha comunidade. Saio de uma festa depois de beber além do normal. Se volto para casa dirigindo, corro o risco de matar muitos inocentes. Outro exemplo, esse de caráter coletivo, se refere ao assalto ao Estado, via corrupção, geralmente por aqueles mais bem situados financeiramente na pirâmide social, sejam eles da iniciativa privada ou do governo. Falando genericamente, o consumismo irracional de bens, que, às vezes, atinge níveis patológicos na sociedade moderna, traz sérias implicações para a preservação do meio ambiente e para um padrão de vida equilibrado e feliz. Há, pois, que reconhecer que nos encontramos cada vez mais acotovelados uns aos outros e, no futuro, habitaremos um verdadeiro “saco de gatos”, que só nos caberá a todos se formos capazes de implantar uma moral social responsável e inclusiva. |
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