A nova Lei 11.705, que altera o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), tem realmente provocado mudanças de hábitos na população brasileira. Desde que o consumo de qualquer quantidade de bebidas alcoólicas por condutores de veículos passou a ser proibido, vimos não apenas a redução do número de acidentes nas estradas e ruas de todo o país, como também passamos a ver mais mulheres no volante trafegando à noite, tendo ao seu lado, no banco do passageiro, o marido, o namorado, o amigo, um homem.
Se tivéssemos parado para observar, antes do dia 20 do mês passado, quando a lei foi aprovada, perceberíamos que muitos homens faziam questão de voltar para casa dirigindo, mesmo tendo bebido grande quantidade de álcool, em vez de entregar as chaves do carro à sua parceira. As mulheres, muitas vezes amedrontadas com o que lhes poderia ocorrer, acabavam aceitando serem conduzidas por eles. Afinal, essa era a ordem natural das coisas: cabia a eles a “direção”.
A nova lei tem mexido até com as relações de poder entre os pares. O problema é que, em muitos casos, a decisão ainda fica com eles. O que tenho visto são eles argumentarem que, como suas mulheres não bebem ou porque elas sempre beberam muito pouco, cabe a elas agora essa missão. Dessa forma, o sacrifício delas seria menor, caso optassem em se abster do álcool para voltarem dirigindo. E elas acabam aceitando, até porque estão se divertindo com a nova “tarefa”.
Bem ou mal, não deixa de ser um avanço, apesar das piadas que tal comportamento tem suscitado. Ouvimos coisas do tipo: “Dizem que a Lei Seca vai cair, porque está mais perigoso entregar as chaves para as mulheres que dirigir bêbado”.
São muitas as mulheres que adoram voltar para casa depois de uma festa ou de um passeio à noite assentada no banco do passageiro, inclusive eu. Podem dormir à vontade ou, caso não estejam com sono, descansar da correria do dia. Não estão deixando de tomar a quantidade de álcool que seus organismos suportam e que as apraz, e seus maridos têm feito o mesmo. Adotaram a tática de delegar a um terceiro a “direção” dos veículos, acrescentando outro ingrediente às suas relações. Ao que parece, para elas e eles, não haverá mais luta de poder nesse sentido, e pouco se importam se para chegar até aí foi preciso recorrer à força de uma lei. |
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