Já estão formalizados os registros dos que se propõem concorrer, nas eleições 2008, a uma cadeira nas câmaras de vereadores e na condução do Executivo municipal, como prefeito e vice-prefeito. Os candidatos declararam o seu patrimônio. As cifras se tornam dados interessantes de análise. Esta é uma exigência oportuna e um dado revelador de percursos. Também, o eleitorado passa a conhecer as cifras do dinheiro que vai sustentar os desdobramentos da campanha eleitoral. Estes números ajuntados somam cifras muito altas. O dinheiro usado na campanha tem como foco principal o convencimento do eleitor na sua liberdade de escolha. É desafiadora a necessidade de produzir uma linguagem e imagens que convençam o eleitor na hora de escolher. Este é um caminho. No entanto, não é o procedimento mais consistente em se considerando a importância das escolhas no processo eleitoral. O risco de manipulações e deturpações é sempre real. Espúrio é quando se usa dinheiro e comunicação para criar convencimento a respeito da própria candidatura com a produção da desmoralização do adversário político.
O processo eleitoral está, no entanto, ganhando também a sensibilidade dos órgãos judiciários que consideram o direito do eleitor de conhecer a vida pregressa, personalidade e biografia de cada candidato. Neste horizonte se situa uma mobilização em curso para que a sociedade civil ganhe mais aperfeiçoamento do processo eleitoral. Essa mobilização, por meio do projeto de lei de iniciativa popular (PLIP), visa a alteração da Lei Complementar 64/1990, que estabelece casos de inelegibilidade. Esta proposta quer legislação que torne inelegível aquele que for condenado em primeira ou única instância ou tiver contra si denúncia recebida por órgão judicial colegiado, pela prática de crime. Bem assim, parlamentares que renunciarem ao mandato para fugir da cassação. Na verdade, a busca na conquista deste passo remete a uma expectativa da sociedade civil, que é a operacionalização de uma reforma política mais profunda, tornando, por exemplo, o processo eleitoral mais democrático.
Na verdade, é grande o desafio de recompor o tecido esgarçado da cultura política na sociedade brasileira. Muitas providências precisam ser tomadas e muitos encaminhamentos criativos deverão inspirar este contexto político contemporâneo. Há um longo caminho para se reconquistar a perdida e indispensável credibilidade para quem exerce cargos públicos, delegados pelo poder popular na sua força de escolher pelo voto. É incontestável que nestes procedimentos todos é preciso considerar a centralidade do perfil moral de cada candidato. Uma eleição não pode ser vitoriosa simplesmente pela força dos conchavos políticos, ou mesmo pelas alianças partidárias. Menos ainda, um candidato eleito só porque apadrinhado. O exercício do poder político não pode dispensar a estatura e a configuração do perfil moral do candidato. Não basta, portanto, apenas construir um discurso ético e abordagens de caráter ético para a análise das situações e contextos sociais contemporâneos.
Essas abordagens éticas são indispensáveis em todos os sentidos, particularmente em se tratando de sua força formativa da consciência individual e coletiva. Por isso mesmo, é preciso intensificar o processo de formação ética na sociedade. Um processo complexo e abrangente que requer de todas as instituições e organizações uma considerável parcela de contribuição. Uma contribuição que inclui investimentos formativos permanentes, pela força da linguagem que modela a compreensão, bem como pelo desenho da organização do seu funcionamento, elegendo como prioridade a transparência de procedimentos e a capacidade de priorizar o que de fato conta mais para o bem comum, particularmente para os mais pobres. Em se tratando de candidatos, a focalização do seu perfil moral é determinante. Não é possível e viável fazer contemporizações.
Quem põe o seu nome na corrida eleitoral precisa ter consciência de que a alavanca mais importante de sua proposição é a sua conduta moral. É arriscado pensar que um candidato serve porque conta apenas com competência administrativa. Essa é indispensável. A experiência também conta muito. No entanto, tudo isso cai numa relativização perigosa quando o perfil moral do candidato não tem consistência própria e força de convencimento por si mesmo. Essa consideração vale agora nesta corrida eleitoral. É preciso conhecer quem é quem. Esse procedimento, levado a sério, para estas eleições, e para a cultura política contemporânea, poderá trazer efeitos importantes de configurar uma cultura política menos fisiologista e oportunista, cartorial e mesquinha. Essa é a cultura que impede mudanças mais profundas e rápidas. O serviço político, por sua importância, não pode ficar comprometido. É preciso conhecer de cada candidato as raízes do seu perfil moral. |
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