A vacina de prevenção contra os papilomavírus humanos (HPV), causadores do câncer do colo de útero, é uma importante aliada no combate à doença, segunda maior causa de mortes por câncer entre mulheres, ficando atrás apenas do de mama. A chegada de mais uma fabricante no mercado brasileiro promete fazer com que o preço da vacina, administrada em três doses, seja mais acessível.
A indicação da vacina, porém, é polêmica entre os especialistas, pois a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) somente autoriza o uso para mulheres com idades entre 10 e 25 anos. Alguns médicos, no entanto, prescrevem a droga para outras faixas etárias, como é o caso da coordenadora de pesquisa do Hospital Leonor Mendes de Barros, de São Paulo, Cecília Roteli. Ela alerta sobre a importância de todas as mulheres tomarem a vacina para evitar o avanço dos cerca de 15 tipos do papilomavírus humano oncogênicos.
Segundo ela, pesquisas vêm demonstrando a eficácia para mulheres de outras idades. “Não há restrições para o uso da vacina, embora seja mais eficaz para quem ainda não iniciou uma vida sexual. Todas as mulheres podem se beneficiar da vacina, mesmo aquelas que tenham se contaminado com um dos vírus, pois ela irá se proteger contra os outros tipos”, diz. Na avaliação de Cecília, o governo federal deveria, inclusive, desenvolver uma política pública para atender as mulheres que não possam comprar a vacina devido ao alto custo. Existem dois tipos de vacinas disponíveis no mercado. Uma delas cobre os papilomavírus 6, 11, 16 e 18, e sai por cerca de R$ 400 a dose; a outra cobre os vírus 16, 18, 31 e 45, e a dose é vendida por cerca de R$ 350.
Cristina Horta/EM/D.A Press |
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Iracema da Fonseca diz que acompanhamento médico e preservativos são as melhores formas de evitar a doença |
Por outro lado, a ginecologista Iracema Maria Ribeiro da Fonseca, presidente do Comitê de Patologia do Trato Genital Inferior-Coloscopia, aconselha estender o uso somente depois de autorizado pela Anvisa. Ela comenta que, mesmo a mulher que toma a vacina, precisa fazer anualmente o controle ginecológico, bem como usar preservativo. Segundo ela, diversos estudos têm mostrado a eficácia da vacina, que impede o surgimento de verrugas, lesões pré-malignas e malignas.
Segundo Cecília Roteli, cerca de 50% das mulheres com vida sexual ativa podem se contaminar pelo HPV. Não há sintomas claros da infecção, e a mulher pode sentir apenas um prurido ou ter corrimento. Muitas eliminam o vírus naturalmente, mas como não se pode ter certeza dessa possibilidade, o melhor é a prevenção.
A primeira vacina contra o HPV foi aprovada em 2006 pela Anvisa, depois de ter sido testada em 3,4 mil pacientes, em 15 centros. A indicação da agência reguladora é principalmente para adolescentes que ainda não começaram a vida sexual, mas há estudos para estendê-la a outras faixas etárias.
RECEITA A vacina deve ser receitada por um ginecologista, mas não é preciso fazer exame para tomá-la. Ela é administrada em três doses: a segunda deve ser tomada um mês depois da primeira e a terceira seis meses depois. Ainda estão sendo feitos estudos para saber se, depois de 10 anos, seria necessário um reforço. Até o momento, um estudo com mais de 700 mulheres de 15 a 25 anos, conduzido em 28 centros no Brasil, Canadá e Estados Unidos, com uma das vacinas demonstra 100% de eficácia por cerca de seis anos e meio.
Se a infecção com o vírus persistir, pode, no futuro, levar à formação de células anormais no colo do útero, que, com o tempo, pode evoluir para uma lesão pré-cancerosa ou cancerosa. Estimativas mostram que a cada dois minutos uma mulher morre no mundo por câncer do colo do útero. Cerca de 83% dos casos e 86% das mortes ocorrem em países em desenvolvimento, segundo artigo publicado no Journal of the National Cancer Institute.
De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), foram registrados em 2006 mais de 19 mil casos de câncer do colo do útero e cerca de 10 mil mortes em todo o Brasil. A vacina para prevenção pode ser encontrada nos principais serviços e clínicas do país, e também é comercializada na Europa, Austrália, México, Argentina e outros países da América Latina.
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