Caso de corrupção expõe 'guerra' na Justiça brasileira

O ministro da Justiça, Tarso Genro (à dir.) e o presidente do Supremo, Gilmar Mendes. Foto: Agência Brasil
Gilmar Mendes (à esq.) e Genro divergem sobre operação da PF. Foto: Agência Brasil
As sucessivas detenções e liberações do banqueiro Daniel Dantas, preso com outras 23 pessoas acusadas de corrupção e formação de quadrilha na semana passada, desencadeou uma autêntica batalha no seio do Judiciário brasileiro, afirma uma reportagem publicada na edição desta quarta-feira do jornal espanhol El País.

O diário destaca a troca de farpas entre o ministro da Justiça, Tarso Genro, que apoiou a operação Satiagraha, da Polícia Federal, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que mandou soltar Dantas duas vezes.

"O Supremo justificou a decisão criticando o fato de que o banqueiro tenha aparecido em frente às câmeras algemado", diz o El País.

“Tarso Genro retaliou, dizendo que a lei é para todos e que as algemas são as mesmas para pobres e ricos, negros e brancos.”

Mendes rebateu, dizendo que Genro “não tem competência” para opinar sobre o assunto, destacou o diário espanhol.

O El País afirma que a disputa interna no Judiciário foi parar nas ruas de São Paulo, quando juízes e procuradores realizaram um ato de apoio ao juiz Martin de Santis, que mandou prender Dantas duas vezes.

“Um grupo de promotores de todo o Brasil redigiu um documento para recolher assinaturas com objetivo de pedir o impeachment do presidente do Supremo por crime de responsabilidade por ter liberado um acusado sobre o qual pesam mais de cinco acusações.”

O jornal afirma que agora os procuradores devem recorrer à pressão da opinião pública, que já "demonstra uma forte carga de indignação pelo fato de que a cada vez que a polícia detém um político ou uma pessoa de relevância, a Justiça o põe em liberdade, algo que não parece acontecer com as pessoas da rua".

Popularidade de Lula

O jornal francês Libération também destaca a operação Satiagraha da Polícia Federal, que ganhou “o apoio aberto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.

“Operações como esta vêm ajudando o presidente a recuperar sua popularidade, abalada pelo escândalo do mensalão", diz o diário francês.

"Lula garante que nenhum governo anterior combateu tanto a corrupão e enfatiza que a polícia não poupa nem o seu próprio partido".

O jornal destaca que "até os ricos vão para a prisão, nem que seja por algumas horas".

Apesar de progressos inegáveis, "os delitos financeiros e a corrupção de agentes públicos continuam alastrados e impunes", afirma o diário francês.

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