Civilização e Esperança



por Eduardo Bomfim*

Já disseram que os primeiros tempos do século 21 seriam de trevas, e que depois surgiriam as luzes. Mas o que estamos assistindo supera em muito as previsões. Nós esperávamos uma tempestade e surgiu quase um dilúvio. Nenhum continente escapa à onda de barbárie que se espalha por todos os quadrantes da terra.


Assim, o século que preconizavam como a era da harmonia e do fim da História revelou-se, até aqui, como mais um capítulo do longo e doloroso parto da humanidade em direção ao processo efetivamente civilizatório. Por enquanto, predomina uma epidemia de selvageria e exploração.

Quando o historiador britânico Eric Hobsbawm escreveu o seu livro “A Era dos Extremos”, sobre o que ele considerou o breve século 20, não poderia imaginar que os cem anos seguintes dariam, logo em seu início, um destacado capítulo sobre os períodos de crise da raça humana.

Não há duvida alguma, as pessoas em qualquer continente da terra estão atordoadas com os fenômenos sociais e naturais que sacodem as nações. Assiste-se a uma nova crise dos alimentos, da qual não se descarta a possibilidade da reedição de uma “nova Biafra”.

Os economistas tecnocratas fazem um imenso esforço para vender a idéia de que há uma “crise de demanda”, quando o que existe é a especulação em escala global, com comida.

Há um espetacular avanço na área da ciência e tecnologia, mas isso não é revertido para o beneficio da humanidade, ao contrário, observa-se a extraordinária centralização e concentração do capital e das riquezas em uma escala jamais vista.
Desde o começo do século 21, acontecem, aos montes, guerras promovidas ou incentivadas pelas grandes potências. Pode-se dizer que o complexo industrial militar está mais vivo que nunca.

Há uma crise moral aguda que se estende por todas as nações, gerando fenômenos de corrupção, banalização da vida, criminalidade em larga escala, instituições em débâcle.
Países são violentados e o espectro do genocídio ressurge como solução dos conflitos políticos. A ONU transforma-se em uma organização sem representatividade e reaparece, com novas roupagens, o velho fascismo.

É verdade que das crises surge o novo, porque os povos resistirão à loucura premeditada, da qual são vítimas no início do bárbaro século 21. Uma nova era de esperanças surgirá, acredito, após muita resistência e luta.




*Eduardo Bomfim, Advogado

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