Coisa chata, não é? É mesmo. Pior: na peleja eleitoral que se trava nos grandes centros urbanos – a experiência tem demonstrado, com raras exceções – valem mesmo os atributos e o desempenho do candidato e a capacidade da candidatura movimentar forças políticas e setores sociais.
Cá na província pernambucana ocorre uma polêmica em torno do apoio do presidente Lula – que, deva-se reconhecer, tem lá sua influência no sentido de o eleitor identificar de que lado está o candidato a prefeito. No caso, ser percebido como do lado do presidente da República ajuda muito em cidades cuja base social e política do governo se mostra sólida. Parcelas expressivas do eleitorado se colocam em apoio a Lula na proporção em que se sentem beneficiadas pelas ações de governo – pelo incremento da economia, que por aqui tem inserido muita gente no mercado de trabalho e na esfera do consumo, e por programas sociais.
Ajuda, mas não decide. A história eleitoral do Recife, por exemplo, nas últimas três décadas revela que nenhum padrinho, por mais forte que tenha sido, jamais garantiu a eleição de apadrinhados. Em 1988, Marcus Cunha, do PMDB, tinha o apoio de duas lideranças de grande apelo popular na ocasião, o governador Miguel Arraes e o prefeito Jarbas Vasconcelos, além de quase todas as correntes de esquerda. Perdeu a prefeitura para Joaquim Francisco, do PFL (sem padrinhos) por cem mil votos de diferença.
No pleito para governador em 2002 e em 2006 não foram poucos os candidatos alinhados com o presidente Lula que fracassaram pelo Brasil a fora.
Moral da história: na hora da onça beber água, se o candidato não tiver cativado o eleitor de nada adianta ter padrinho forte.
A outra bobagem é rebelar-se contra o uso da imagem de Lula pelo oponente – que aliás acaba e franqueá-la a todos os candidatos filiados a qualquer das mais de uma dezena de partidos que constituem a chamada base aliada. Novamente o Recife como exemplo: quem é hoje mais naturalmente identificado com o presidente, João da Costa, do PT (com o apoio de partidos como o PSB, o PCdoB e o PDT, dentre outros aliados do governo federal) ou Carlos Eduardo Cadoca, do PSC, cristão-novo nas hostes governistas na Câmara dos Deputados? Claro que o primeiro. No entanto, alimenta-se bobamente a polêmica que, no mínimo, a mais do que dispersar energias, se alguma alteração produzir na cabeça do eleitor será a dúvida, beneficiando provavelmente o social-cristão.
Pode parecer óbvio, amigo. Mas em política nem sempre o óbvio é tão facilmente assimilado - mesmo por gente experiente.
*Luciano Siqueira, Médico
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